A safra 2013/2014 brasileira de grãos foi encerrada com um volume de quase 194 milhões de toneladas. A próxima, que começa a ser plantada dentro de poucos dias nas principais regiões produtoras do Centro-Oeste, será a safra da virada. Para o período 2014/2015, a projeção é colher pelo menos 200 milhões de toneladas de grãos, volume que equivale a um crescimento próximo de 3%. “Estamos fazendo uma previsão conservadora para a próxima safra”, diz Fábio Moitinho 25 Nery Gueller, ministro da Agricultura (Mapa). “O crescimento da demanda, principalmente de soja e milho, será menor no mercado externo e um pouco maior no interno.” Para o ministro, apesar de uma nova safra recorde à vista, é preciso cautela.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês) estima para o Brasil uma safra maior no período 2014/2015, especialmente de soja. Para o órgão americano, a produção pode chegar a 91 milhões de toneladas, o que representaria uma alta próxima de 4% ante os 87 milhões colhidos na safra 2013/2014. No entanto, para o milho brasileiro a previsão é de queda, passando de 78 milhões de toneladas para 74 milhões de toneladas. A pressão sobre o cereal já vem desde o início de 2013, confirmada pelo Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), de Piracicaba. No ano passado, a cotação do cereal caiu 22%. Neste ano, entre janeiro e meados do mês passado, a queda estava em quase 15%, fechando a saca de 60 quilos por R$ 22 como média nacional. 

A pressão sobre a próxima safra, principalmente em relação aos preços futuros, tem influência direta do que vem ocorrendo nos Estados Unidos. O Usda estima que os americanos colherão na atual safra que vem sendo tirada do campo 356 milhões de toneladas de milho, resultado levemente inferior à safra 2013, ano em que a produção foi de 349 milhões de toneladas. Para a soja americana, a previsão é de 103 milhões de toneladas, o que deve representar uma alta de cerca de 16% para a oleaginosa. “Nos Estados Unidos, apesar de o milho ter apresentado uma queda de área, os ganhos em produtividade foram maiores, de 10,5 toneladas por hectare”, diz Ana Luiza Lodi, analista do Departamento de Inteligência de Mercado da INTL FCStone. “Isso tem influenciado o mercado como um todo.” 

Para fazer frente aos desafios da safra 2014/2015 no País, entidades como a Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil) levantam como principal bandeira do setor a redução dos custos de produção. De acordo com um estudo da entidade, os insumos, entre eles os agroquímicos e sementes, são apontados como os itens que mais deverão pesar no bolso do produtor. A Aprosoja já avaliou o cenário para algumas regiões agrícolas e os primeiros números mostram prejuízos no campo. “Em algumas regiões, o custo por saca colhida ultrapassa os ganhos”, diz Fabrício Rosa, diretorexecutivo da entidade. Em Sorriso (MT), um dos municípios que mais produzem grãos no País, a renda bruta total chegaria a R$ 2 mil por hectare, ante um custo de R$ 2,3 mil. O pior cenário é o de Chapadão do Sul (MS), onde os custos chegariam a R$ 2,9 mil por hectare, o que resultaria em perdas de R$ 453 por hectare.

De olho nesse horizonte não tão promissor em termos de custo de produção, a Aprosoja/MT, uma das filiadas da entidade nacional, está orientando seus associados para que busquem uma gestão que favoreça a sustentabilidade econômica da atividade. Com esse objetivo, estão acontecendo desde o mês passado 22 encontros nas principais regiões de cultivo do Estado. “De fato, a palavra-chave vai ser gestão de custos”, afirma Luiz Nery Ribas, diretor-técnico da Aprosoja/MT. Monitorar os detalhes dos gastos operacionais com mão de obra, máquinas e tratos culturais deve ser lei nas lavouras. Para Ribas, é o que vai pesar na balança em favor do produtor, já que a intenção do setor é de aumento da área plantada. Mato Grosso deve sair de 8,2 milhões de hectares de soja para 8,7 milhões na safra 2014/2015. O produtor Gilberto Flávio Goellner, presidente e fundador do grupo Girassol Agrícola, de Rondonópolis (MT), com unidades de produção de soja, milho, algodão e gado, acredita que possa chegar a 20% de redução dos custos na fazenda. “Uma cultura pode ajudar no custo da outra”, diz Goellner. “No meu caso, essa redução virá de gastos menores de algodão de ciclo mais curto que vou plantar nesta safra.” 

No Paraná, o segundo maior produtor de soja do País, a estimativa de crescimento de área é semelhante à de Mato Grosso. Mas, de acordo com Juliana Yagushi, engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado de Agricultura do Paraná, a área de soja ampliada vem das culturas de milho de verão e de feijão. “A oleaginosa ainda é a mais vantajosa para o produtor”, diz Juliana. A cotação da soja no Paraná chegou a R$ 57,50 por saca de 60 quilos, ante R$ 18,80 para o milho. “É quase três para um.”