US$ 200 MILHÕES foi quanto a Monsanto desembolsou pela Alellyx e CanaVialis

O Brasil sempre esteve nos holofotes da Monsanto por ser um grande “cliente” das tecnologias da multinacional. Mas agora, além de receber, o País se tornou o centro mundial de pesquisas de canade- açúcar e será base de exportação dos produtos deste segmento para outros países. O posto de líder em pesquisas com a gramínea foi conquistado no mês passado, quando a Monsanto anunciou a compra das duas principais empresas do setor, a CanaVialis, maior companhia privada de melhoramento de cana-de-açúcar do mundo, e a Alellyx, empresa de genômica focada em pesquisas com a gramínea. “Foi a oportunidade de entrarmos em uma nova plataforma além da soja, do milho e algodão em que já atuamos”, diz André Dias, presidente da Monsanto do Brasil. O desembolso para a aquisição foi de US$ 290 milhões e é o terceiro aporte da multinacional no País no último ano. Para Hugh Grant, presidente mundial da Monsanto, “a Alellyx e a CanaVialis possibilitarão aumentar a produtividade da cana-de-açúcar sem aumentar a área cultivada”.

PROFISSIONAIS DE PONTA: Alellyx e CanaVialis contam com os melhores pesquisadores do mercado

A CanaVialis e a Alellyx pertenciam à Votorantim Novos Negócios. Embora a aterrissagem no setor sucroalcooleiro tenha se concretizado em pleno furacão da crise financeira, Fernando Reinach, diretor-executivo da divisão, salienta que a data foi apenas uma coincidência. “A venda é um processo que vem sendo negociado há oito meses”, diz. O relacionamento entre Monsanto e Votarantim Novos Negócios remete há pouco mais de um ano, quando as duas firmaram uma parceria para o desenvolvimento de uma cana-de-açúcar geneticamente modificada tolerante a herbicidas à base de glifosato (RR) e resistente a insetos e pragas (BT). A aquisição não muda em nada a rotina das empresas, que, segundo Dias, continuarão sendo geridas de forma separada. “Sempre soubemos que algum dia a Alellyx e a CanaVialis teriam que se associar a uma grande companhia de biotecnologia. Com a Monsanto, o processo para se chegar a novos produtos vai acelerar”, diz Reinach.

O fato é que o setor canavieiro representa para a Monsanto uma grande oportunidade. Só para se ter uma idéia, a produção de etanol no Brasil saltou de 15,9 bilhões de litros na safra 2005/2006 para 22,4 bilhões de litros no ciclo 2007/2008. No mês passado, a produção automotiva brasileira bateu a marca de sete milhões de carros flex. Em açúcar, o salto foi de 25,9 milhões de toneladas em 2005/2006 para 30,7 milhões de toneladas em 2007/2008. Para a safra atual, a previsão é que a região Centro-Sul tenha incremento de área da ordem de 917,9 mil hectares. Só o Estado de São Paulo deve crescer 483 mil hectares. Já o Paraná deve registrar um incremento de 605 mil hectares, Minas Gerais 90,4 mil e Goiás 432 mil hectares, proporcionalmente a maior expansão em relação ao ciclo anterior.”Quando você olha globalmente, a cana é a cultura com menos área plantada. Há 20 milhões de hectares no mundo, sendo sete milhões no Brasil”, pontua Dias. Essa realidade coloca o Brasil em posição de destaque, afinal o centro mundial de pesquisas em cana-de-açúcar da Monsanto no mundo será em cima de ciência nacional e de pesquisadores brasileiros. O primeiro produto será lançado no ano quem vem pela CanaVialis. Trata-se de uma variedade de cana convencional de ciclo precoce com maior teor de sacarose. “É no início da safra que os usineiros têm maior carência de cana-de-açúcar de boa qualidade”, explica Ricardo Madureira, presidente da CanaVialis e Alellyx. De qualquer forma, o executivo salientou que os testes de campos já estão sendo feitos nas 73 usinas que são clientes da empresa. Quanto às canas transgênicas BT e RR, Madureira explicou: “Já temos testes de campos aprovados pela CTNbio. O lançamento deve acontecer em cinco ou seis anos.”

A CANA É UMA OPORTUNIDADE PARA NÓS

Hugh Grant, CEO da Monsanto, fala da entrada

da multinacional no setor

HUGH GRANT: “O Brasil é líder e não deve perder o posto”

DINHEIRO RURAL – O que levou a Monsanto a entrar no setor sucroalcooleiro?

HUGH GRANT – A oportunidade, já que o mundo está começando a se dar conta da importância dos biocombustíveis. Isso não é segredo para ninguém no Brasil, que vem encabeçando mundialmente o setor. A Alellyx e a CanaVialis são o primórdio do trabalho de aumentar a produtividade, de modo a termos mais açúcar sendo produzido sem aumentar a área cultivada. É uma demanda do setor congruente com nossa estratégia empresarial.

RURAL – O barril de petróleo caiu abaixo de US$ 50, o que afeta os biocombustíveis. Isso preocupa a Monsanto?

GRANT – A Monsanto está investindo num horizonte de cinco a dez anos. O petróleo custa US$ 50 hoje e custava US$ 160 antes. É preciso ver além disso. A projeção de longo prazo é de que o petróleo aumentará e novas fontes de energia serão necessárias. As empresas que avançarem em biocombustíveis, com vistas a aumentar a área cultivada, terão grandes oportunidades de negócio.

RURAL – Como o Brasil fica neste cenário?

GRANT – O Brasil é líder nesse setor e não deve perder o posto. Os EUA têm a meta de adicionar 10% de etanol à gasolina, e cerca de 140 bilhões de galões de gasolina são consumidos por ano. Dessa forma, a meta é de 14 bilhões de galões de etanol. Hoje, os EUA produzem apenas seis ou sete bilhões de galões. Estamos na metade da meta e o Brasil é parte importante nesse processo.

RURAL – A questão do crédito, que influencia agricultores em todo o mundo, não será um baque para a Monsanto?

GRANT – No Hemisfério Sul ainda não estamos sentindo o efeito da queda de crédito, como vemos no Hemisfério Norte. Teremos uma noção melhor na safra que vem. Mas as pessoas precisam comer e a demanda global continuará crescendo

Colaborou Gustavo Gantois