Daqui a dez anos, a agropecuária brasileira deverá produzir o suficiente para abastecer anualmente 200 milhões de brasileiros e gerar excedentes exportáveis para cerca de 200 países. Esse foi o cenário traçado pelo Ministério da Agricultura no estudo “Projeções do Agronegócio 2012/13 – 2022/23”. O documento, elaborado pelo Mapa, ressalta que esses núme- ros serão alcançados com investimento em tecnologia, visando a ampliação da produtividade e levando em consideração a sustentabilidade ambiental.

Esse panorama foi desenhado com base em um cenário otimista do futuro. De qualquer forma, para que se concretize, alguns pontos cruciais citados no relatório devem ser levados muito a sério, principalmente o que destaca o uso de tecnologias. No entanto, apenas isso não basta. O segmento do agronegócio possui um fator intrínseco ao seu surgimento, que compromete as expectativas traçadas pelo governo: a tradição familiar na gestão.

É fato que a grande maioria dos produtores inicia sua plantação ou criação de maneira artesanal. Eles contam, tradicionalmente, com o auxílio da família para realizar seu trabalho. O problema é que, a partir do momento em que a demanda pelos seus produtos cresce, os processos e a mão de obra não acompanham o mesmo ritmo. Desse modo, o perfil de produção familiar, sem planejamento e estratégia, mina as chances de crescimento e de aumento da produtividade de forma sustentável.

Num país em que boa parte do volume de alimento produzido pelo campo é oriunda de fontes capilarizadas, sobretudo por pequenos e médios produtores rurais, é importante que ações sejam tomadas para que a quantidade e a qualidade da produção aumentem com o passar dos anos ou, pelo menos, que esse crescimento da produção acompanhe a taxa de crescimento demográfico do planeta, já que o Brasil é uma das principais fontes de alimento do mundo.

Os grandes produtores já perceberam a importância do aprimoramento de processos em suas cadeias produtivas, para ganhar velocidade, qualidade e quantidade na produção. Esses empresários rurais, geralmente, contam com o auxílio de profissionais especializados em gestão e administração de negócios e prestam consultorias, sempre procurando tapar o gargalo por onde escoa o crescimento.

Nos últimos anos, as consultorias empresariais na agropecuária, apesar de serem em menor escala que no setor urbano, começaram a aparecer. Isso se deve ao fato de que o mercado já se deu conta de que com ajustes na gestão do negócio é possível ampliar a produção sem que os gastos sejam muito altos. Hoje, por exemplo, não é mais possível, dentro de um programa de gerenciamento sustentável, a compra de equipamentos, treinamento da equipe e, principalmente, decidir qual é a melhor forma de distribuição, sem um estudo dos principais problemas que afetam a propriedade rural e seus agentes fora da porteira.

Um dos fatores que influenciam o modo de produção é a falta de conhecimento em relação ao que a concorrência está fazendo. O estudo de mercado, muito comum antes e durante a abertura de qualquer negócio, é uma ferramenta muito útil para evitar prejuízos, direcionar o negócio e guiar a gestão de maneira eficiente. Apesar disso, essa prática ainda é pouco comum nos negócios agropecuários.

Portanto, para que as metas estabelecidas pelo governo federal para 2023 sejam atingidas, é necessário profissionalizar a gestão no campo, fazendo com que ela tenha o mesmo nível de precisão da utilizada nas indústrias. Para isso, o próprio poder público deve manter e ampliar os incentivos de crédito, para a compra de máquinas e equipamentos, e apoiar os produtores que pretendem investir em políticas para aprimorar sua eficiência.