Do alto do Morro da Igreja, ponto mais elevado de Santa Catarina, localizado na cidade de Urubici, pode-se avistar boa parte da produção agrícola da serra catarinense. A paisagem ostenta uma beleza natural incomparável, ora coberta por uma fina camada de gelo, ora colorida pelos intermináveis campos cultivados com macieiras. Dessas lavouras sai grande parte da produção nacional de maçã, que na safra de 2010 girou em torno de 1,3 milhão de toneladas. Seriam números excelentes e vistosos para o agronegócio brasileiro se não fosse um detalhe muito preocupante: o setor enfrenta a pior crise de sua história. O preço do quilo da maçã, R$ 0,40 em média, não cobre sequer o preço do custo de produção, que é de R$ 0,55. A situação é tão grave que já se fala no desaparecimento dos médios e pequenos produtores, que não têm renda para investir na próxima safra ou pagar as dívidas com os bancos. Entidades representativas protocolaram junto ao Ministério da Agricultura pedidos de moratória para o setor, mas as dívidas começaram a vencer em 15 de julho e ainda não houve um posicionamento oficial quanto ao socorro. Os produtores correm contra uma bomba-relógio. “Se demorar mais, não sei o que será dos produtores. A maioria já começou a vender terras para quitar suas dívidas junto aos bancos”, conta Olivério José de Lima, produtor de maçã e presidente do Sindicato Rural de Urubici. Somente em sua região, existem 1,5 mil produtores de maçã, que cultivam campos de cinco a dez hectares, em média. “Todos estão com problemas de crédito, sem exceção.”

O endividamento dos produtores, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Maçã e Pêra de Santa Catarina, Amap, Antônio Carlos Anselmo, é resultado de vários fatores desencadeados desde a crise de 2008. “Com a crise mundial, ao contrário do que pensávamos, houve uma brusca redução nas exportações e sobrou muito produto no mercado interno. Os produtores estão mal remunerados e não têm como quitar as dívidas junto aos bancos”, explica. Segundo ele, há 85 mil toneladas de maçã excedentes no mercado da última safra. “Se tivéssemos conseguido exportar 200 mil toneladas, já seria satisfatório, mas as exportações atingiram 115 mil toneladas de maçã.” Pierre Nicolas Perés, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã, ABPM, vai além e destaca que a falta de organização do setor na área da comercialização também é uma das causas da crise.”Existe uma falta de controle na venda do produto, a oferta está desorganizada e esta situação chegou a um ponto insustentável. O produtor não domina mais a cadeia como um todo”, diz ele. “Temos uma boa produção e produtos de altíssima qualidade, mas estamos desorganizados para a comercialização do produto.”

Em junho, a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina e o Sindicato Rural de Urubici protocolaram junto ao Ministério da Agricultura um pedido de moratória que atinge todas as dívidas de contratos firmados até o final de maio deste ano. O prazo solicitado no documento é de 30 anos, mas segundo Lima, o prazo de 15 anos já seria “um alívio”. “Uma outra preocupação é que a moratória não impeça os produtores de ter acesso a novas operações de crédito para safras futuras. “Ainda não tivemos uma posição oficial do ministro Rossi, mas acreditamos que isso acontecerá em breve”, diz Lima. Anselmo afirma que se não houver essa intervenção de socorro até o final deste ano, o setor pode falir em cinco anos. “É uma situação realmente grave. Se não houver uma interferência imediata, os pequenos e médios produtores de maçã vão desaparecer. Estamos vivendo a pior crise da história da maçã no Brasil.”