Líder mundial na comercialização de sementes transgênicas, a americana Monsanto, que faturou US$ 14,9 bilhões em 2013, vem traçando, simultaneamente, um outro caminho nos últimos anos: o do desenvolvimento de pesquisas de melhoramento tradicional de sementes, no qual a modificação genética não tem vez. No melhoramento tradicional, a seleção e o cruzamento entre variedades com diferentes características resultam na produção de híbridos, sementes obtidas por polinização  induzida. Essa faceta da multinacional somente é possível com o trabalho da Seminis, uma das principais empresas de produção de sementes de frutas, hortaliças e vegetais dos Estados Unidos. 

Atualmente, a subsidiária da Monsanto detém a liderança desse segmento no mercado internacional. “Nosso plano de longo prazo é desenvolver novos produtos, por meio do cruzamento convencional”, diz Fernando Guimarães, gerente de negócios de hortaliças da Monsanto, no Brasil. Para uma gigante expert em transgenia, criar um híbrido não é uma missão difícil. Segundo Geraldo Berger, diretor de regulamentação da filial brasileira da Monsanto, a facilidade está no avanço tecnológico provocado pelo desenvolvimento dos transgênicos. “Temos o sequenciamento genético de algumas culturas de hortifrútis, e com ele podemos saber exatamente o que há no DNA de uma planta”, diz Berger. Antigamente, para se chegar a um híbrido melhorado, a pesquisa se baseava na seleção visual das variedades. Hoje, o conhecimento da genética faz toda a diferença. “Combinamos o melhoramento clássico com um grande aporte de novas ferramentas e o conhecimento molecular”, afirma Berger. “O mapeamento genético, muito mais detalhado, atualmente, permite chegar a híbridos de qualidade.” A Seminis produz sementes para um grande número de culturas, entre elas a de cebola, brócolis, repolho, cenoura, alho-poró, couve-flor, pepino, berinjela, alface e tomate. Nos últimos anos, essas sementes vêm ganhando espaço no mercado americano e o trabalho da Monsanto tem feito sucesso entre os cozinheiros de todos os tipos – das donas de casa aos chefs estrelados – , que viviam às turras com as cebolas que provocam lágrimas nos olhos. Nos laboratórios da empresa, os cientistas pesquisaram até chegar à criação do híbrido EverMild, uma cebola de sabor mais leve e adocicado, capaz de reduzir o chororô na hora de seu manuseio. E que tal o Melorange, um melão com uma casca rendilhada, polpa de laranja e mais doce? Ou o BellaFina, uma cultivar de pimentões supercoloridos e com um terço do tamanho tradicional?

Outro exemplo é a SVR2005, uma variedade de alface que apresenta a crocância da alface americana, mas o aspecto de folhas de uma crespa. Há, ainda, o brócolis Beneforté, que contém até três vezes mais glucorafanina, um nutriente que pode prevenir o câncer.

Essas variedades da Monsanto estão em franca expansão na Califórnia (EUA) principal mercado da Seminis. No Brasil, a Monsanto, que comercializa por aqui mais de 30 variedades de hortaliças, investiu na última década mais de US $ 1 bilhão em pesquisas e na modernização da sua estrutura. Por enquanto, apenas a alface e o melão desenvolvidos no Exterior desembarcaram por aqui. De acordo com Guimarães, muitas novidades ainda estão por vir. “Estamos testando a produção de pimentões miniaturas coloridos em condições tropicais”, afirma ele. Esse mercado não é cobiçado apenas pela Monsanto. As vendas de sementes de hortaliças movimentaram cerca de R$ 660 milhões no Brasil, em 2013, segundo a Associação Brasileira do Comércio de Sements e Mudas, um segmento igualmente disputado por multinacionais como a japonesa Sakata, a alemã Bayer e a suíça Syngenta. Os esforços dessas empresas buscam atender, ao mesmo tempo, diferentes públicos: o agricultor que deseja uma variedade mais resistente e produtiva; o atacadista que quer um produto com maior vida útil na prateleira; e o consumidor, que pede por alimentos mais saborosos, saudáveis e de consumo prático. Segundo Berger, da Monsanto, para ganhar mercado, não é mais possível fugir dessas demandas. “Quando avaliamos o lançamento de uma cultivar, levamos tudo em conta”, diz. “O ideal é que ela seja completa.”