Há poucas semanas, o Brasil consolidou em Marrakesh, no Marrocos, seu compromisso já assumido em dezembro do ano passado, em Paris, durante a COP 21, de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, principais responsáveis pelo aquecimento global. Nossa tarefa é desafiadora: essa redução tomará como base o que emitimos em 2005, e deverá ser de menos 37% do que aquilo até 2025 e menos 43% até 2030. Além da diminuição do desmatamento, competirá à atividade agropecuária grande parcela desse desafio. E estamos preparados para isso. As propostas do Projeto ABC quase que serão suficientes para essa meta ser cumprida. A integração lavoura-pecuária e a integração lavoura-pecuária-floresta já atingiram o fantástico número de 12 milhões de hectares, superando a mais otimista das expectativas.

E tudo isso se deve à tecnologia tropical, gerada nos institutos de pesquisa e universidades públicos e privados. E, naturalmente, ao seu uso pelos agropecuaristas de todos os rincões que não têm mais nenhuma dúvida de que só serão competitivos com custos menores e produtividades maiores, o que se consegue com tecnologia. Os números sobre isso são espetaculares. De 1990 (ano do Plano Collor, que causou grande desastre no campo por causa do descasamento dos índices de correção dos preços agrícolas do crédito rural) até este ano, a área plantada com grãos cresceu 54%, enquanto a produção saltou 222%. Atualmente, o País cultiva 58,3 milhões de hectares com grãos. Se tivéssemos hoje a mesma produtividade por hectare de 1990, seria necessário cultivar mais 64 milhões de hectares que ainda estão cobertos com matas e cerrados nativos para colher a safra deste ano. Em outras palavras, o Brasil preservou 64 milhões de hectares, e isso não é promessa, está feito! Está aí mais uma prova de como é sustentável nossa agricultura. Aliás, essa característica também aconteceu com as áreas de cana (cultura cujo aumento de produtividade permitiu preservar outros seis milhões de hectares sobre os atuais oito milhões cultivados), café, laranja, etc. E também a pecuária: no mesmo período, a produção de carne de frango cresceu 458%, a de suínos 235% e a bovina outros 88%, com a condição adicional de que a área de pastagens diminuiu. E por último: com toda essa evolução, o Brasil ainda tem 61% de seu território coberto com vegetação nativa, enquanto Europa só tem 2%…

Esses dados comprobatórios de nossa tecnologia levaram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) a concluírem que, para que o mundo tenha em dez anos um aumento de 20% na oferta de alimentos, para garantir segurança alimentar de todos os terráqueos, o Brasil tem de aumentar a sua produção em 40%. Para isto, basta estabelecer uma estratégia articulada entre o público e o privado, em que uma política de renda seja implantada (com a modernização e a flexibilização do crédito rural, com a implementação de um seguro agrícola digno desse nome é com o resgate dos preços mínimos). Também precisamos de uma política comercial mais agressiva que organize acordos bilaterais abrangentes com países consumidores importantes, de vigorosos investimentos em logística e infraestrutura, de mais recursos para pesquisa e extensão rural, de cuidados especiais com defesa sanitária, de apoio ao cooperativismo, entre outros temas. E ainda temos que modernizar uma série de leis obsoletas, como a trabalhista, a previdenciária (tanto no campo quanto na cidade) e a própria legislação ambiental, sempre em busca de segurança jurídica que estimule e atraia investimentos que agreguem valor às commodities agrícolas. E, sobretudo, precisamos convencer a sociedade brasileira da importância dessas medidas. Afinal, o agronegócio brasileiro responde por 22% do nosso PIB, gera 25% dos empregos e responde pelo saldo positivo de nossa balança comercial. Vamos ser assim os campeões mundiais da segurança alimentar e, por consequência, os campeões mundiais da paz.