A pacata cidade de Stein, aos pés dos Alpes suíços, é conhecida na Europa como o Vale do Silício da indústria química, de onde saem importantes tecnologias para o desenvolvimento e proteção de lavouras em todo o planeta. É lá que a Syngenta, uma das maiores produtoras de sementes, herbicidas e inseticidas do mundo, ao lado das alemãs Bayer e Basf, as americanas Dupont, Monsanto e Dow, mantém mais de quatro mil funcionários dedicados a desenvolver fórmulas e soluções para controlar pragas, proteger as plantas dos problemas climáticos e garantir a produtividade das colheitas. No ano passado, por determinação do QG da companhia, instalada a 15 minutos dali, na cidade da Basileia, foi superada a marca de US$ 1 bilhão em investimento em pesquisa e desenvolvimento, contratação de cientistas e compra de patentes – uma dinheirama nada modesta para uma companhia que faturou US$ 14,2 bilhões em 2012.

Embora seja na Suíça que a Syngenta mantém seus cérebros mais brilhantes, é no Brasil que a companhia tem aprendido a elaborar, diretamente no campo, com o pé no barro, suas inovações mais importantes. “O Brasil é o país com maior potencial de crescimento do setor agrícola no mundo e, para nós, é um grande laboratório ao ar livre”, diz o presidente mundial da Syngenta, o americano Michael Mack, em entrevista à DINHEIRO RURAL. Segundo ele, foi em terras brasileiras que a empresa desenvolveu seus melhores produtos para o combate da ferrugem da soja, além de um broto de cana-de-açúcar que proporciona uma planta mais saudável, com maior capacidade de produção de etanol e de açúcar, além de ser mais resistente a chuvas e secas, uma tecnologia chamada Plene. Essas inovações impulsionaram os negócios da gigante suíça. A participação da Syngenta no mercado brasileiro, no ano passado, atingiu 22% no segmento de químicos e 9,5% no de sementes – altas acima de dois dígitos em ambos os setores. Suas vendas na América Latina, região na qual o Brasil responde por cerca de 70% dos negócios, chegaram a US$ 3,7 bilhões entre janeiro e dezembro do ano passado, um aumento de 12% na comparação com 2011.

A julgar pelo desempenho da Syngenta no País e pelo otimismo do presidente mundial em relação ao agronegócio nacional, o Brasil deixará de ser apenas um campo de pesquisas para ter também um centro de tecnologia nos próximos anos, nos moldes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A estatal é a principal responsável por projetar o agronegócio brasileiro como uma atividade geradora de conhecimento, tirando a agricultura da era do manejo rudimentar. “Faz todo o sentido ter um grande centro de pesquisas no Brasil, já que é o país que irá, cada vez mais, alimentar o mundo”, afirma Mack. “Além de ser estrategicamente importante para a Syngenta sob o ponto de vista dos negócios, é fundamental para garantir a segurança alimentar do planeta.” No Brasil, a Syngenta mantém centros menores de pesquisas. Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, há um restrito a estudos de cana-deaçúcar. Na cidade de Aracati, no Ceará, os estudos são voltados a milho, hortaliças e frutas, como melão. Em Holambra, interior de São Paulo, é mantido um laboratório de desenvolvimento de sementes, assim como em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, dedicado à soja.

Atualmente, os maiores centros de pesquisa e tecnologia da Syngenta estão, nos Estados Unidos, na Suíça, Holanda, Suécia, França, Reino Unido, Índia e China. Os investimentos nessas unidades têm sido alimentados pelos excelentes resultados, algo que motiva a criação do centro brasileiro de tecnologia da Syngenta. Na Índia, por exemplo, país com 1,3 bilhão de habitantes, os cientistas conseguiram, literalmente, salvar as lavouras de arroz da variedade Basmati. Cerca de cinco anos atrás, uma praga causada por insetos devastou quase 80% do cultivo do cereal, obrigando o governo a importar o alimento de outros produtores asiáticos. A escassez fez os preços dispararem e causou uma crise colossal na agricultura indiana, proporcional à fome do segundo país mais populoso do mundo. “Em nossos laboratórios, elaboramos um produto químico que garantiu a recuperação da produção de arroz da Índia”, diz Davor Pisk, comandante das operações da Syngenta na Ásia entre 2003 e 2007, e um dos dois presidentes operacionais (COOs) da Syngenta. “O sucesso levou a Syngenta a consolidar- se como um importante parceiro dos produtores indianos.”