Pé no chão e muito planejamento para reduzir custos e aumentar a liquidez. A fórmula para os negócios do próximo ano parece ser unanimidade entre os pecuaristas, especialmente os criadores de gado de alta performance. Assim, não se espera aumentar expressivamente a produção em 2017, mas manter a qualidade e a quantidade de vendas num patamar próximo ao deste ano.

É o caso do pecuarista Eduardo Folley Coelho, da empresa Genética Aditiva, um dos principais selecionadores de gado nelore. Depois de um 2016 cheio de cautela, Coelho entende que os principais entraves do negócio podem ser superados. Investidor em tecnologia, ele se manteve entre os principais vendedores de touros da raça no País. Liderando o sumário da Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), um dos principais termômetros de avaliação genética de touros, o produtor comercializou 960 animais e garante que obteve melhores resultados do que em 2015, de 5% acima. O projeto em 2017 é vender cerca de 50 touros a mais. “Diante de um mercado retraído, foi possível vender em 2016 graças à qualidade do produzimos”, diz Coelho. “O cliente somente retorna porque consegue vantagem financeira com o que compra. Essa é a minha aposta, porque o nosso sucesso depende do resultado que o cliente tem.”

Coelho conseguiu, ainda, agregar valor ao sêmen, onde é, pelo terceiro ano consecutivo, líder em vendas no Brasil. Somente do touro REM USP já foram comercializadas cerca de 100 mil doses neste ano. O animal possui filhos espalhados por todo o Brasil. Também investidor em fêmeas, o produtor tem vendido cerca de 120 por ano. Desse grupo, 70% são colocadas em leilões e 30% são vendidas na fazenda. E embora Coelho tenha promovido um número menor de remates de matrizes, as médias foram maiores. “Hoje, para ter lucro com genética é preciso estar de olho no custo operacional, porque produzir é caro”, afirma Coelho. “É preciso um bom controle de custos para não perder a rentabilidade.” Ele diz, ainda, estar satisfeito e confiante. Isso por já ter iniciado um processo de reforma e modernização de sua criação, dentro de um planejamento minucioso para garantir bem-estar aos animais e assim ter ganho de peso maior e custo operacional reduzido. O pecuarista também estuda mudanças logísticas para 2018, quando pretende deixar os animais destinados aos leilões em uma fazenda próxima à capital Campo Grande, facilitando a visita de clientes. “Desde o início deste ano, nossa equipe vem buscando maior profissionalização em cada área da fazenda”, afirma Coelho. “Como sabemos que não será possível subir o preço de venda em 2017, vamos aperfeiçoar a produção e incrementar a receita.”

O pecuarista André Curado, do grupo Terra Grande, com fazendas no Tocantins, produziu neste ano 1,2 mil touros, dos quais 900 foram vendidos em leilões. Também foram vendidas 250 fêmeas. Para 2017, o pecuarista diz que as variáveis são muitas. “Embora estejamos cautelosos, porque o nosso setor é sensível ao peso da conjuntura, já definimos o volume que será vendido e a nossa meta é de crescimento”, diz ele. A previsão é aumentar as vendas em cerca de 9% em 2017, o equivalente 1,4 mil touros e 300 fêmeas. Curado aposta no crescimento da demanda de fêmeas, por conta de excelentes resultados já obtidos em leilões. Em 2016, o criador conseguiu vender para vários Estados, como Pará e Paraná. “Confiamos no resultado da marca e trabalhamos com um modelo de rentabilidade, porque sabemos que não existe paixão que resiste a um fluxo de caixa vermelho”, diz Curado. “Além do gado, queremos mostrar ao cliente o nosso manejo, apresentar nossa tecnologia e estabelecer relacionamento e fidelização no pós-venda”. Em 2017, o produtor pretende realizar três leilões, dos quais dois no Pará e outro no Tocantins.

O leiloeiro Paulo Horto, diretor da Programa Leilões, de Londrina (PR), afirma que, embora 2016 tenha sido um ano difícil, há uma sinalização de melhora na economia. A projeção de crescimento é 1,2% para 2017. Para 2018, a previsão é 2,9% e, em 2019, de 3,2%. De acorodo com Horto, essa expectativa reflete positivamente no setor e deve melhorar à medida que se estabeleçam definições políticas e econômicas mais claras. “O agronegócio não saiu ileso, como toda a economia, e sofremos com as dificuldades de 2016”, diz. “Mas o mercado andou. Aumentamos as vendas de touros em 5% e mantivemos o mesmo patamar de fêmeas do ano passado.“ Horto afirma que também trabalha com a perspectiva de um novo cenário. “Estamos aguardando que ele se realize o mais rápidamente possível.”