Nos últimos 20 anos temos visto uma crescente e contínua demanda global por alimentos, fomentada principalmente pela ascensão das economias orientais. Tal cenário tem criado novas oportunidades e a vocação do Brasil para o agronegócio tem se mostrado mais evidente, consolidando-o, cada vez mais, como um dos principais segmentos econômicos e chamando mais a atenção do mercado financeiro como um todo.

Embora as raízes do agronegócio brasileiro se confundam com a própria origem do país, durante muito tempo o olhar do mercado financeiro se concentrou mais em outros segmentos da economia, sendo a agricultura financiada mais frequentemente por capital estatal e por empresas privadas ligadas ao segmento.

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Porém, com a contínua expansão da atividade agrícola, tal quadro começou a mudar. Se por um lado este crescimento alçou o Brasil a uma posição de liderança global, no segmento como um todo, por outro lado não se projeta nenhuma retração nesta demanda. Pelo contrário, o crescimento das economias “em desenvolvimento” continuará a impulsionar a demanda por alimentos. Adicionalmente, a grande disponibilidade de áreas degradadas para conversão para agricultura, em sua maioria utilizadas para a pecuária extensiva ou mesmo ociosas, tornam o Brasil a única opção no curto prazo de expansão em larga escala de áreas agricultáveis e o mais importante, sem derrubar florestas.

Além disso, a resiliência do segmento nas últimas crises tem tornado isso mais visível, mas essa mudança de “patinho feio” para “cisne” que observamos hoje não ocorreu do dia para a noite. Ela é fruto de um processo longo que tem origem na ocupação das áreas agrícolas pelo país, juntamente com o desenvolvimento tecnológico e o empreendedorismo do agricultor. Esses pilares começaram a ser construídos há mais de 50 anos, tornando clara a vocação e competitividade do Brasil na agricultura e possibilitando capturar a oportunidade apresentada e sustentar esse crescimento vertiginoso, sem perspectiva de retração.

Fatores como mudança de escala, potencial de expansão e resiliência a crises chamaram a atenção do mercado financeiro, que no passado fora mais reticente ao segmento, tanto pela complexidade intrínseca da atividade, como pela baixa visibilidade no que tange a clareza de instrumentos financeiros e governança.

A boa oportunidade apresentada, aliada à demanda crescente por recursos de funding, tem mudado o humor do mercado, que se esforça para entender melhor e tomar os riscos do segmento. Essa é uma grande oportunidade tanto para quem quer aplicar os recursos, como tomá-los, sendo o grande desafio para ambos tornar os riscos mais visíveis e mensuráveis. Em outros lugares do mundo onde o agronegócio já está consolidado na economia há mais tempo, tal qual nos Estados Unidos e Argentina, esses desafios já foram superados e o mercado financeiro tem relevante participação como fonte de financiamento ao segmento.

A ampliação das fontes de funding tem vital importância dentre as dores do crescimento do segmento agrícola. Por isso, cabe tanto aos provedores de recursos desenvolver estruturas e metodologias de mensuração de risco, como aos tomadores a responsabilidade de melhorar a qualidade dos seus relatórios financeiros, aumentando desta forma sua visibilidade e previsibilidade. No fim das contas, o que importa é incrementar volumes de captação e reduzir custos.

Em suma, já há algum tempo o agronegócio brasileiro é viável e competitivo da porteira para dentro, falta agora tornar isso visível ao investidor, cabendo aos interessados inovação e investimento em governança.

*Guilherme Grahl é associado da gestora Valora Investimentos