EDUARDO LOGEMANN, DONO DA SLC AGRÍCOLA, CAPTOU R$ 294 MILHÕES COM SEU LANÇAMENTO DE AÇÕES NA BOLSA DE VALORES PAULISTA

2007 entrará para a história como o ano em que o agronegócio brasileiro esteve na vanguarda das grandes transações financeiras. Foram negócios permeados por cifras inéditas no mercado nacional e, mais do que tudo, com a entrada de novos personagens como bancos de investimento internacionais e megacorporações estrangeiras, como a gigante alemã do açúcar Sudszucker. Nas contas de uma grande empresa estrangeira de consultoria neste ano o setor sucroalcooleiro teve 27 grandes negócios, três vezes mais do que o ano passado, e que teve na mesma proporção três vezes mais investidores estrangeiros aportando seu dinheiro no Brasil. O mesmo pode-se dizer sobre os investimentos realizados por empresas nacionais, como a Perdigão, reportagem de capa desta edição. E no mesmo ritmo vieram os leilões, como o Mata Velha, em Uberaba, em setembro, quando a bezerra Nalisha II FIV, do criador Marco Paulo Carneiro, foi vendida por R$ 2,9 milhões para três compradores: o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, o empresário João Carlos Di Genio, do grupo Objetivo, e o criador Jonas Barcellos, organizador do leilão. E, para fechar o ano, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), seguindo a tendência do próprio setor de agronegócios, fez a sua abertura de capital. O que prova que, para 2008, a velocidade das grandes aquisições só deve aumentar.

JOESLEY BATISTA, DO JBS, COMPROU A SWIFT POR US$ 1,4 BILHÃO E VIROU LÍDER GLOBAL DA CARNE

O ano de 2007 também poderá ser lembrado como aquele em que o País viu sua primeira empresa genuinamente agrícola abrir capital na Bovespa. “Nossa gestão sempre foi muito profissional”, diz Eduardo Logemann, presidente da SLC agrícola, que captou R$ 294 milhões em sua oferta inicial de ações. Com o dinheiro, a empresa aumentou sua área em 43% sua área plantada e viu seu lucro disparar 273% até meados de outubro. A empresa, que atua nas culturas de soja, milho, algodão e trigo, pretende continuar seu processo de expansão para o próximo ano. Como ponto forte, Logemann destaca a gestão. “Somos eficientes e muito organizados”, diz. Partidário da política “na ponta do lápis”, ele garante que a redução e controle de custos são marcas registradas de seu grupo. “Essa é a nossa marca”, diz Logemann.

RUBENS OMETTO, DA COSAN, VENDEU US$ 2 BILHÕES EM AÇÕES EM NY, MAS PASSOU A SER ALVO DE CRÍTICAS DOS ACIONISTAS NO PAÍS

Seguindo das lavouras para os pastos, foi o ano em que a carne brasileira conquistou o mundo. Isso graças à agressiva estratégia de crescimento do Grupo JBS, controlador do frigorífico Friboi. Em março deste ano a empresa fez sua oferta de ações na bolsa de valores e levantou R$ 1,5 bilhão. Com dinheiro em caixa e uma entrada de US$ 400 milhões, adquiriu a americana Swift por US$ 1,4 bilhão. Com a tacada, o frigorífico nascido como um açougue em Goiás se transformou na maior empresa de carnes bovinas do mundo, com um faturamento global de R$ 25 bilhões. O grupo JBS passou a abater 47 mil cabeças de boi por dia. Entraram na negociação oito abatedouros nos Estados Unidos e quatro na Austrália. Com isso, a empresa passou a ter acesso aos principais mercados do mundo. Considerando dados consolidados da época, o Friboi registrou em 2006 um faturamento de US$ 1,9 bilhão ante US$ 9,6 bilhões da Swifit. A transação foi possível porque o endividamento da americana é alto: US$ 1,163 bilhão. Isso corresponde a cinco vezes seu indicador ebtida, que é o lucro antes da depreciação de impostos, amortizações e depreciações. A receita para colocar a ex-concorrente nos trilhos é conhecida: redução de custos. “Mas isso não se refere ao chão da fábrica e sim às diárias de hotel e valor das passagens de avião”, diz o presidente do Conselho do JBS, Joesley Batista.

CÍCERO JUNQUEIRA FRANCO, DA VALE DO ROSÁRO,

LIDEROU A FUSÃO COM A SANTELISA E VENDEU

NACO DE US$ 400 MILHÕES PARA GOLDMAN SACHS

O negócio nas fazendas pareceu tão promissor que até um banqueiro vegetariano, como Daniel Dantas, do Opportunity, decidiu entrar para a pecuária. Projetou um negócio para 500 mil cabeças no Estado do Pará e acabou se transformando no maior comprador de fazendas e rebanhos do País com a sua Santa Bárbara Agropecuária. Ele comprou cerca de 300 mil hectares de terra, duas vezes a área da cidade de São Paulo. E contratou o executivo Lucio Cornachini, ex-vice-presidente da central de inseminação artificial Lagoa da Serra, para gerenciar sua empresa.

A tendência de grandes negócios agrícolas em 2007, naturalmente, foi puxada pelo etanol – especialmente, depois que o governo norte-americano ofereceu fortes incentivos à produção e sinalizou que estaria disposto a apoiar a criação de um mercado global para o álcool. No primeiro semestre do ano, um levantamento da consultoria KPMG apontou que houve 20 aquisições de usinas no Brasil. Foi um recorde, uma vez que em todo o ano de 2006 aconteceram apenas nove transações.

Um dos grandes destaques foi a compra da Dedini Agro pelo grupo espanhol Abengoa, que pagou US$ 387 milhões por duas usinas no interior paulista. Investimentos internacionais no etanol também foram feitos por grupos como Cargill e Louis Dreyfus. Outro que chamou muita atenção foi o aporte de US$ 400 milhões feito pela Goldman Sachs no grupo Santelisa Vale, das famílias Biagi e Junqueira Franco. A própria fusão das duas empresas foi um caso à parte, pois representou uma resistência uma tomada hostil de controle, que seria executada pela rival Cosan. Agora, unidas, a Santelisa e a Vale se preparam para ir à bolsa, mas podem antes vender uma participação ao BNDES.

Curiosamente, o ritmo de fusões no setor sucroalcooleiro diminuiu no segundo semestre. Isso porque os preços do açúcar caíram no mercado internacional e a tendência é que continuem baixos, em função de uma supersafra da Índia. “Isso é até bom para o mercado”, avalia André Castello Branco, sócio da KPMG. “O processo de consolidação do setor será mais qualitativo e menos quantitativo.” Sua tese é que as aquisições estarão mais relacionadas a fatores estratégicos do que a uma eventual bolha no mercado do etanol.

SÉRGIO THOMPSON FLORES MONTOU FUNDO DE R$ 2 BILHÕES E FOI QUEM MAIS COMPROU USINAS NO BRASIL

Já o empresário paulista Antônio Iafelice, que criou a trading Agrenco, em Paris, e tem atuação na América do Sul, na Europa e na Ásia, em outubro lançou suas ações na Bolsa de Valores de São Paulo pelos bancos Credit Suisse e ABN Amro. Resultado: a Agrenco captou R$ 666,2 milhões, num dos maiores IPOs da história do agronegócio brasileiro. Também fez investimento de US$ 150 milhões, em parceria com a japonesa Marubeni Corporation, anunciado em setembro passado, nas plantas de Caarapó, em Mato Grosso do Sul, e Alto Araguaia, em Mato Grosso, voltadas ao esmagamento de soja e produção de biodiesel, para produzir um milhão de toneladas de farelo de soja e capacidade de gerar 316 milhões de litros de biodiesel. Também a a usina de Marialva, no Paraná, teve atenção especial. Está focada na questão do biodiesel. As três juntas devem entrar em funcionamento em janeiro do próximo ano e a projeção é de uma capacidade anual de produção de 425 milhões de litros de biodiesel.

GIGANTES INTERNACIONAIS, COMO A CARGILL E A ALEMÃ SÜDZUCKER, TAMBÉM SE FORTALECERAM EM 2007

Mais conservador, o grupo Odebrecht lançou a sua empresa no setor de etanol, a ETH Bioenergia já fazendo uma série de aquisições com os R$ 5 bilhões que tem em caixa para gastar – 40% em capital próprio e o restante tomados de outras fontes. Quer chegar, em no máximo seis anos, ao grupo das três maiores empresas do setor. Enquanto várias empresas ameaçam comprar, o empresário Sérgio Thompson-Flores, do grupo Infinity Bio-Energia, grupo fartamente alimentado por vários fundos estrangeiros, não perdeu tempo e pôs a mão na carteira. O ex-diplomata carioca já desembolsou mais de R$ 1 bilhão na compra de usinas este ano e diz que não vai parar por aí. O objetivo é simples, segundo ele. Tornar a Infinity uma das maiores produtoras globais de etanol. O que prova que 2008 terá animação e negócios de sobra no setor.