O foco de febre aftosa encontrado na cidade de Surrey, sul da Inglaterra, transformou-se numa espécie de balde de água fria nos interesses de pecuaristas europeus. Havia meses que produtores irlandeses pressionavam as autoridades sanitárias da União Européia, fazendo diversas denúncias contra a sanidade e a qualidade da carne brasileira. Até mesmo uma missão extraoficial foi mandada ao Brasil para colher dados e fazer uma série de denúncias contra o modelo de criação nacional. As pressões colocaram em dúvida o trabalho realizado pelos comissários da União Européia. Autoridades da entidade rechaçaram as acusações de forma dura e o governo irlandês, atual algoz da carne brasileira no mercado internacional, teve de amenizar o tom de suas declarações. Mas, como palavra falada não volta atrás, ficou no mercado a dúvida acerca da qualidade das missões enviadas ao País. Por causa desse conturbado cenário, analistas acreditavam na hipótese de um aumento de rigor na próxima visita oficial, que acontecerá até o fim do ano. Porém, com o advento da febre aftosa em solo britânico, há quem duvide que isso seja possível. “Antes da contaminação já faltava carne no mercado, agora então o Brasil será muito necessário”, diz o analista de mercado Alcides Torres Jr., da Scot Consultoria. “Caso a Comissão da União Européia entenda que deva apertar a auditoria e embargue a carne brasileira, “não haverá carne no mercado.”

“O Brasil tem feito um bom trabalho, mas precisa melhorar sua rastreabilidade”

JOÃO PACHECO, embaixador da União Européia

O momento, segundo Torres, pode até ser favorável às exportações brasileiras, mas isso não quer dizer que não existam problemas. “O Sisbov (sistema responsável pela rastreabilidade do gado) possui muitas falhas e, se os europeus quiserem, eles complicam a situação”, comenta. Os problemas identificados pelo consultor são os mesmos observados pelo embaixador da União Européia no Brasil, João Pacheco. “O Brasil tem feito um bom trabalho no combate à febre aftosa, mas precisa melhorar a maneira como rastreia o seu rebanho”, diz. Segundo ele, as exigências feitas ao País são as mesmas impostas aos pecuaristas europeus e existem pressões tanto para faciliar quanto para dificultar o avanço da carne brasileira na Europa. “Mas isso não afetará as próximas visitas, que manterão seu caráter técnico”, afirma. Se houver problemas graves, de acordo com Pacheco, “providências serão tomadas. “Mas, até agora, tudo está indo bem”, diz.