A fase vivida pelo agronegócio, comparada à de outros setores da economia, é motivo de comemoração. Afinal, o bom desempenho da agricultura, que em 2015 registrou crescimento de 1,8%, evitou uma queda ainda maior do Produto Interno Bruto nacional (-3,8%). Para 2016, apesar de todas as variáveis negativas apresentadas até o momento, como a turbulenta política interna, a seca e o excesso de chuvas em importantes regiões produtoras, analistas prevêem que o setor continue em expansão entre 1,5% a 2,2%, com aumento das exportações e da produção.

Esse panorama, porém, não deve durar por muito tempo. Para 2017 as projeções indicam um cenário mais desafiador para o setor, com recuo na oferta de crédito, consequência do ajuste fiscal. Isso significa que o agronegócio pode não segurar as pontas da economia brasileira por muito tempo. Por isso, uma das alternativas que deve ser explorada é o apoio à implantação de novas tecnologias para que o setor não sucumba diante da crise.

O Brasil é considerado hoje uma referência em ciência e inovação para a agricultura. Esse status só foi possível graças à fundação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e ao trabalho de pesquisa e de desenvolvimento de institutos e universidades. A consequência foi a grande expansão da produção agrícola brasileira. A área plantada de grãos, por exemplo, mais que dobrou: passou de 27 milhões de hectares em 1970, para 58 milhões de hectares no ano passado. Já a produção neste período saltou de 29 milhões de toneladas para quase 200 milhões de toneladas.

Apesar do avanço, é preciso expandir ainda mais os investimentos em tecnologia para o País crescer e atender os mercados interno e externo. A Embrapa, em relatório denominado “O futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira”, no qual apresenta uma visão do setor para o período de 2014 a 2034, reforça a importância da tecnologia para o segmento. O relatório afirma que “na agricultura, as novas tecnologias vão estimular novas vertentes de agregação de valor e de fabricação, com grandes possibilidades de aumento de competitividade do setor agroindustrial”. Esse é um caminho sem volta, pois o conhecimento tecnológico irá propiciar a manutenção e o aumento da competitividade no longo prazo. O pesquisador Antônio Luiz Fancelli, da Esalq/USP, por exemplo, tem afirmado que cada vez mais o produtor vai ter de aprender a utilizar as tecnologias e procedimentos para a mitigação de condições adversas, inclusive as climáticas. Já Daniel Latorraca, do Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada (Imea), afirma que o conhecimento do agricultor fará a diferença, seja no domínio de uma máquina sofisticada ou no controle de pragas.

Com a mão de obra no campo cada vez mais escassa, reflexo do envelhecimento da população e de sua migração para a cidade, o produtor tem buscado na aquisição de máquinas o auxilio de que necessita. Além disso, considerando a tendência de mudanças climáticas, as condições de plantio estão se tornando cada vez mais imprevisíveis. Caberá ao desenvolvimento e ao aprimoramento das tecnologias reduzir essa imprecisão e dar mais agilidade ao produtor no dia a dia.

Portanto, é preciso incentivar as iniciativas que promovam o avanço da tecnologia no agronegócio. Oportunidades não faltam. Essa premissa, aliada à melhoria na infraestrutura logística e nas linhas de financiamento bem aplicadas, nortearão o crescimento do setor e, portanto, do Brasil nos próximos anos. Isso, para um segmento que representa 23% do PIB do País e que é o segundo maior produtor de soja e o segundo maior exportador de carne do mundo. O fato é digno de comemoração, mas ainda há muitos desafios a serem alcançados para que o País obtenha a diferenciação que o futuro impõe.