Opublicitário Marcos Valério de Souza, que se tornou celebridade nacional após o escândalo do mensalão, tem um novo esconderijo rural. Tratase da fazenda Santa Clara, localizada na cidade mineira de Caetanópolis, a 120 quilômetros de Belo Horizonte. Além das baias e dos pastos formados para a criação de vacas de elite, a propriedade de 360 hectares possui ainda uma mansão suntuosa, construída no estilo colonial mineiro, uma capela particular e uma piscina simplesmente cinematográfica. Segundo os assessores de Valério, a fazenda teria sido arrendada pelo publicitário para que ele pudesse guardar alguns cavalos, como a égua Petra Z, que estão entre os melhores animais de salto do País. Por isso, a propriedade continua em nome do empresário Benito Porcaro Filho, que era sócio da Viação São Geraldo, uma das maiores companhias de ônibus do País. No entanto, a história que se conta à boca pequena na região é outra. Valério, que está com todos os bens bloqueados, teria adquirido a fazenda por R$ 6,5 milhões. Além disso, amigos de Porcaro garantem que ele próprio teria confidenciado que possui um contrato de gaveta com o publicitário. Difícil saber. Até porque o próprio Porcaro assinou uma declaração confirmando o arrendamento. Mas o caso despertou ainda mais atenção porque veio a público às vésperas da análise do caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal, que acolheu a denúncia contra Valério pelos crimes de peculato e corrupção ativa.

MESCLA DE ESTILOS: na mansão, a arquiteta Myrna Porcaro misturou o colonial mineiro com o country norte-americano

Agora, com o início do processo de julgamento no STF, Valério deverá passar cada vez mais tempo na fazenda, em busca de privacidade. Recentemente, ele vendeu uma casa de campo que possuía na cidade de Brumadinho e mandou subir os muros da casa onde mora, em Belo Horizonte. Tudo porque, nos dois endereços, era comum o assédio da imprensa. Na fazenda, é possível que Valério consiga ter mais tranqüilidade. Além disso, por lá, sua filha Nathália, que já foi campeã brasileira mirim de hipismo, poderá se dedicar ao esporte predileto. Antes do escândalo, ela treinava no Centro de Preparação Eqüestre da Lagoa (Cepel), na capital mineira, que tinha o pai como sócio. Os treinos no Cepel, no entanto, foram suspensos depois do escândalo.

nova fazenda em Caetanópolis, Valério e sua família terão muito conforto. Todo o projeto da casa foi feito por Myrna Porcaro, esposa do empresário Benito, que é uma das mais conceituadas arquitetas de Minas Gerais. Myrna procurou fundir o estilo colonial mineiro com o country despojado das fazendas americanas. Deu certo. A casa é elegante, sem ostentar riqueza. E as preciosidades estão nos detalhes, como a peça do século XIX usada na construção da lareira. “Viajo muito e acabei buscando inspiração nas fazendas americanas”, disse Myrna numa entrevista recente. Outro detalhe é o galo que foi colocado no topo da casa. Além disso, há imagens de Nossa Senhora de Fátima na capela.

Com esse seu novo investimento, Valério finalmente ingressa no mundo rural, depois de usá-lo como álibi para uma série de transações. Logo que o escândalo do mensalão estourou, em 2005, Valério justificou os saques em dinheiro vivo no Banco Rural dizendo que se tratava de dinheiro para “compra de gado”. Mais tarde, comprovouse que era mentira. Depois disso, já denunciado, Valério disse que recomeçaria a vida empresarial “exportando gado” para a Europa. Também não deu certo. Agora, com a Fazenda Santa Clara, ele “herda” as doadoras de elite da raça nelore que pertenciam ao empresário Benito Porcaro. Oficialmente, os animais continuam registrados em nome de Benito na Associação Brasileira de Criadores de Zebu, mas ele próprio também teria confidenciado a amigos que saiu de vez da pecuária.

SALGADO, DO BANCO RURAL: ele também virou grande pecuarista

Valério não é o único personagem envolvido no esquema do mensalão que encontrou refúgio no mundo rural. José Roberto Salgado, vice-presidente do Banco Rural que também foi denunciado pela Procuradoria Geral da República, hoje é investidor da raça guzerá. Sua empresa agropecuária é a Guzerá do Aconchego, na cidade mineira de Lassance. Com ela, Salgado se tornou um dos grandes compradores dos leilões realizados na região de Curvelo, também em Minas, que é um dos principais pólos da raça. Além disso, Salgado também se tornou sócio de Alberto Junqueira, pai do piloto Bruno Junqueira, que corre na Fórmula Indy, e chegou até a investir numa usina de álcool e açúcar.