O trigo é o terceiro grão mais cultivado no planeta e é base da alimentação de 30% da população mundial, com uma produção anual de 700 milhões de toneladas. No entanto, nos últimos anos, houve queda de produtividade para esse cereal. As condições climáticas mais severas têm feito a colheita cair em diversas regiões do planeta, ora na Europa, ora nos Estados Unidos, comprometendo a produção para abastecer a crescente demanda mundial do trigo, um alerta que vem sendo dado pela Organização das Nações Unidas (ONU) nos últimos anos. Atenta ao problema, a Bayer CropScience, divisão de agronegócios do grupo alemão Bayer, está estudando esse mercado e estima que a produção tritícola precisa crescer 60% até 2050 para atender o consumo em ascensão. De olho nessa necessidade mundial, a companhia também busca uma oportunidade de negócio. Até 2020 será investido E 1,5 bilhão para o desenvolvimento de novas sementes de trigo, com maior produtividade por hectare e mais resistentes a pragas. As pesquisas, que começaram em 2010, serão submetidas aos testes iniciais no próximo ano. “As primeiras sementes serão plantadas na Ucrânia”, afirma Liam Condon, CEO global da Bayer. No Brasil, embora o trigo seja uma cultura de pouca expressão, na comparação com a soja e com o milho, tem um papel importante nesse processo de melhoramento genético. A Bayer, que ficou em primeiro lugar na categoria. Conglomerados Químicos, no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL em 2013, buscou no País parte da tecnologia para as novas sementes, em parceria com a gaúcha Biotrigo, dos irmãos André e Ottoni Rosa Filho.

No ano passado, graças ao trabalho conjunto, a Bayer teve acesso ao germoplasma, nome dado ao material genético do grão, desenvolvido pela Biotrigo. A semente pesquisada na empresa dos irmãos Rosa apresenta resistência a duas das principais pragas que afetam o trigo: a giberela e a brusone. “O Brasil é o país onde há mais problemas no cultivo do trigo”, afirma André Rosa, diretor de negócios da Biotrigo. “Por isso, o interesse no germoplasma que desenvolvemos.” A partir da tecnologia brasileira, os parceiros alemães poderão levar essa solução para qualquer lugar .

O plano da Bayer é ter a nova variedade de trigo pronta para ser lançada no mercado mundial em 2020, começando pela América do Norte e Europa, principais celeiros mundiais. “Dessa forma, também poderemos entrar com sementes de trigo no Brasil e na Argentina, a partir das adaptações para esses países”, diz Marc Reichardt, líder global de operações comerciais da Bayer CropScience. Segundo ele, o
trigo deve bater recorde de produção neste ano. A previsão é de que sejam colhidos 7,5 milhões de toneladas do grão para a safra de 2014, um crescimento de 36% em relação a 2013, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimentos (Conab). Além de ganho de produtividade em 12%, houve aumento da área plantada com o grão em 21% no período. 

Os investimentos em desenvolvimento de novas sementes de trigo fazem parte do plano global de pesquisa e desenvolvimento da Bayer no agronegócio. A companhia destinou neste ano E 950 milhões para inovação, dos quais 64% são para a área de defensivos químicos e biológicos. Para 2015, está reservado mais E 1 bilhão para pesquisas. O investimento, de acordo com o CEO mundial Condon, é justificado  ela
expectativa de crescimento da demanda por insumos agrícolas. “Acreditamos que esse mercado deve dobrar até 2020, chegando a E 100 bilhões”, afirma. Os novos produtos lançados desde 2006 devem representar E 1,8 bilhão em vendas neste ano e chegar à marca de E 2,6 bilhões em 2016. No ano passado, o receita da Bayer CropScience foi de E 8,8 bilhões, um aumento de 5,2% em relação a 2012. 

Mas não é apenas o trigo que chama a atenção da companhia. Como dificilmente poderia deixar de ser, sua aposta principal é a variedade de soja batizada de Credenz, cujas primeiras sementes desembarcarão no País em 2016. Aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biosegurança (CNTBio), a semente, com genes resistentes a herbicidas à base de glufosinato de amônio, deveria ter chegado no passado, mas
ainda depende da aprovação da China, principal importador do grão.