No mundo da indústria automobilística, os motores flex são, sem dúvida, uma das mais bem-sucedidas inovações dos cientistas brasileiros. A nova tecnologia, 100% adaptada às necessidades locais, provou ao mundo que é possível, sim, produzir um carro movido a etanol, sem nenhum tipo de prejuízo em relação aos modelos movidos a gasolina. Com o mesmo desempenho e ecologicamente corretos, esses carros estão em via de emprestar suas qualidades às lavouras nacionais. De olho no sucesso nacional, a FPT Powertrain Tecnologies, divisão de motores do grupo italiano Fiat, pretende lançar até 2010 o primeiro motor flex, movido a diesel e a álcool, destinado, principalmente, às máquinas agrícolas.

Com um faturamento global de ? 7,1 bilhões, a empresa tem no agronegócio um resultado anual de ? 639 milhões. Para desenvolver o novo motor, serão gastos, ao todo ? 4 milhões. “Estamos na fase de aprovação da funcionalidade do motor. Os resultados são positivos”, comenta o engenheiro de produtos para o Mercosul, João Irineu de Medeiros. Na prática, para o produtor que utilizar as novas máquinas, a grande vantagem poderá estar na diferença do preço do álcool em relação ao diesel, que na bomba pode chegar a 50%. Além disso, as usinas que hoje produzem o álcool devem ser as grandes beneficiadas. “Os usineiros são os mais interessados e provavelmente esse seria o grande mercado desse produto”, analisa Medeiros, pensando em todo o maquinário que envolve uma usina.

Mas nem tudo está resolvido. Para colocar os novos motores para funcionar, alguns problemas terão de ser sanados. Diferentemente dos automóveis flex, o novo motor funcionará com tanques e sistemas de injeção independentes. Isso daria ao produtor a opção de abastecer somente com diesel ou com o álcool, utilizando, apenas, um percentual de diesel para fazer a ignição. “O grande desafio é definir esse percentual de diesel utilizado com o álcool. Queremos que seja o menor possível e, com isso, eliminar o uso de aditivos químicos”, ressalta.

Como o projeto ainda está em seu primeiro ano, não há estudos conclusivos em relação ao desempenho dos motores.

“Estamos trabalhando para que o motor não perca em autonomia e potência e não tenha um consumo maior”, diz Medeiros. Segundo ele, uma certeza já existe: o novo motor será muito mais limpo. “Já podemos notar uma grande redução das emissões de carbono”, comemora.

Para o professor do Departamento de Engenharia Rural da Esalq/USP, José Paulo Molin, o motor flex pode trazer vantagens. “Temos uma grande oferta de etanol e uma boa frota circulando com diesel, ou seja, temos um mercado favorável para esse tipo de motor”, conclui. No entanto, ele alerta que o grande problema é tornar essa tecnologia economicamente viável. “Nesse momento ele não é competitivo, pois possui um custo mais alto por ter de carregar dois tanques”, pondera. É esperar para ver se no futuro teremos os campos brasileiros sendo colhidos a álcool.