A paixão pelas cavalgadas levou o administrador e pecuarista Carlos Oscar Niemeyer a um feito inusitado. Em 2007, ele definiu um roteiro para comemorar o centenário do seu avô, Oscar Niemeyer, um ícone da arquitetura moderna, falecido em 2012. Naquela época, o maior arquiteto brasileiro ficou surpreso com a homenagem do neto e sugeriu-lhe que distribuísse livros durante a viagem. “O resultado dessa ideia do meu avô foi emocionante, as crianças pesquisaram sobre ele e participaram ativamente do projeto.” A longa cavalgada  de 813 quilômetros, com trajeto cumprido em 19 dias, da mineira Goianáaté o município paulista Barretos, deu tão certo que o hobbie de Niemeyer, carioca, 50 anos, transformou-se numa atividade rotineira, com o objetivo de incentivar os pequenos a ler livros. Essa cavalgada de 2007 fez com que o empresário fundasse, no ano seguinte, a Associação Cavaleiros da Cultura, em Rio Novo, a cerca de 50 quilômetros de Juiz de Fora, município onde ele cria gado girolando e guzerá, e a 300 quilômetros da capital mineira, Belo Horizonte. 

De lá para cá, os Cavaleiros da Cultura já doaram mais de 600 mil livros. “Queremos comemorar a marca de um milhão de livros em 2016”, diz ele. Segundo Carlos, que é presidente da associação, a entidade atualmente conta com 40 associados. O número de integrantes das cavalgadas varia de cinco a 25 participantes, a maioria deles donos de mulas. “Apenas dois associados viajam com cavalos, da raça mangalarga marchador”, diz o presidente. “Preferimos as mulas, são animais bons para viajar, mansos e de andamento confortável”. Para ele, uma das vantagens das cavalgadas da associação é a organização. “Eu faço a reserva da hospedagem e planejo tudo com antecedência para não termos nenhum erro na rota e imprevistos.” O grupo segue num ritmo de 40 quilômetros por dia e gerencia bem o tempo. “Não temos pressa, a viagem é tranquila”, diz. “Nosso objetivo é apreciar cada momento da viagem, vislumbrar as belezas da natureza.” O ritmo mais descansado também visa o bem-estar animal. Eles viajam das 6h às 14h e depois é só descanso. “Nossos animais sempre são os primeiros a serem cuidados e alimentados.”

Cada cavaleiro leva cerca de dez kits de leitura, contendo entre três e seis livros cada, no alforje do animal. O grupo sempre é seguido por uma camionete de apoio, com mais de 500 livros, um ferreiro a postos e suprimentos, como a alimentação dos tropeiros e medicamentos. A elaboração da logística é minuciosa. As prefeituras das cidades que estão no caminho são contatadas e há o planejamento
das doações pelo menos três meses antes da cavalgada. A maior parte dos livros segue viagem num caminhão, ficando para a cavalgada o necessário para uma distribuição pontual durante o percurso. Entre as cavalgadas já realizadas, destacam-se o itinerário em homenagem aos 50 anos de  Brasília, de Belo Horizonte à Capital Federal, realizada em duas etapas, em 2008 e 2009. Mas, a mais longa  empreitada da associação foi no ano passado. O roteiro de 910 quilômetros durou 24 dias, com saída da sede da associação, em Rio Novo até Nova Viçosa, na Bahia. “Foi uma das viagens mais bonitas que fizemos”, fiz. 

Para que o projeto funcione, a associação conta com parceiros fieis, de empresas que fornecem rações e medicamentos gratuitamente para os animais dos associados aos doadores de livros, como a Paulus Editora, de São Paulo, apoiadora da Cavaleiros da Cultura desde 2008. No ano passado, por exemplo, a editora doou 35,3 mil obras. Segundo Elisandra Oliveira, coordenadora do programa Direito e Cidadania da Paulus, a editora mantém um trabalho social com ONGs voltado para o fortalecimento da convivência familiar e a capacitação de educadores. “O material de apoio desse programa são kits infantis e juvenis, com cinco livros cada”, diz ela. “Os livros abordam temas relacionados à cidadania e convivência familiar.” Segundo Elisandra, através dos Cavaleiros da Cultura, a editora amplia a atuação dessa iniciativa. “Os cavaleiros têm uma capilaridade bem interessante, alcançando escolas do interior do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia”, afirma. “Além disso, é uma maneira bem diferente e lúdica de fazer esse material chegar às crianças.” 

Carlos lembra que os cavaleiros são recebidos festivamente pelos estudantes quando chegam às escolas. “As crianças sempre nos recebem muito bem”, diz ele. “Cultura não é um presente muito comum de
se dar, gera surpresa e alegria.” Além das cavalgadas, neste ano, a associação está planejando outros projetos, entre eles eventos para contação de histórias e uma festa literária, na sede da entidade.