Carol é uma californiana com um pouco mais de seis meses de vida. Seu pai acredita que ela tem tudo para se tornar um prodígio, porque a inteligência dela supera os limites de qualquer ser humano. Carol, por exemplo, pode ler e comparar uma incrível gama de dados em questão de segundos. “A ideia é fazê-la ficar ainda mais rápida e inteligente”, diz o pai da criança, Laércio Cosentino, CEO da brasileira Totvs, uma das líderes em soluções de tecnologia e computação, e que faturou R$ 2,2 bilhões no ano passado. “Ela tem tudo para revolucionar digitalmente as empresas, inclusive, no campo.” E não é por menos todo esse otimismo de Cosentino. Entre tantas habilidades, Carol entende de administração e marketing, gestão financeira e de pessoas, acompanha em tempo real o sobe e desce dos preços das commodities agrícolas e fala fluentemente três línguas: português, inglês e espanhol. Trata-se do perfil de uma executiva do mais alto escalão de uma empresa. Mas ela não é de carne e osso. Carol é um robô de inteligência artificial, formada por um emaranhado de números e fórmulas matemáticas confinadas na nuvem (termo usado para o armazenamento remoto de informações na internet). Apesar de haver outros robôs como ela, por trás de gigantes americanas de tecnologia como a Apple, o Google, o Facebook, a Microsoft e a IBM, a Carol da Totvs é a primeira de sua espécie planejada desde o berço para atuar no agronegócio. “Com ela, queremos ser para o agronegócio um grande fornecedor da gestão de conhecimento.”

Vanguarda: com a Carol, Cosentino quer atrair mais empresas do agronegócio para a sua plataforma digital (Crédito:Divulgação)

A Totvs, que está presente em 41 países, apresentou a tecnologia no mês passado, na capital paulista. Até novembro, ela deve estar à disposição de todas as companhias do País. De­­sen­vol­vi­da nos laboratórios americanos da Totvs na Califórnia, Carol pode ser acessada pelo computador, tablets e smarphones, com sistemas operacionais iOS, da Apple, ou Android, do Google. A companhia saiu na frente da IBM, sua principal concorrente para esse tipo de tecnologia, que, até setembro deste ano, deve lançar sua interface de inteligência artificial voltada exclusivamente para o agronegócio. Mas, diante de tantas novidades digitais que estão cada vez mais na gestão das fazendas do País, de que maneira esse tipo de ferramenta pode de fato ajudar o produtor? A resposta é simples: esses robôs aprendem a medida que são usados. São as chamadas máquinas de aprendizagem automática (machine learning, em inglês). Isso faz com que ela se aprimore, garantindo aos produtores as melhores opções para a tomada de decisão. “Cruzando informações de tempo, a sazonalidade das commodities agrícolas e a avaliação de preços no mercado, a Carol vai indicar os melhores passos para a produção rural, além de tecer os prognósticos futuros da operação, guiando o produtor para ser mais competitivo”, diz Cosentino.

O executivo não informa qual a participação do mercado agrícola na receita da empresa, mas afirma que faz parte de sua missão aumentar a presença da Totvs nas fazendas do País. Hoje, das 30 mil empresas que acessam os serviços e produtos da companhia, 625 são do agronegócio, quantidade ainda baixa, ou seja, apenas 2,1%. No entanto, são gigantes. Entre elas estão potências, como os grupos mato-grossenses Bom Futuro, do produtor Eraí Maggi Scheffer, e a Amaggi, que pertence à família do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, além dos grupos paulistas CGG e Granbio. Para atrair mais empresários do campo para o seu lado, a companhia estuda planos diferenciados para os produtores, inclusive oferecendo faixas de uso gratuito da ferramenta. “Ainda não podemos divulgar sobre a cobrança da plataforma, mas teremos modelos ilimitados, por consumo e faixas livres de cobrança”, diz Cosentino.

O rival da Carol, desenvolvido pela IBM, ainda não tem um nome. Baseado na plataforma de inteligência Watson, ele é chamado genericamente de IBM Agritech. A paulista Agrotools, empresa de soluções de imagem e big data para o agronegócio, é uma das parceiras da americana no País. “Há espaço para mais companhias de tecnologia para embarcarem no IBM Agritech”, diz o engenheiro elétrico Fernando Martins, CEO da Agrotools. A ideia é que essa plataforma reúna, em um mesmo ambiente, empresas e startups oferecendo tecnologia em dados, ferramentas e soluções para o campo. Todas elas sendo gerenciadas pela inteligência de Watson. “O produtor entra nessa plataforma e escolhe o serviço que quer para sua fazenda”, diz Martins. “É como se fosse um grande mercado dedicado ao agronegócio.” Em segredo, a Agrotools já está rodando essa solução com quatro de seus grandes clientes, entre eles, um abatedouro de animais, um varejista, uma trading de grãos e uma fábrica de batatas fritas. “Por esse teste inicial, a ferramenta é bastante promissora e deverá baratear muito o acesso a tecnologias de ponta”, diz Martins. A solução da IBM deve ser baseada em aplicativos que devem custar aproximadamente US$ 5.