O governo federal aumentou os recursos do Plano Agrícola e Pecuário, anunciado no dia 1º de junho, para R$ 190,2 bilhões (leia mais na pág. 22) na safra 2017/2018, um acréscimo de 1% sobre a anterior. Mas o produtor não pode se deixar enganar. O fato é que a partir deste mês não vai ser uma tarefa fácil chegar perto desse montante. Isso porque o nível de inadimplência dos produtores cresceu nos últimos três anos e ele vai servir de barreira à liberação dos recursos. Segundo o Banco Central, de janeiro a abril deste ano, o índice de inadimplência no crédito rural subiu 0,65 ponto porcentual, chegando a 2,85%. É a mais alta taxa do segmento pessoa física nos últimos seis ano. “No momento em que o produtor fica nessa situação no mercado, ele prejudica a sua capacidade de captar recursos”, diz o agrônomo Fernando Pimentel, diretor da consultoria paulista Agrometrika. Para ele, resta ao produtor melhorar a transparência de sua atividade e investir no que é realmente necessário. “Nesta safra, por exemplo, o produtor vai precisar de muita atenção para não ficar com o fluxo de caixa ainda mais apertado.”

A frustração da última safra colocou muitos agentes financeiros em estado de alerta em importantes regiões agrícolas do País. Estão na lista os Estados que formam a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), além de áreas como o sul de Goiás e o oeste de Mato Grosso. Segundo Pimentel, foram os produtores dessas regiões que mais sentiram os efeitos da queda da safra de grãos de 207,8 milhões de toneladas para 186,6 milhões na safra 2015/2016 e ainda não se recuperaram no ciclo 2016/2017. “A consequência mais imediata disso foi o aumento da inadimplência do produtor”, diz o diretor da Agrometrika. Outro fator que ajudou a pressionar a inadimplência foi o início dos pagamentos de investimentos feitos, em especial, na safra 2013/2014. “Foi o ciclo em que mais se vendeu máquinas agrícolas no País”, afirma Pimentel. “Como existe um período de carência de pagamento, agora que essas contas estão caindo no cai­xa do pro­­dutor.” Foram 84,4 mil máquinas vendidas. Para Jo­sé Zanni, líder da Prática de Agro­ne­gó­cio, Papel e Celulose da corretora de seguros americana Marsh, a­­­lém da dificuldade de crédito, paira a dú­­vida se os recursos anunciados pelo go­­ver­­no serão mantidos. “O País está num período de incertezas, o que gera subjetividade na concessão de crédito”, diz Zanni. “O fato é que o governo não tem dinheiro para financiar o agronegócio.”

Uma saída para os produtores que não conseguirem acessar os recursos do Plano Safra é se aproximar ainda mais de empresas de insumos agrícolas como a de defensivos, sementes e fertilizantes. Elas podem servir de socorro para o custeio da safra. Um exemplo é a indústria química americana FMC, que faturou no mundo US$ 2,7 bilhões no ano passado. Segundo o diretor financeiro da companhia no Brasil, William Mills, há casos de produtores no oeste baiano que estão no radar da empresa para sa­­ir do vermelho. “Faze­mos um trabalho de parceria de longo prazo com esses produtores, para que eles se recuperem em duas a três safras”, diz Mills.

“O País está num período de incertezas, o que gera subjetividades na concessãodo crédito” José Zanni, da corretora Marsh (Crédito:Carlos Della Rocca )

Durante esse tempo, a empresa concede alguns subsídios e, em contrapartida, os produtores passam a dar mais transparência à sua atividade, através de uma contabilidade apurada e um planejamento de custos futuros. Por trás desse trabalho da FMC com os produtores, há empresas que estão prontas para quantificar e qualificar as garantias que vão validar a assinatura de um contrato. A paulistana S4A Avaliações, por exemplo, faz o inventário do que pode servir como uma possível fonte de pagamento. “Hoje fazemos esse tipo de serviço para as indústrias de insumos”, diz o engenheiro civil Ricardo Salles, diretor da S4A. Além de um pátio de máquinas, há tecnologias que estão surgindo e que podem dar as garantias para a tomada de crédito. “No mercado se fala muito em softwares de monitoramento de safras como alternativa para a proteção de crédito”, diz Salles.

Outra saída pode estar a caminho: a Célula Imobiliária Rural (CIR). Apro­va­da pelo Senado no mês passado, ela autoriza o dono de um imóvel rural a submeter sua área (total ou parcialmente) como garantia de crédito. Além disso, com a possibilidade de ser fracionada, a CIR pode se tornar um título negociável na bolsa de valores. Até o fechamento desta edição da DINHEIRO RURAL, a proposta seguia para a sanção presidencial ainda neste mês de julho.