NÃO É MACARRÃO: Márcia “Barata” cria tenébrios, espécie de besouro vendido para diversos fins

Você ligou para Márcia Barata, por favor, deixe seu recado.” Esta é a mensagem da caixa postal da bióloga e veterinária Márcia Souza de Carvalho, uma paulista de hábitos pouco convencionais. Quando pequena, enquanto suas amigas corriam ao primeiro sinal de um inseto, ela via esses animais quase como bichinhos de pelúcia.

Tanto é verdade que alguns até viravam seus animais de estimação, como era o caso de sua barata, singelamente apelidada de “Judite”.

Os anos foram passando e, quando começou a faculdade, percebeu que a brincadeira poderia virar um bom negócio. “Meus colegas sempre me pediam insetos para suas pesquisas. Logo comecei a notar que havia uma grande demanda, os pedidos foram aumentando e fui profissionalizando o negócio”, conta Márcia, que há mais de 15 anos cria baratas, grilos, ratos e tenébrios, um tipo de besouro que na sua fase de larva serve, entre outras coisas, como alimento vivo para outros animais.

E, como prova de que gosto não se discute, ela afirma ter comprado seu primeiro carro zeroquilômetro graças às vendas desses simpáticos e “diferentes” bichos.

Em seu sítio, no município de Morungaba (SP), funciona a Baragril, empresa criada para trabalhar com os quase 200 mil animais, entre espécies de insetos e ratos, que a bióloga- veterinária mantém. Para se ter uma idéia, por ano Márcia cria cerca de 35 mil tenébrios e mais de 80 mil baratas.

O que ela faz com isso? A maior parte das vendas é para lojas de animais, zoológicos e parques, que fazem da criação alimento para cobras, aves e outros mamíferos, sem comida à disposição.

Mas não basta criar bichos estranhos, é preciso ter estilo. Dentro dessa proposta, ao menos duas vezes por semana, quando sai para fazer suas entregas, a criadora embarca no que chama de “baratamóvel”, um jipe personalizado, ornamentado com insetos de isopor que piscam os olhos e, obviamente, chamam a atenção de quem passa pela rua. “Também vendo para outros Estados e até para o Exterior”, afirma. Mas essa está longe de ser a única utilidade desses insetos.

Márcia conta que possui clientes variados. Desde psicólogos que usam tenébrios, baratas e besouros, para tratar fobias por insetos de seus pacientes, passando por faculdades e centros de pesquisas, e até, acredite, a área culinária. “Há lugares que fazem farofa com tenébrios.

É animal com muita proteína, só que bem calórico”, conta a criadora, garantindo que o prato é delicioso.

Uma das vendas mais curiosas feitas por Márcia foi para um dos filmes do cineasta brasileiro José Mojica Martins, o Zé do Caixão. No longa-metragem, a protagonista enfrentava o ataque de nada menos que três mil baratas, para Márcia, um clássico. “Também já vendi para programas de televisão e reality shows, para as pessoas experimentarem comidas exóticas”, lembra.

O valor desses tipos de animais varia de acordo com o volume e a finalidade da compra. “As vendas são sempre negociadas de forma personalizada”. Curioso para saber quanto custa uma barata? Segundo a criadora, em média a espécie blaberus, que ela cria, sai a R$ 5 a unidade ou R$ 200 o milheiro.

Já os tenébrios têm preço médio de R$ 300 o milheiro. “Como as vendas são muito pulverizadas, não tenho idéia de quanto eu vendo por mês, mas é uma demanda constante”, pondera. Para quem acha que Márcia é corajosa por lidar com esses insetos, um alerta: a criadora também possui suas restrições. “Tenho medo de formigas, elas me deixam nervosa.”