Uma plataforma que acompanha e gerencia a rota do leite desde o produtor até a indústria foi a iniciativa vencedora da final nacional do desafio de startups Ideas for Millk, que aconteceu nessa terça-feira (13), em Brasília. A equipe SCL Rota – Sistema de Coleta de Leite é de Belo Horizonte (MG) e apresentou a plataforma que automatiza e integra os dados do processo de coleta e captação de leite de laticínios e cooperativas de ponta a ponta.

Para o analista de sistema Otavio Augusto Fernandes, que ao lado de Juscelino Pereira, representa a equipe SCL Rota, o maior prêmio de vencer o desafio é ter o selo da Embrapa na solução apresentada pela startup. “Ter o reconhecimento de uma empresa como a Embrapa é o que dará visibilidade e credibilidade ao nosso trabalho junto ao mercado do agronegócio”, afirma o vencedor.

Com realização da Embrapa, de startups e consultorias que atuam no segmento da TI (tecnologias da informação), inovação e do agronegócio – Agripoint, Carrusca Innovation, Litteris Consulting e Qranio -, o Ideas for Milk é o primeiro desafio do gênero voltado exclusivamente para um dos maiores setores do agronegócio brasileiro: o leite, que reúne quatro milhões de trabalhadores, com 1,3 milhões de produtores atuando em 99% dos municípios brasileiros.

“A ciência está passando por uma revolução, que é a transformação digital. Novas ferramentas estão aí para empoderar e fortalecer o segmento da agropecuária. É preciso atrair, cada vez mais, jovens para o mundo da agricultura e da alimentação”, afirmou Maurício Lopes, presidente da Embrapa, a abertura do evento.

O CEO da Litteris Consulting, Cezar Taurion, diz que um dos maiores desafios dos realizadores do concurso foi aproximar o mundo das startups, voltado em sua maioria para as questões urbanas, do mundo rural. Ele acredita que o agro é um oceano de oportunidades para as empresas e que ainda está um pouco distante do mundo digital. “Das empresas registradas na Associação Brasileira de Startups, por exemplo, apenas 0,5% delas são voltadas ao setor do agronegócio”, completa.

A cadeia produtiva do leite foi escolhida por gerar produtos que estão presentes no Brasil inteiro e que, de acordo com o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, Paulo Martins, precisa atuar sob a lógica da indústria 4.0, no mundo digital. Ele diz ainda que isso só foi possível porque a Empresa atua em rede, junto com universidades e outras instituições. “O papel das universidades foi importantíssimo em unir a turma da tecnologia da informação com a das ciências agrárias. Estamos deixando um caminho sólido para que outros segmentos do agronegócio possam repetir essa experiência de acordo com suas particularidades”, acredita Paulo Martins.

De 137 inscrições selecionadas a oito finalistas
O processo de seleção durou cerca de cinco meses. Após o primeiro filtro seletivo, de 137 iniciativas foram escolhidas 40 para participar das finais regionais em oito cidades brasileiras: Belo Horizonte (MG), Juiz de Fora (MG), Viçosa (MG), Lavras (MG), Campinas (SP), São Carlos (SP), Piracicaba (SP) e Porto Alegre (RS).

Na etapa final do desafio, 31 profissionais de referência na pesquisa agropecuária, no mercado e em negócios de TI avaliaram os oito finalistas quanto: ao tamanho do problema a ser resolvido (relacionado ao tamanho do público-alvo e/ou mercado); à expectativa de longo prazo para o produto ser melhorado e expandido; quanto à dificuldade de implantação e execução da solução proposta: e quanto ao estágio de desenvolvimento do produto no momento do desafio.

O primeiro lugar ficou para a equipe SCL Rota – Sistema de Coleta de Leite (finalista de Belo Horizonte – MG), que apresentou uma plataforma composta por um aplicativo móvel e um painel de gerenciamento web, que automatiza o processo de coleta e captação de leite de laticínios e cooperativas até a indústria, e integra os dados coletados com o ERP (Enterprise Resource Plainning) da empresa. O segundo lugar ficou para a equipe Sytech Feeder (finalista de Juiz de Fora – MG), que desenvolveu um sistema integrado hardware/software que monitora em tempo real o consumo de concentrados de bezerras, com o objetivo de definir o momento do desaleitamento, otimizar tempo e mão de obra, promover ganho em desempenho e reduzir custo alimentar. E o terceiro lugar ficou com a equipe SysLar – UFSC (finalista de Porto Alegre – RS), que apresentou um sistema para o monitoramento e controle em tempo real do percentual de gordura no leite, empregado na etapa de padronização, a fim de aumentar a eficiência da produção de leite e a qualidade dos produtos derivados.

Para Samir Iasbeck, CEO do Qranio, uma startup do ramo educacional e uma das realizadoras do evento, o Ideas for Milk foi um divisor de águas para a Embrapa e para as empresas que passarão a atuar no agronegócio, “aqui nós vimos muita geração de tecnologia, de informação qualificada para esse segmento, mas ainda vemos a necessidade de avançar nos modelos de negócios”, acrescenta.

A presença da Embrapa entre os realizadores foi o diferencial desse desafio, segundo Marco Poli, investidor anjo de startups e membro da comissão julgadora da competição final. “É difícil ver uma instituição que conhece todos os players de uma cadeia produtiva patrocinando um evento que é uma conexão entre startups e mercado. Isso permite acesso às informações, ao conhecimento gerado, à base de clientes, aos números regionais, e consequentemente traz agilidade no encontro das soluções para os problemas do mundo real”, explica.

As oito empresas finalistas foram convidadas a apresentar suas propostas e discutir modelos de negócios com grandes empresas do segmento, como Nestlé, Tetra Pak, Cisco, entre outras, e ainda ganharam premiações de diversos patrocinadores.