Tensão: Uruguai se recusa a fazer acordo com o Brasil para estipular cota de leite

Anote esta receita: Uruguai, um importante produtor de leite, viu suas exportações caírem graças à crise econômica. Some-se a isso a ausência tarifária para o comércio no Mercosul, incluindo o Brasil, adicione uma pitada de baixos preços do produto uruguaio. Mexa bem e por último acrescente o ingrediente principal, câmbio variável, que derruba a competitividade do leite brasileiro. Pronto, era o que faltava para o setor lácteo nacional ver seu rendimento azedar. “Entre maio e julho o valor do leite já caiu cerca de 15%”, queixa-se Roberto Jank, empresário com produção de 15,5 milhões de litros ao ano em sua propriedade em Descalvado (SP). Em maio, os produtores vendiam o leite por valor médio de R$ 0,80 o litro, que caiu para R$ 0,75 no mês seguinte, uma queda de 6,25%. “Eles estão trabalhando com preços que sequer cobrem os custos”, protesta Jorge Rubez, presidente da Associação Leite Brasil.

Para Jank, a principal causa dessa importação desnecessária é o real sobrevalorizado. “Toda vez que o preço sobe, entra mais produto importado e o preço cai. É um ciclo que só gera perdas para a cadeia.” Em 2009, 22% do leite no mercado brasileiro era uruguaio. Em 2010, no primeiro semestre, esse número saltou para 35%. Com a concorrência, os produtores já começam a calcular os prejuízos, que somados ao câmbio cresceram ainda mais. “Os preços subiram no primeiro trimestre, mas caíram rapidamente no segundo, não dá nem para cobrir os custos de produção”, lamenta Rodrigo Alvim, presidente da Comissão de Pecuária e Leite da CNA.

A primeira tentativa de chegar à uma solução aconteceu em abril, quando o presidente uruguaio José Mujica esteve no Brasil. Em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ficou acertado que o Uruguai exportaria seu leite para cá em troca de permitir a entrada da carne de frango no país. Mas Mujica sofreu pressão dos avicultores e limitou em 120 toneladas ao mês a cota de frango brasileiro. “Mais uma vez fomos prejudicados”, lamenta Rubez. “O ideal é que o Uruguai tenha uma cota, assim como a Argentina, que envia três mil toneladas ao mês, mas eles se recusam” explica Alvim. Enquanto isso, o impasse continua.