O que a pequenina vespa Aphidius matricariae, que tem cerca de três milímetros, pode fazer numa plantação? O maior estrago. Mas, para a felicidade do agricultor, não é o tipo de estrago que ameaça sua lavoura. Muito pelo contrário: para se reproduzir, essa vespa utiliza um hospedeiro como ninho para depositar seu ovo fecundado. Nesse caso, o “ninho” são algumas espécies de pulgões, insetos odiados pelos agricultores por infestarem plantações, como as de algodão e tabaco. Assim, quando a larva da vespa nasce, ela cresce dentro do pulgão, comendo-o por dentro até levá-lo à morte. Essa vespa é apenas um exemplo dos produtos oferecidos pela Koppert, multinacional holandesa que comercializa várias espécies de insetos, fungos e outros organismos vivos capazes de combater pragas, com o objetivo de complementar ou mesmo substituir o uso de defensivos químicos. Com um faturamento de E 120 milhões, a Koppert é uma das maiores empresas de polinizadores e defensivos biológicos do mundo, um setor que ainda engatinha no Brasil.

No entanto, a tendência é de que a situação mude e o mercado brasileiro de biológicos deslanche. O setor, ainda pulverizado e informal, vive um forte momento de consolidação. Um recente movimento de aquisições mostra que as gigantes dos defensivos químicos, entre elas a Bayer CropScience, a Syngenta, a Basf e a Monsanto, também estão de olho nessa oportunidade. Outras empresas também estão se fortalecendo no País e ampliando a produção de defensivos biológicos. “Está havendo uma corrida a esse tipo de produto”, diz o diretor comercial da Koppert do Brasil, Gustavo Ranzani Herrmann, que também é presidente da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico. A entidade estima que existem cerca de 80 empresas no Brasil e que a maioria delas trabalha com produtos sem registro. “A entrada de grandes empresas provocará uma concorrência salutar, que vai dar credibilidade para esse tipo de produto”, afirma Herrmann.

O projeto brasileiro da Koppert começou em 2008, mas somente em 2011 ela montou uma subsidiária em Piracicaba, no interior de São Paulo. No ano passado, a empresa comprou a paulista Itaforte BioProdutos, de Itapetininga, e fincou os pés de vez por aqui. Com a aquisição, a Koppert passou a comercializar três produtos formulados com fungos. “A Itaforte foi a nossa maior aquisição no mundo”, diz Herrmann. Com um plano ambicioso de expansão no Brasil, a Koppert pretende investir US$ 5 milhões em pesquisa, para implementar um portfólio de produtos específicos ao País e já planeja construir uma biofábrica em Piracicaba. O ritmo de lançamentos deverá ser de três novos produtos por ano. “A meta é atingir um faturamento de US$ 20 milhões no Brasil, em cinco anos”, diz Herrmann.

A Bayer CropScience é outra entusiasta desse mercado. A gigante alemã adquiriu a americana AgraQuest, em 2012, e a Prophyta, sua compatriota de Malchow, no Estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, em janeiro deste ano. As duas empresas desenvolvem produtos compostos por micro-organismos, como fungos e bactérias benéficos à lavoura. “Entrar no mercado de biológicos é uma política global”, diz Mauro Alberton, diretor de estratégia de marketing de portfólios da Bayer. “Nos mais diferentes mercados, a demanda por esse tipo de produto é crescente.” A Bayer estreou no mercado brasileiro de biológicos em março deste ano, com o fungicida Serenade, indicado para as culturas de cebola, maçã e morango. Agora, a meta é expandir o produto a outros cultivos.

No mesmo ritmo está a suíça Syngenta, que se prepara para lançar o primeiro biológico de seu portfólio nos Estados Unidos, em 2014. Desde já, porém, o mercado brasileiro está em avaliação. O produto será um tratamento de semente para o controle do nematoide de cisto da soja, com o uso de uma bactéria natural do solo, chamada Pasteuria. O lançamento do produto começou em setembro do ano passado, após a compra, por US$ 86 milhões, da americana Pasteuria Bioscience, com a qual a Syngenta mantinha uma parceria para desenvolver pesquisas na área. “Nossa parceria com a Pasteuria mostrou que é possível um controle superior de nematoides, em uma grande variedade de aplicações”, afirma John Atkin, diretor de operações da Syngenta. “Assim, de agora em diante, vamos ofertar aos agricultores controles biológicos integrados.”

No caso da Basf e da Monsanto, duas empresas que também fizeram aquisições de porte no setor, ainda não se sabe como elas vão repercutir no mercado brasileiro. A Basf comprou por US$ 1 bilhão, em novembro do ano passado, a americana Becker Underwood, especializada no tratamento de sementes. A Monsanto, por sua vez, adquiriu, em janeiro deste ano, a Agradis, dos Estados Unidos, que utiliza micróbios para proteger as culturas de milho e trigo.

Enquanto as gigantes da indústria agroquímica se organizam, as empresas brasileiras seguem em plena ascensão no País. É o caso da Bug Agentes Biológicos, também de Piracicaba, considerada a empresa brasileira mais inovadora de 2012, de acordo com um ranking da revista americana Fast Company. A Bug comercializa cartelas com ovos que dão origem à vespa Trichogramma galloi, eficaz no combate de pragas na cana-de-açúcar. Agora, está desenvolvendo uma nova embalagem, para que seja possível realizar a aplicação aérea do produto. “A grande expectativa é ampliar as áreas tratadas”, diz o diretor Diogo Carvalho. “Estamos planejando um salto de crescimento.” Juntamente com o sócio Heraldo Negri, Carvalho está negociando a captação de recursos com um investidor para construir uma nova fábrica. Hoje, eles produzem vespinhas suficientes para tratar 1,2 mil hectares de cana-de-açúcar por dia, mas querem aumentar a capacidade para cinco mil hectares. Além disso, há novidades a caminho. “Aguardamos o registro de um produto para controlar o percevejo da soja e outro para combater a traça do fumo”, diz Carvalho. “Vamos crescer nesse mercado.”

Outras pequenas empresas do setor seguem a trilha aberta pela Bug. A novata ABR Controle Biológico, criada em abril de 2012, em Uberlândia (MG), também comercializa cartelas com ovos parasitados da vespa Trichogramma. Com investimentos de apenas R$ 400 mil, o empresário Éder Barros está otimista. “É um mercado promissor, diversificado, e a procura tem sido muito grande”, diz. “No fim do ano passado, foi difícil atender à demanda, porque não havia estoque suficiente.”

Embora o Brasil seja o segundo maior mercado mundial para os fabricantes de defensivos agrícolas, atrás apenas dos Estados Unidos, com faturamento superior a R$ 19 bilhões, em 2012, o peso dos biológicos ainda é muito pequeno. Mas o cenário brasileiro nunca foi tão favorável a esses “produtos verdes”. Desde 2010, o Ministério da Agricultura vem incentivando os biológicos, promovendo eventos e mantendo um técnico exclusivamente dedicado ao registro de produtos dessa área. Segundo o coordenador geral de agrotóxicos do ministério, Luís Rangel, a medida já surtiu efeito. “Em 2010, cerca de 2% dos defensivos registrados no Brasil eram biológicos”, diz. “Hoje, já são 5%.” O importante é que o governo parece estar convencido de que tem interesse em fomentar esse tipo de produto. “Até 2020, queremos que os biológicos representem 10% dos produtos registrados.”