Planejar o negócio como se fosse uma grande família. Esse é o segredo da Cooperativa Central Aurora Alimentos, com sede em Chapecó (SC), para crescer continuamente. A Aurora Alimentos, como é conhecida, é o resultado de uma reunião que foi acontecendo ao longo do tempo, de 12 cooperativas espalhadas por 425 municípios de Santa Catarina, mais Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Atualmente, a grande família é composta por 63,9 mil produtores de suínos, frangos e gado leiteiro, que promovem uma espetacular integração entre a produção no campo e o consumo de seus produtos nas cidades. Por esse motivo, a Aurora Alimentos é o destaque no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2015 em GESTÃO DE CADEIA PRODUTIVA. “A Aurora é uma extensão de seus cooperados e os seus cooperados, uma extensão do campo”, diz Mário Lanznaster, que é presidente da cooperativa fundada em 1969. “Esse sentimento leva os produtores a fazerem o seu melhor, porque só conseguimos crescer juntos, trabalhando juntos.” Além do espírito cooperativo, o robusto desempenho financeiro da Aurora Alimentos também tem sido uma fonte de bem estar. Em 2014, a cooperativa obteve uma receita líquida de R$ 6,12 bilhões, ante um resultado de R$ 5,13 bilhões no ano anterior, o que equivale a um crescimento de 19,3%”, diz.

Histórias que mostram o quanto o resultado individual fortalece o coletivo estão por todos os lados na cooperativa. Uma delas é a do produtor Oraldo Balestrini, do município de Pinhalzinho (SC), que há 30 anos é um associado. Nesse tempo, ele viu o seu sítio de dez hectares, de baixa produção, se transformar em um modelo de eficiência. Balestrini trocou o cultivo do feijão e do milho pela criação de suínos e a produção de leite, duas atividades que passaram a agregar valor ao seu negócio. Hoje, ele entrega mensalmente à cooperativa 162 leitões e 15 mil litros de leite, de um rebanho de 25 vacas. A renda mensal do produtor é de R$ 18 mil. “Passei a ganhar melhor com a cooperativa, além de produzir com mais qualidade, especialmente pelo acompanhamento técnico que recebemos”, afirma Balestrini. Os resultados obtidos pelo produtor somente foram possíveis porque ele passou a receber assistência técnica permanente, para corrigir rota e tomar decisões acertadas. Para orientar os produtores, a Aurora conta com uma equipe de 500 profissionais, entre técnicos, zootecnistas, veterinários e agrônomos, sempre a postos. Um deles é Darci Soldi, especialista em suínos, que atua há 20 anos na Aurora. “Os produtores vão conquistando melhorias por etapas, como aconteceu com o Balestrini”, diz Soldi. “Hoje, ele sabe como produzir de forma excelente e segura.”

Em 2014, 3,5 milhões de leitões  foram alojados, 215 milhões de frangos foram abatidos e 505 milhões de litros de leite ordenhados. Essa produção seguiu para oito unidades industriais de suínos, seis de aves e um laticínio. Em 2014, a Aurora Alimentos processou 647 mil toneladas de suínos, transformados em presunto, linguiças e cortes de carne. De frango, do total de 501 mil toneladas de carne, a maior parte foi vendida em porções congeladas. O leite é vendido fluído ou transformado vários produtos, entre eles iogurte, creme de leite e queijo. Além disso, a Aurora produz 6,3 mil toneladas de alimentos, como hambúrgueres, pizzas e lasanhas.  Lanznaster diz que a ideia é expandir para novas áreas. Um dos projetos da cooperativa é produzir pescados de água doce”, diz. “Ainda não temos uma data, mas vai acontecer.”

Para o economista Paulo Furquim, coordenador do Centro de Estratégia do Insper, instituição de ensino superior de São Paulo que é referência em administração e economia, por trás do sucesso da Aurora está a valorização entre os integrantes de toda a cadeia produtiva. “É fundamental manter a vinculação, evitando a rotatividade dos produtores agrícolas”, afirma. “Isso se dá através de uma remuneração capaz de fazer com que o cooperado não queira sair do negócio.” No caso da Aurora, o montante calculado como sobras de exercício que são distribuídas aos cooperados foi de R$ 418 milhões 2014, ante R$ 302 milhões em 2013. Para Lanznaster, essa melhoria na remuneração de seus associados é um dos grandes motores da cooperativa. “O produtor tem de ganhar bem e o funcionário da cooperativa também”, afirma ele. “E a cooperativa precisa ganhar para pagar os dois.”

Para atingir as metas de aumento de distribuição dos ganhos entre os cooperados, a Aurora tem se dedicado a garantir a qualidade de seus produtos de ponta a ponta para aumentar a sua presença no varejo. Nas propriedades, por exemplo, os produtores recebem um adicional pela qualidade dos produtos que entregam nas unidades industriais. No caso do frango, o pagamento pode ser de até R$ 0,90 por animal posto no frigorífico, ante o preço de tabela de R$ 0,40. “Ganha mais quem se dedica à criação”, diz Lanznaster. “Por exemplo, proporcionar bem estar animal, para que ele não sofra com calor ou frio, conta ponto.” Nas indústrias, onde estão 26,5 mil funcionários, há incentivos de carreira e uma programação intensa de treinamentos para garantir melhorias de processos. Em 2014, a Aurora investiu R$ 5,3 milhões em 640 mil horas de treinamento em níveis técnicos, operacionais e gerenciais. “Somente na área de engenharia de alimentos  há cerca de 140 profissionais”, diz  o presidente. “Temos que fazer o melhor possível e atender todas as demandas do varejo.”


A todo vapor: em  2014, a Aurora processou mais de  500 mil toneladas de carne de frango, a maior parte foi vendida em porções congeladas

Além da atenção com o mercado interno, a Aurora vem aumentando a sua presença no exterior. No ano passado, a cooperativa exportou 58 mil toneladas de suínos, ante 48 mil toneladas em 2013, um crescimento de 21,5%. Em aves, foram 190 mil toneladas, ante 153 mil toneladas (alta de 24,2%). De acordo com Lanznaster, as exportações atuais respondem por 24% do total dos alimentos processados pela cooperativa, mas a tendência é aumentar essa participação para 30%. Para isso, a carne de frango deverá desempenhar um papel importante. “É a carne que mais tem crescido nas exportações, por ser uma proteína barata e a mais aceita em grande parte dos mercados consumidores. Não há restrições”, diz Lanznaster.

Atualmente, os principais mercados da Aurora no exterior são Japão, China, Hong Kong, Cingapura e Vietnã. Mas, somente as vendas já não estão bastando para a Aurora. De acordo com Lanznaster, o projeto é fazer uma parceria com uma cooperativa chinesa para processar e vender carne de frango, com acesso direto ao mercado. “A China é o país que oferece as melhores condições para crescermos, basta olhar a sua população de 1,3 bilhão pessoas”, diz Lanznaster. “Seria mais
um desafio gigantesco para a Aurora, mas não o último.”

Com a orientação do técnico agropecuário, a produção de produtores como Balestrini, chega nas mãos de Leuci de Oliveira, que começou na cooperativa como auxiliar na área de produtos industrializados, sem ter o primeiro grau completo. Hoje, Oliveira é o supervisor de produção da empresa, com uma faculdade e duas especializações na área de negócios e produção de alimentos. “Sou, inclusive, um produtor associado também. Então administramos toda essa família a partir de um conhecimento bem prático”, diz Lanznaster.