O mês de outubro é muito especial para o Rancho Conquista, uma propriedade de 4,8 hectares cravada na bela paisagem da Serra da Cantareira, no município de Mairiporã, no interior de São Paulo, a cerca de 30 quilômetros da capital. No Dia das Crianças, o haras vira palco para um acampamento e recebe mais de 50 meninos e meninas, com direito a competições infantis e histórias de terror narradas ao redor da fogueira, sem contar que a pista de areia para treinamento dos cavalos, de 3,2 mil metros quadra­ dos, cede espaço para alguns brinquedos infláveis, como o campo de futebol de sabão. Quem comanda a festa é o casal Walfran Guerra e Ana Paula Forneris, acompanha­ dos dos dois filhos, conhecidos como “família conquista”. “As crianças brincam tanto que até se esquecem de comer”, diz Ana Paula. “Os pais adoram.”

Mas, nesse rancho, não apenas o 12 de outubro é dia de comemoração. Poucos criadores conseguem tirar proveito de todo o potencial de uma propriedade como o casal, unindo as vertentes de criação, educação, gastronomia e lazer num só negócio. Guerra começou a criar cavalos mangalarga marchador e campolina, na década de 1980, e 20 anos depois construiu o Rancho Conquista, onde nos últimos cinco anos pas­ sou a apostar na raça pampa. Autêntico mustang das pradarias americanas, conhecido pelo nome de “paint house” ou “pinto”, esse cavalo descendente do quarto de milha ganhou fama por desempe­ nhar papel de “bandido” nos filmes de faroeste, montado, sem sela, por indígenas. Justamente por sua pelagem colorida, era discriminado por ser um “cavalo de índio”, mas isso mudou. “Sempre gostei de cavalos exóticos”, diz Guerra. “Para mim, a pelagem do pampa é de uma beleza ímpar, o cavalo é uma pintura.”

No Brasil, o pampa tem um perfil diferente, é do tipo marchador, característica que o qualifica especialmente para o lazer. A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Pampa (ABCPampa), que conta com dois mil associados, estima que o País possua um total de 25 mil animais, mais do que o dobro do plantel existente em 2008. Trata­-se de um crescimento expressivo, mas é muito menos numeroso do que os mais de 300 mil cavalos mangalarga marchador existentes. Segundo o presidente da ABCPampa, Aroldo Rodrigues da Silva, a grande vantagem dessa raça é abranger cinco tipos de andamentos: trote e as marchas picada, de centro, batida e trotada. “Temos animais adequados para o trabalho no campo, para o esporte e para o lazer, com preços que vão de R$ 10 mil a R$ 200 mil”, diz Rodrigues da Silva. Isso ajuda a explicar o ritmo de crescimento anual, na casa dos 20%. “É um mercado muito diversificado e que pode agradar a todos os gostos”, afirma o presidente. “Muitos criadores de outras raças estão migrando para o pampa, estamos em plena expansão.”

Desde que se decidiu pelo pampa, Guerra investiu pesado na seleção dos animais, focado no animal de marcha picada, e passou a ser referência ao amealhar mais de 400 troféus. Em agosto deste ano, um de seus cavalos, o Cassino da Conquista, foi consagrado como O Grande da Raça e Campeão dos Campeões, na 20° Exposição Nacional do Cavalo Pampa (Enapampa). “Sou um selecionador de cavalos diferenciados e morfologicamente superiores”, diz o criador. Com um plantel de 156 animais, 70% deles da raça pampa, atualmente Guerra é presidente do Núcleo PampaSP e lidera os cerca de 400 criadores da raça do Estado de São Paulo. Já Ana Paula, que trabalhava como farmacêutica, trocou a vida agitada numa multinacional pela qualidade de vida do campo. Mas ela diz que morar no rancho não é sinônimo de sossego. “Aqui eu não paro um segundo, pois promovemos mui­tos eventos”, diz. “A agenda está lotada até o ano que vem.” Ana Paula investiu numa segunda graduação, gastronomia, e passou a comandar o restaurante Dona Alda, que funciona na propriedade.

No Rancho Conquista, há opções para todos os gostos e públicos. É possível apenas degustar o almoço caseiro preparado por Ana Paula, de R$ 25, ou fazer uma hora de cavalgada na serra, por R$ 50. Há o curso de equitação rural para iniciantes, que atende adultos e crianças a partir de três anos. É um pacote mensal com quatro aulas, ao custo de R$ 280, que ensina a entender e respeitar o animal, dar banho e escovar, cavalgar e usar corretamente os equipamentos de segurança. E se a necessidade é promover a saúde, portadores de necessidades especiais são atendidos com a equoterapia. “É muito interessante sair do clima urbano e ter esse contato com a natureza”, afirma Ana Paula. “As crianças ficam deslumbradas.” Há cursos para provas de equitação – tambor e baliza –, além da venda de animais e prestação de serviços para criadores, como hospedagem e treinamento de cavalos. Como se não bastasse, Ana Paula organiza festas empresariais no Rancho, como a confraterni­zação de final de ano do Bradesco Prime, casamentos e aniversários, e até mesmo realiza a locação do Rancho para fotos de noivas e debutantes. Lá, foi gravado um comercial de televisão com o cantor Leonardo, para divulgar um medicamento contra a gripe. O haras também foi o local de filmagens de cenas de equitação da atriz Bianca Rinaldi na novela Pequena travessa, do SBT.

O trabalho do casal está ajudan­do a levar o pampa ao topo do pódio, ao mesmo tempo que divulga a raça para um público leigo e serve de ponte para a chegada de novos criadores. É o caso do professor de educação física Adroaldo Sousa. Ele fez o curso de iniciação e decidiu entrar no negócio. “A ideia inicial era criar a raça árabe, mas, depois que conheci o Rancho Conquista, mudei de ideia”, afirma. “Fiz uma análise de mercado e optei pelo pampa, é um mercado muito sério e seguro.” No mês passado, Sousa comprou a égua Pantera da Conquista e está construindo o seu Rancho luar, em Extrema (MG). Para Guerra, que está dando todo o apoio ao criador iniciante, esse caminho é natural. “O pampa vem quebrando tabus e está caindo no gosto do povo”, diz.