No mês passado, o setor da citricultura apresentou ao mercado a Primeira Estimativa de Safra (PES), para o ciclo 2017/2018 do cultivo de laranja, a fruta de maior importância econômica para o Brasil. A previsão é de colheita farta na safra que começou no dia 10 de maio e vai até abril do próximo ano. A estimativa para o maior polo produtor do País, responsável por quase 80% do mercado e formado por São Paulo e Minas Gerais, é tirar dos pomares 364,5 milhões de caixas de 40,8 quilos na safra 2017/2018. O volume significa um crescimento de 48,3% em relação à safra que acabou de ser fechada com 245,7 milhões de caixas. Contado em frutas, os produtores devem colocar no mercado um adicional de 118,8 milhões de caixas. “O cenário é de recuperação da produção e de bons preços para os citricultores”, afirma Marco Antonio dos Santos, produtor, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga (SP) e membro da Câmara Setorial da Citricultura e do conselho do Fundecitrus, órgão responsável pela pesquisa, em parceria com a Markestrat e com duas universidades: a USP e a Unesp.

Fruta no pé
As últimas quatro safras colhidas em São Paulo e Minas Gerais (em milhões de caixas de 40,8 quilos)

2014/2015 308,9 milhões
2015/2016 300,7 milhões
2016/2017 245,7 milhões 
2017/2018* 364,5 milhões

Nas últimas quatro safras, os produtores têm enfrentando problemas no cultivo, com quebras provocadas por pragas nas lavouras e preços baixos no mercado internacional de suco. A produção de 2016/2017, por exemplo, foi a menor dos últimos 20 anos. A falta de frutas levou as indústrias a anteciparem as negociações. Elas começaram a comprar a safra no ano passado, dois meses antes do prazo costumeiro.

“Talvez sejam necessárias duas safras para recuperar os estoques de suco” Ibiapaba Netto,diretor-executivo da CitrusBR (Crédito:Gabriel Reis)

De acordo com Santos, há estimativas de que 85% da safra já esteja vendida para a indústria de suco. E a preços muito bons. “A ideia dos produtores foi aproveitar a safra grande para tentar capitalizar ao máximo”, afirma Santos. O preço fechado por caixa chegou a R$ 23. No final de maio, o Cepea/USP cotava a laranja para a indústria a R$ 16,40 por caixa.

A indústria da laranja está atrás dos produtores porque os estoques de suco estão nos níveis mais baixos já registrados pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), entidade que representa as grandes exportadoras Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus. De acordo com Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, a previsão da entidade é de que no dia 30 deste mês, data da medição oficial do estoque de passagem de um ano para o outro, o nível estratégico de suco fique em 70,3 mil toneladas. Na mesma data do ano passado, o volume era de 351,6 mil toneladas. “A safra 2017/2018 vem em boa hora”, afirma Netto. Segundo ele, a produção atenderá a demanda atual, mas, provavelmente, não será suficiente para repor os estoques de suco em sua totalidade. “Talvez sejam necessárias duas safras para recuperar os estoques de suco.”

Marco Antonio dos Santos: para o produtor, os preços da fruta são compensadores (Crédito:oel Silva/Folhapress)

No ciclo 2016/2017, a produção da indústria de suco paulista e mineira foi de 701,9 mil toneladas. As associadas à CitrusBR produziram 648 mil toneladas de suco de laranja concentrado e congelado equivalente, volume 18,4% inferior ao obtido no ciclo anterior. Já as indústrias não associadas produziram 53,9 mil toneladas. A produção total de suco no País foi de 715,7 mil toneladas na safra 2016/2017, contando o Paraná e o Rio Grande do Sul, Estados que também participam da produção total de suco.

Indústria: na safra 2016/2017, o processamento de suco caiu 18,4% em relação ao ciclo anterior (Crédito:Divulgação)

DE OLHO NA EUROPA
Setor de citrus investe para aumentar as exportações

As boas novas para o setor da citricultura vão além de uma produção maior na safra 2017/2018. No mês passado, foi firmado um acordo histórico nessa cadeia: o Projeto Europa ganhou a adesão de 7,8 mil produtores que entregam a fruta para as indústrias associadas à CitrusBR. O projeto, criado em 2015 e que foi colocado em prática no ano passado, visa a promoção do suco nos países europeus. “Queremos ampliar as vendas para este bloco”, afirma Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR.

O orçamento para pesquisa e marketing é de US$ 6 milhões anuais. Com a entrada do setor produtivo haverá um adicional estimado em US$ 2 milhões. “Trata-se do maior projeto de aliança comercial do agronegócio brasileiro e envolve toda a cadeia do setor”, diz Netto. A renda prevista virá do recolhimento de R$ 0,06 por caixa de laranja processada pela indústria. “Estamos acertando como será feita a arrecadação”, afirma o executivo. Hoje, a Europa importa 70% do suco brasileiro. Na última safra, o bloco comprou 748,2 mil toneladas por US$ 1,2 bilhão. As vendas totais de suco da fruta somaram 1,1 milhão de toneladas, para uma receita de US$ 1,7 bilhão.