Evoluir em precocidade, produtividade e qualidade são palavras de ordem na pecuária de corte brasileira, para atender um consumidor cada vez mais exigente, tanto no mercado interno quanto no restante do mundo. Neste ano, o Brasil deve produzir mais um recorde na pecuária, algo em torno de 10,5 milhões de toneladas de carne bovina. A demanda por um produto de excelente qualidade tem levado frigoríficos e pecuaristas a buscar modelos de negócio que contemplem toda a cadeia e que sejam cada vez mais eficientes. No caso dos irmãos Waldemar e Paulo Bellincanta, de Sinop, em Mato Grosso, esse modelo envolve o trabalho da fazenda Ponto Alto, administrada por Waldemar, e do frigorífico Frialto, administrado por Paulo. O Frialto vende, por mês, mil toneladas de carne para redes varejistas, food service e cozinhas industriais. A receita do frigorífico é estimada em RS$ 1,2 bilhão por ano. A fazenda Ponto Alto tem um confinamento com capacidade para 27 mil bovinos e presta serviço de engorda a pecuaristas da região para que os animais sejam, preferencialmente, abatidos no frigorífico. “Produzir carne de qualidade é uma necessidade”, diz Paulo Bellincanta. “O que parece ser um nicho hoje, amanhã será uma exigência de toda a cadeia.” Os irmãos têm passado por uma dura prova na arte da administração e sabem que não podem errar na mão. O Frialto, em recuperação judicial desde 2009, por conta de dívidas de cerca de R$ 500 milhões agravadas pela crise financeira de 2008, vem cumprindo suas obrigações com os credores. “Estamos com 85% das dívidas pagas”, afirma Paulo. “Vamos sair da recuperação em 2015, dois anos antes do que era previsto.”

O modelo de engorda terceirizada, implementada pela fazenda Ponto Alto, não é propriamente uma novidade. Muitos frigoríficos, entre eles o JBS, o Minerva e o Marfrig, possuem confinamentos nos quais engordam animais de terceiros. O que ocorre nesse setor, cada vez mais, é uma busca por produtividade a baixo custo. No caso da fazenda Ponto Alto, a economia passa pela gestão da dieta do gado. “Nossa receita de alinhar a dieta dos bovinos para abater animais precoces tem dado certo”, diz Paulo. No ano passado, a fazenda recebeu 50 mil animais, criados num raio de 400 quilômetros na região, apenas para o período de terminação da engorda, cerca de 120 dias antes do abate. Na Ponto Alto, a procura pelo sistema terceirizado tem se intensificado nos últimos anos, a uma taxa média de 15% ao ano. Para dar conta da demanda, os dois irmãos foram em busca de ajuda para arrumar a gestão do confinamento, o pulmão dos negócios. Há quatro anos eles procuraram a Prodap, de Belo Horizonte, que atua em gestão, programas de nutrição animal e sistemas de informação. Especializada em desenvolver soluções personalizadas, a Prodap focou no sistema de confinamento terceirizado. Na fazenda Ponto Alto o fator decisivo foi a implantação de um sistema de gerenciamento total, que custou R$ 3 milhões. Atualmente, o sistema é utilizado em 18 fazendas, nas quais estão dois milhões de bovinos. Entre elas está a fazenda Conforto, em Nova Crixás, em Goiás, com cerca de 70 mil bovinos alojados e que pertencem a Alexandre Negrão, o Xandy Negrão como é conhecido, empresário e piloto de corrida de carros na fórmula GT Brasil. “Pensamos sempre em elevar a rentabilidade de um negócio”, diz Walter Patrizi, consultor da Prodap.  

No caso da Ponto Alto, segundo Bruno Louzada, gerente de confinamentos, com a atual gestão é possível análises gerenciais pontuais e holísticas, ou seja, uma visão única de todo o negócio. “Isso traz agilidade na tomada de decisão”, diz Louzada. Ao levar o seu boi para a Ponto Alto, um simulador matemático ajuda o pecuarista interessado no confinamento a escolher a melhor opção de engorda do gado. “Está nas mãos do dono do animal essa decisão, mas ela não é aleatória”, diz Patrizi. “A decisão é tomada com foco no negócio e no quanto isso pode render no bolso do produtor. O confinamento na Ponto Alto tem 170 currais de permanência. No programa chamado boitel, por exemplo, o pecuarista paga diárias de R$ 5,80, com ganho de peso mínimo de 1,5 quilo por dia. “O pecuarista recebe, além do preço de boi gordo, pelas arrobas entregues, uma remuneração mensal de 1,25%, no período entre a chegada do animal e o abate”, diz Paulo. Além desse sistema, cujos rendimentos mensais chegam a 0,5% sobre cada arroba produzida, há a opção de parceria, na qual não há cobrança de diária e a margem de lucro mensal pode atingir 2,3% sobre a arroba produzida, por conta e risco do pecuarista. “Após a entrada dos animais, elaboramos relatórios durante todo o período de engorda, que podem ser acompanhados pelo pecuarista”, diz Patrizi. 

No cardápio do gado, segundo Querlei Friedhein Ebling, diretora de operação da Ponto Alto, o milho que vai na ração animal representa 70% da nutrição do gado. São usados cerca de 450 mil sacos de milho por ano. “Mas pesquisamos também outros ingredientes, como a soja, com o apoio da Universidade Federal de Mato Grosso, em Sinop”, diz Querlei. Há três anos, a fazenda oferece soja ao gado, mas esse insumo ainda é pouco utilizado pelos pecuaristas. O que ajudou na tomada de decisão foram as pesquisas da universidade. O gado confinado também recebe silagem de milho e capim, torta de algodão, melaço de soja, sorgo, arroz, feijão e até resíduo de painço. “Tudo que fazemos no confinamento tem como objetivo o lucro máximo”, diz Querlei. “Compramos de acordo com as cotações dos insumos, para que o gado engorde pelo menor custo possível. Assim ganhamos nós e ganha o pecuarista.”