Quem vive do campo sabe muito bem disto: de tempos em tempos, a produtividade agrícola passa por ciclos de alta e de baixa em qualquer parte do mundo, ora por influência climática, ora pelas transformações da própria biodiversidade encontrada na natureza. Nos últimos dois anos, os Estados Unidos, maior produtor mundial de grãos, encararam essas duas indesejáveis realidades, consecutivamente. Depois de enfrentarem no ano passado a maior quebra de safra de milho e soja da história do país, causada pela pior seca desde 1988, os produtores americanos hoje estão frente a frente a um inimigo tão ameaçador quanto a falta de chuva: a resistência das plantas daninhas aos herbicidas convencionais, principalmente o glifosato, o defensivo mais comercializado em todo o planeta há quase 20 anos.“A resistência das plantas daninhas é, sem dúvida, o maior desafio da agricultura mundial dos próximos anos”, disse à Dinheiro Rural o cientista William Johnson, da Universidade de Purdue. “A mãe natureza faz com que todo tipo de vida se adapte às agressões externas o tempo todo e, se os produtores não souberem lidar com isso, perderão a briga”, afirma Christopher Hurt, chefe do departamento de economia Agrícola da Purdue.

Os números comprovam que as ervas daninhas super-resistentes exigem a atenção dos produtores rurais. A área infestada pelas plantas invasoras resistentes a herbicidas no território americano passou de 12,7%, em 2010, para 23,6% do total cultivado, no ano passado, segundo cálculos da consultoria AgriMarketing. Em algumas pequenas fazendas nos estados de Illinois, Iowa e Indiana, as perdas podem chegar a 70% neste ano. Nos casos mais extremos, alguns pequenos produtores estão limpando as lavouras com as próprias mãos – algo impensável e impossível nas grandes plantações. Os problemas de resistência também já são sentidos no Brasil, onde foram reportados por 51% dos produtores, segundo a Embrapa. “Os problemas na agricultura não respeitam as fronteiras”, afirma Mark Peterson, um dos mais renomados pesquisadores da Dow AgroSciences. “O que prejudica os agricultores americanos hoje pode ser um terror para os brasileiros amanhã e vice-versa.” Sabe-se, atualmente, que, entre as 50 principais plantas daninhas mais conhecidas em todo o mundo, 12 já ignoram completamente os efeitos dos herbicidas. O drama americano serve de alerta para os produtores brasileiros. A resistência das plantas daninhas surgiu exatamente pelo uso excessivo do glifosato. O produtor americano Brian Scott, que comanda uma fazenda de mil hectares de soja e milho no município de Monticello, no estado de Illinois, conhece como poucos esse desafio. Com faturamento anual de aproximadamente US$ 1 milhão, ele investiu neste ano cerca de US$ 60 por hectare para controlar o avanço das plantas invasoras. Há cinco anos, com a metade disso, ele conseguia manter a plantação protegida. “No ano passado, conseguimos garantir 70% das nossas perdas com a seca graças ao seguro, mas, como não existe proteção contra ervas daninhas, estamos preocupados caso o avanço saia do controle”, diz Scott. Algumas plantas, como o palm amaranthus – no Brasil conhecido como caruru –, podem consumir um investimento de até US$ 100 por hectare, uma projeção que inviabiliza a rentabilidade do produtor.

A indústria química já se movimenta para criar fórmulas capazes de combater a resistência das plantas daninhas. A grande aposta da Dow AgroSciences, que faturou US$ 6,4 bilhões no ano passado, para encontrar uma solução para esse desafio atende pelo nome de enlist, uma tecnologia de modificação genética que proporciona maior resistência das lavouras à aplicação de herbicidas, como o glifosato, o glifosinato e o 2,4-d, conhecido há mais de 60 anos. A estratégia da companhia inclui, ainda, a venda de um novo herbicida, resultado da mistura inédita de glifosato com o 2,4-d, uma poderosa composição capaz de controlar praticamente todas as plantas daninhas conhecidas atualmente. “As novas tecnologias que estamos desenvolvendo são capazes de ajudar a controlar as ervas daninhas atualmente, mas essa será uma briga constante”, afirmou à dinheiro rUrAL o Ceo mundial da dow AgroScience, o espanhol Antonio Galindez, do QG de indianápolis, no estado de indiana. “Estamos muito otimistas com as recentes descobertas e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para garantir a produtividade agrícola”, afirmou o executivo. Além de ser uma ferramenta para os produtores rurais, o enlist é a grande aposta da dow AgroSciences para competir com a tecnologia roundup ready, da também americana Monsanto, que terá uma segunda geração nos próximos anos. Outros concorrentes, como a DuPont, a Syngenta e a Bayer, estão no páreo. É esperar para ver.