Helicoverpa armigera, lagarta que ataca os botões florais, as flores e as maçãs do algodão, também causou grandes prejuízos em outras culturas, como a soja e o milho, somando perdas de quase R$ 10 bilhões no Brasil no ano passado. E, neste ano, os produtores ainda não poderão respirar aliviados. A ameaça continua. Uma vez que a praga se instalou no País, ela não será totalmente erradicada tão facilmente. O caminho, então, é aprender a conviver com o problema. “Não há uma solução isolada nem milagrosa”, diz João Carlos Jacobsen, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). “Precisamos da conscientização e do empenho do produtor para que essa lagarta fique sob controle.” 

A grande aposta da gigante Monsanto para conter o inseto é a tecnologia Bollgard II RR Flex, com a utilização de sementes transgênicas de algodão com o gene bt, um gene da conhecida bactéria Bacillus thuringiensis. Segundo Anderson Pereira, gerente técnico de algodão da Monsanto, com a modificação genética, a planta é capaz de produzir naturalmente uma proteína que funciona como uma toxina inseticida, agindo como um defensivo natural. Assim, quando a lagarta se alimenta da planta a proteína destrói o sistema digestivo do inseto e ele é eliminado. “A planta fica blindada”, diz Pereira. “Atualmente, é a solução mais eficiente no mercado brasileiro para o combate à Helicoverpa.” Pereira garante que a tecnologia é capaz de eliminar completamente pragas como o curuquerê do algodoeiro e a lagarta rosada. No caso da Helicoverpa, ela oferece proteção e promove a redução das aplicações de inseticidas. Além disso, a variedade é resistente à aplicação do herbicida glifosato, o que facilita o controle de plantas daninhas.

Para Jacobsen, da Abrapa, embora toda nova tecnologia seja bem-vinda, sozinho, esse transgênico não garantirá o sucesso da lavoura. De acordo com ele, houve um intenso trabalho para defender o algodão brasileiro, o que levou pesquisadores até a Austrália para conhecer de perto como os produtores de lá atuam, já que a Helicoverpa é uma velha conhecida naquele país. “Conseguimos observar e absorver boa parte da tecnologia australiana”, afirma. Na opinião de Jacobsen, é fundamental aprender a monitorar constantemente a lavoura e investir no manejo integrado de pragas, se necessário aplicando defensivos como o benzoato de emamectina e fazendo uso de biológicos. “E há a recomendação unânime de criar uma área de refúgio de 20% para o algodão.” 

A Monsanto também recomenda áreas de refúgio, de pelo menos 5% da propriedade destinada ao cultivo do algodão convencional. “É fundamental a adoção do refúgio estruturado, uma área que permite  a multiplicação de insetos suscetíveis à tecnologia”, afirma o gerente de Regulamentação da Monsanto, Renato Carvalho. Segundo Carvalho, essa medida visa impedir que as pragas se tornem resistentes à nova tecnologia. “O algodão bt tem excelente desempenho, como já foi comprovado em outros países, mas as boas práticas no campo são essenciais para garantir a sua longevidade”, afirma Pereira. O Bollgard II RR Flex, adotado há mais de dez anos na Austrália, foi aprovado nos Estados Unidos, em 2005, e também é empregado nas lavouras de países como Canadá, Japão, México e Colômbia. No Brasil, as sementes Bollgard II RR Flex foram introduzidas discretamente no mercado, na última safra, ocupando cerca de 5% da área plantada, algo em torno de 50 mil hectares. Para a safra 2014/2015, a Monsanto espera que a área de cultivo com o seu algodão bt quadruplique, para mais de 200 mil hectares. Enquanto, na última safra, a Monsanto disponibilizou quatro variedades de sementes de algodão com a biotecnologia Bollgard II RR Flex, para a temporada 2014/2015 serão seis variedades.