Desde 2009, a cidade de Parsippany, no Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos, era um destino corriqueiro na vida do médico veterinário paulista Tiago Papa, 41 anos. Ele voava com frequência para o lugar, onde está a sede da empresa americana Zoetis, líder global em saúde animal, para reuniões com os comandantes da companhia. Mas, desde a tarde do dia 3 de junho, o seu plano de voo foi alterado por completo. Dessa vez, um voo mais curto de avião, porém muito mais alto na sua carreira profissional. Junto com a esposa Mariana, e o filho de três anos, Papa partiu para uma longa permanência em Santiago, no Chile, uma metrópole de 6,6 milhões de habitantes. De lá, ele passou a comandar as operações locais da americana Zoetis, líder global do mercado de saúde animal, que faturou US$ 4,9 bilhões no ano passado. “Eu quis muito isso, em algum momento de minha carreira”, afirma ele. “Agora, quero mostrar que sou capaz de cumprir com essa nova responsabilidade.”

O executivo, que era diretor de marketing da unidade de negócios para pets, no Brasil, vai tomar conta de toda a empresa no Chile, dirigindo as operações de técnicos agropecuários, as vendas e os lançamentos de produtos da multinacional. A tarefa é considerada na companhia quase uma missão sagrada. Papa está substituindo o veterinário chileno Claudio Rojas Vivanco, que liderava as operações há 17 anos e que se aposentou depois de três décadas de serviços prestados à Zoetis. Além disso, o agronegócio é um setor importante para o país. Representa US$ 7,5 bilhões das riquezas chilenas, 3% de seu Produto Interno Bruto. Somente de salmão, um peixe que se tornou hábito na dieta do brasileiro, o faturamento com as exportações de 2016 foi de US$ 3,8 bilhões, abastecendo cerca de 70 mercados. “Em janeiro deste ano, assim que soube da oportunidade para o cargo no Chile, não tive dúvidas em me esforçar para concorrer a ele”, afirma Papa. De acordo com o executivo, embora tenha se dedicado por 16 anos ao mercado de animais de companhia, como gatos e cachorros, não há motivo para temer o desafio de administrar todo o segmento do agronegócio, que além de peixes inclui bovinos, suínos e aves. “Na minha carreira, por mais que estivesse cuidando de um setor, sabia o que estava sendo desenvolvido nos demais segmentos da empresa, como na área de bovinos, por exemplo”, diz ele. Também ajudou em sua decisão uma convicção de carreira: o mais importante para Papa não é um profundo conhecimento dos detalhes de cada mercado, mas desenvolver uma visão estratégica do negócio. No Chile, sua equipe é de 19 profissionais, entre técnicos e veterinários. “Minha função é ajudar a derrubar barreiras que a equipe venha a encontrar”, diz ele. “E que isso se traduza em sucesso, seja no lançamento de produtos, ou na elaboração de projetos de longo prazo”.

Para Roberto Picino, diretor executivo da inglesa Michael Page no Brasil, que também é especializada em recrutamento de profissionais de alto escalão, o caso de Papa mostra como o perfil de um líder é construído. O executivo tem conseguido conciliar a competência técnica com a comportamental. “É essa junção que dá ao profissional a liberdade para transitar em diferentes cargos de liderança”, diz Picino. “Mas não são muitos os que têm essa capacidade. É uma qualidade nata do profissional seguir esse caminho, que o leva a aproveitar todas as oportunidades.” De fato, Papa afirma que aproveitou todas as chances à sua frente. Logo depois de formado, no ano 2000, ele começou a trabalhar na equipe de vendas da antiga Fort Dodge, empresa americana de saúde animal adquirida em 2009 por sua conterrânea Pfizer. Desde 2013, todo o segmento de saúde animal da farmacêutica se tornou um grupo independente, passando a ser a Zoetis. Sua trajetória na empresa foi ascendente. Em dois anos, ele foi chamado para fazer parte da área de regulamentação de produtos. “Foi um dos grandes momentos, pois a partir daí decidi me dedicar à área comercial”.

Estava aberto, a partir dessa escolha, o caminho corporativo que permeou carreira de Papa, embora na época, aos 26 anos, ele ainda pensasse em se dedicar à área prática de sua profissão. “Mas, sabendo que eu estaria na área comercial por um tempo, tratei de me especializar”, diz Papa. O veterinário fez dois MBAs. O primeiro foi em 2001, com foco em marketing, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O segundo, em gestão de negócios na Fundação Getúlio Vargas (FGV), ocorreu em 2007. Além disso, Papa fez vários cursos nos Estados Unidos, promovidos pela própria companhia. Até final do ano passado, o executivo planejava mais um MBA, só que fora do País. Seus planos mudaram com o cargo no Chile, embora a curiosidade pelo aprendizado não o abandone. “O que me ajudou a voar para o Chile foi ser curioso e sempre fazer algo diferente”, diz Papa. “Se fizesse as mesmas coisas, talvez tivesse parado lá atrás.”