Há tempos, Renato Daher, 55 anos, de Londrina (PR), vinha notando diferenças no aspecto do solo em suas propriedades, as fazendas Cachoeirinha e São Luiz, que somam 400 hectares. “Fiquei sabendo que havia novas soluções que podiam mostrar o que estava acontecendo”, diz Daher. “Eram esses aplicativos de agricultura de precisão. Eles dizem exatamente o que ocorre nas minhas terras.” A solução encontrada pelo produtor rural deu certo. As diferenças tinham a ver com baixos níveis de fertilidade e de biomassa no solo. A informação apareceu na tela do celular de Daher, logo após ele colocar num aplicativo os dados da sua área e produção.

“Há espaço para todos (os aplicativos). Especialmente, para os que resolverem os problemas dos produtores” Pedro Dusso,CEO da Aegro (Crédito:Divulgação)

A experiência é bem recente. Aconteceu no início deste ano, com o cultivo da soja. Mas já foi o suficiente para que o produtor paranaense se tornasse de vez um integrante do universo de fazendeiros digitalizados, passando a monitorar as lavouras remotamente pela tela do smartphone ou do tablet. “O aplicativo é muito prático e fácil de usar”, diz. “Espero padronizar toda a minha área e, com isso, produzir mais.” Hoje a produtividade média por hectare de Daher é de 70 sacas de soja, 117 sacas de milho e 58 sacas de trigo. “Nossos números são bons, mas acredito que ficarão bem melhores com o uso desse aplicativo”, destaca.

O app que resolveu o problema de Daher é o Skyfield, desenvolvido pela fabricante alemã de defensivos Helm. Com escritório em São Paulo, a empresa faturou US$ 147 milhões no ano passado, com a venda de agroquímicos de patente expirada. Lançado no início deste ano, o Skyfield está sendo testado gratuitamente, mas em breve será cobrado. O valor ainda não está definido. Ele será oferecido diretamente em revendas agropecuárias e com grande chance de ser uma das opções mais baratas do mercado. Deverá custar a metade do valor cobrado por outras plataformas digitais, como o Climate Corporation, da Bayer, e o Strider, da Syngenta. Esses serviços custam atualmente de R$ 9 a R$ 30 reais por hectare. “O Brasil ganha uma atenção especial, por ser um expoente no agronegócio mundial, figurando entre os maiores produtores e mercados. O País terá um protagonismo muito grande no futuro”, afirma Stefan Strietzel, CEO da Helm no Brasil. “Investir no Brasil e procurar formas de aprimorar o setor é algo natural”.

DISPUTA SAUDÁVEL Além da Helm, há outras startups muito interessadas em alcançar o pequeno produtor rural, como as gaúchas Aegro e Checkplant. Nessa disputa, ganha quem angariar mais adeptos de uma legião de 15 milhões de habitantes no campo – três pessoas para cada um dos 5,1 milhões de estabelecimentos agropecuários no País, segundo o IBGE. “Grande parte desse número é de pequenos produtores, com fazendas de cerca de 50 hectares”, afirma o cientista da computação Pedro Dusso, CEO da Aegro. “Por isso, acredito que há espaço para todos. Especialmente, para quem conseguir resolver os problemas dos produtores.”

“O Brasil ganha atenção especial, por ser expoente do agronegócio mundial e um dos maiores produtores” Stefan Strietzel,
CEO da Helm Brasil (Crédito:Divulgação)

Os pontos fortes do Skyfield são a geração de mapas de quantificação de biomassa da lavoura e o planejamento de adubação e semeadura em taxa variável. O aplicativo faz análises de imagens de satélite da propriedade e traça as recomendações. Além de Daher, outros 100 produtores também já estão testando a ferramenta digital. A empresa estima dobrar esse número até o início da safra 2019/2020, além de passar a comercializar a plataforma. “A venda do nosso app não está relacionada à comercialização dos nossos produtos”, diz Cristiano Pinchetti, CFO da Helm. “Poderá até sair de graça, dependendo da negociação com a revenda agrícola.”

Já o aplicativo da Aegro permite ao produtor acompanhar todas as operações no campo e seus respectivos custos financeiros e de uso de insumos. Atualmente, a plataforma conta com uma base de 650 usuários, entre produtores e consultores agrícolas, monitorando atualmente 1,1 milhão de hectares pelo País, número que deve aumentar significativamente a partir de julho. É que o app da startup gaúcha passará a ser distribuído gratuitamente aos produtores cadastrados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e com sua respectiva Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). “A plataforma será oferecida na íntegra, ficando de fora apenas os canais exclusivos de atendimento”, diz Dusso. “É uma forma de democratizar a agricultura digital no Brasil”. Hoje, a assinatura mensal do serviço da Aegro custa R$ 299.

Outro app que promete facilitar o trabalho do homem do campo é o Farmbox, de outra startup gaúcha, a Checkplant. A ferramenta permite ao produtor administrar a gestão dos custos dos insumos, o monitoramento de pragas e a aplicação de agroquímicos. E ainda oferece opções de janela de plantio. “A democratização digital é um caminho natural no agronegócio”, diz Guerreiro Cantanelli, CEO da Checkplant. “Teremos opções bem econômicas aos pequenos produtores até o próximo ano.” Hoje o Farmbox soma 1,1 mil hectares monitorados no País, com custo inicial aos usuários de
R$ 8 por hectare. A versão mais econômica deve ficar entre R$ 4 a R$ 5.