Na foto que abre esta reportagem, o engenheiro de produção Pedro Isamu Mizutani, 57 anos, solta a voz em um karaokê, no bairro do Tatuapé, na capital paulista. Dias antes, no início de fevereiro, ele já havia subido ao palco da Bunkyo, a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, na etapa final do 23º Campeonato Paulista de Karaokê. Na ocasião, Mizutani disputava o prêmio com 650 cantores peneirados em 15 eliminatórias, pelas quais passaram três mil pessoas. Foi vice-campeão na categoria kashosho, para cantores que já haviam vencido o torneio em edições anteriores. “O canto me deixa tranquilo, me ajuda a ter confiança e segurança. Cantar em público sempre foi mais fácil do que falar”, diz ele. Mizutani é considerado no setor do agronegócio o homem de confiança do empresário Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan, conglomerado empresarial com atuações nas áreas de energia, logística, infraestrutura e gestão de propriedades agrícolas. Somente para a cana-de-açúcar, a Raízen Energia, uma joint venture com a petrolífera Shell, opera 23 usinas que moem cerca de 60 milhões de toneladas por safra. No prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2016, ela foi a campeã setorial na categoria Açúcar e Biocombustíveis – Conglomerados.

60A dedicação de Mizutani, que canta desde a adolescência, já lhe rendeu a honra de ser acompanhado ao piano pelo maestro João Carlos Martins em 2014, na música “My way”, um dos maiores sucessos do americano Frank Sinatra. A apresentação foi em Piracicaba (SP), município sede da Cosan, empresa na qual ocupa o cargo de vice-presidente executivo de Relações Internacionais e Estratégia, desde o início do ano passado. Mas sua trajetória na Cosan é longa. Vem de 1982, quando terminou o curso na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), e começou a trabalhar na usina Costa Pinto, em Piracicaba, a primeira unidade do que viria a ser o império criado por Ometto, hoje com uma receita anual de R$ 47 bilhões. Mizutani foi trabalhar na Cosan para voltar ao interior. “Não queria viver em meio a congestionamentos”, diz ele. “Além disso, São Paulo é uma cidade muito difícil para quem não tem dinheiro.” O executivo, filho de Mamoru Mizutani, feirante aposentado, ajudava o pai a vender tomate na cidade de Ribeirão Preto (SP), onde nasceu. “As primeiras lições sobre mercado, lucro e planejamento eu tive naquela época, com meu pai.”

A escola valeu por uma vida. Na Cosan, Mizutani passou por vários de cargos. Em 2000, assumiu a vice-presidência do grupo. No ano seguinte, a superintendência. Oito anos depois, chegou à presidência da Cosan Açúcar e Álcool. Com a formação da Raízen em 2011, tornou-se o vice-presidente da joint venture. Fora da empresa também recebeu o reconhecimento de sua liderança. Em abril do ano passado, foi eleito presidente do conselho da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), cargo antes ocupado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues.

Mizutani é o tipo de executivo que acha tempo para tudo. Reuniões, viagens, palestras e mentorias fazem parte de seu trabalho, assim como a presidência do Clube Cultural Nipo Brasileiro de Piracicaba, onde o cargo é voluntário e no qual costuma cantar karaokê com os amigos. Para ele, as atividades dentro e fora da empresa são complementares. “Ninguém consegue ser ético no trabalho se não for fora dele, ou vice-versa”, diz. “A máscara de um personagem vai cair mais cedo ou mais tarde.”, afirma o executivo. Já o trabalho voluntário e a música, diz ele, ajudam na criatividade, a ser flexível e a se manter construtivo no ambiente de trabalho. Para Igor Schultz, headhunter da Flow Executive Finders, os profissionais incapazes de se desligar do ambiente de trabalho são menos criativos. “A concentração apenas no trabalho cria profissionais que não pensam diferente”, diz Schultz. Não por acaso, especialistas em medicina comportamental têm afirmado cada vez mais a importância de hobbies, como coleções, esportes, música, artesanato, como uma das melhores maneiras de estimular o cérebro.

A fórmula tem ajudado Mizutani a se adaptar às constantes mudanças no conglomerado Cosan, que realizou cerca de 20 aquisições, entre elas a Comgás, a América Latina Logística (ALL), atual Rumo, e a ExxonMobil, atual Moove. “Para sair do setor financeiro e passar ao administrativo, aceitei ir para uma empresa menor do grupo”, afirma ele. “Foi quando percebi que era necessário se agachar para poder dar um pulo maior.” A experiência em praticamente todos os níveis hierárquicos foi importante no relacionamento com os acionistas e com as equipes de funcionários. “Quem sobrevive nem sempre é o mais forte, mas quem melhor se adapta às novas condições”, diz Mizutani. “Devemos estar preparados para aprender com subordinados e as pessoas das empresas adquiridas.” Para Schultz, nos dias atuais, é importante que um profissional olhe as oportunidades não somente no aspecto econômico e de porte da empresa, mas perceba as possibilidades que um posto de trabalho cria. Ele diz que a flexibilidade de profissionais como Mizutani são muito valorizadas. “Hoje, o surgimento de novas tecnologias, e a velocidade de fusões e aquisições, é muito maior do que em outras épocas”, afirma. “É bom ficar atento.” E saber dançar conforme a música.