São Paulo, 22 – A produção global de lácteos continua se recuperando após a forte contração verificada no fim de 2016, de acordo com relatório trimestral do Rabobank. O banco diz que preços mais altos ao produtor e condições climáticas mais favoráveis estão trazendo alívio ao setor, após um recuo de três anos dos preços de leite.

Os preços ao produtor nos Estados Unidos estão bem acima dos registrados na Europa e na Oceania, refletindo a forte demanda local e exportações mais firmes. Segundo o chefe global de lácteos do Rabobank, Kevin Bellamy, as margens proporcionadas pelos preços mais baixos de ração indicam que a produção de lácteos nos EUA deve continuar crescendo. Além disso, após uma pequena queda no primeiro trimestre deste ano, o consumo de manteiga e queijos nos EUA deve continuar impulsionando o crescimento da demanda doméstica, diz o analista.

Na União Europeia, os preços médios ao produtor subiram no fim de 2016 mas não alcançaram níveis muito interessantes, levando a respostas variadas. Irlanda, Polônia e Itália continuaram expandindo a produção. No entanto, o aumento em toda a Europa tem sido menor do que muitos esperavam, diz o Rabobank. Na Alemanha e na França, os dois maiores produtores do bloco, a produção de lácteos no primeiro semestre ficou bem abaixo dos níveis de um ano atrás. Uma primavera mais fria e seca em março e abril, além de questões ambientais na Holanda, trouxe problemas para produtores europeus. Esses fatores, combinados com uma demanda maior nos EUA, resultaram em escassez global de nata e impulsionaram os preços de manteiga e creme de leite.

Já a recuperação na América do Sul continua lenta mas estável. No Brasil, apesar do cenário político conturbado, os custos de insumos estão caindo, enquanto a produção e o consumo de lácteos começaram a se recuperar, diz o banco. A produção na Argentina deve voltar a crescer no segundo semestre de 2017, após dois anos desastrosos, segundo o Rabobank.

Na Nova Zelândia, o setor está se mostrando mais otimista do que nos últimos três anos em relação à nova temporada, com a estimativa inicial de preços ao produtor em torno de 6,50 dólares neozelandeses (US$ 1 = 1,376 dólar neozelandês) por quilo de leite em pó. Para o Rabobank, o clima favorável deve estimular um forte crescimento da produção. Já a Austrália deve recuperar apenas parte da produção perdida, diz o banco.

Na China, os preços ao produtor vêm diminuindo, restringindo o aumento de produção em grandes fazendas e forçando pequenos produtores a se retirar do mercado. Isso significa que mesmo um crescimento medíocre do consumo tende a ofuscar aumentos de oferta. Segundo o Rabobank, a redução dos estoques chineses deve resultar em aumento considerável das importações de lácteos no segundo semestre de 2017. Em todo o ano, as importações chinesas devem aumentar 20%, absorvendo a oferta excedente da Nova Zelândia.

De modo geral, o Rabobank acredita que a recuperação da produção mundial deve continuar, e que o setor vai passar para uma fase de expansão do comércio para atender ao aumento, mesmo que modesto, do consumo. No entanto, o banco prevê que a escassez de nata será mais difícil de resolver. Para o Rabobank, os preços terão de se ajustar para refletir as mudanças nos padrões de consumo, e serão necessários novos incentivos de longo prazo para a produção de mais nata.