São Paulo, 21/3 – A Operação Carne Fraca provavelmente impactará as vendas de carnes brasileiras no Brasil e no exterior, prejudicando exportadores de aves como a BRF e, em menor grau, a JBS, destacou, em relatório, a agência de classificação de risco Moody’s. Segundo a Moody’s, a nota da BRF é ‘Ba1’ estável e a da JBS é ‘Ba2’ estável.

“Ainda é muito cedo para quantificar o impacto ou quanto tempo vai durar, já que as implicações no crédito dependerão dos resultados das investigações e da possível reação dos parceiros comerciais do Brasil”, disse a agência.

A Moody’s assinalou ainda que todo o setor da carne brasileiro sofrerá com as interrupções no comércio relacionadas aos desdobramentos da operação. “As exportações sofrerão à medida que países importadores suspendam compras antes de saber mais sobre as implicações sanitárias relacionadas a embarques específicos”, afirmou a agência.

A companhia destacou as restrições temporárias anunciadas por países como China e Chile aos embarques brasileiros e a decisão da União Europeia de suspender a importação de produtos de 21 plantas citadas nas investigações, mas disse acreditar que “os altos padrões sanitários e o histórico de segurança animal e de produto das exportações brasileiras devem mitigar os riscos de novas medidas adversas temporárias ou permanentes”.

A agência destacou, entretanto, que outras autoridades de países que importam a carne brasileira ainda podem interromper embarques em trânsito ou mesmo declarar bloqueios temporários até que haja mais informações sobre a segurança dos produtos. “Tais medidas, se generalizadas e estendidas indefinidamente, prejudicariam seriamente as exportações brasileiras de carne, prejudicando o Ebitda dos frigoríficos e, portanto, suas métricas de crédito”, afirmou a Moody’s.

Uma queda nas exportações de carne de aves do Brasil atingiria a BRF de forma mais severa entre os produtores brasileiros avaliados, uma vez que a maior parte de sua produção está concentrada no Brasil, disse a agência. A Moody’s ressaltou que, em virtude da investigação, a BRF fechou até agora a sua fábrica de Mineiros, em Goiás, que representa menos de 5% da capacidade total de abate da empresa.

“Atualmente, a alavancagem da BRF é alta em 4,6 vezes, medida por dívida bruta ajustada/Ebitda, após um desempenho muito fraco em 2016”, apontou a Moody’s. “Qualquer frustração na geração de Ebitda nesta conjuntura colocaria pressão adicional nas métricas de crédito.” Contudo, conforme a Moody’s, apesar da alta alavancagem, a BRF tem “um forte perfil competitivo e uma boa liquidez com R$ 6,3 bilhões em caixa no fim de 2016”, o que atenua riscos. A agência salientou ainda que a companhia tem US$ 1 bilhão em linha de crédito disponível com prazo de vencimento em maio de 2019.

Já a JBS sofreria uma menor pressão vinda de suas operações no Brasil, pois a empresa tem apenas 5,2% da receita proveniente de exportações da Seara e de exportações de aves e cerca de 4,8% de sua receita proveniente das operações de carne bovina no Brasil, conforme a agência. No total, 72,7% das receitas da JBS são geradas em subsidiárias nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e na Europa, que não teriam nenhuma exposição real às investigações no Brasil, segundo a Moody’s.

Embora a Operação Carne Fraca não mencione os produtores de carne bovina Marfrig e Minerva, ambas as empresas poderiam sofrer os efeitos de uma crescente interrupção nas exportações brasileiras, conforme a Moody’s. “A carne bovina representa a maior parte da produção da Minerva – principalmente no Brasil, mas em parte no Paraguai, no Uruguai e na Colômbia – o que deixa a empresa mais exposta à volatilidade do mercado do que a Marfrig”, destacou.

Além das operações latino-americanas da carne bovina, a Marfrig obtém metade de sua receita da Keystone nos EUA, que vende principalmente carne de aves e produtos processados a restaurantes nos EUA e em outros mercados.