Em abril do ano passado, o engenheiro agrônomo Álvaro Peixoto, 46 anos, formado na Universidade Federal de Viçosa (MG), uma das mais conceituadas instituições de ensino no País, pediu demissão do núcleo de nutrição animal da Cargill, uma das maiores empresas globais de alimentos, com receita de R$ 34,2 bilhões no Brasil, em 2017. Peixoto era gerente de marketing para a América Latina desde 2014, com uma carreira promissora na multinacional americana. Mas escolheu seguir outro plano de voo. Hoje, ele é diretor-geral da Barenbrug no Brasil, subsidiária holandesa de sementes para pastagens, presente no País desde 2012. No ano passado, a receita global da companhia foi de R$ 1,2 bilhão, bem menos do que a Cargill faturou por aqui. “Até 2025, a meta é triplicar o faturamento da Barenbrug e ampliar a equipe de 60 funcionários para 75”, afirma Peixoto. “A subsidiária brasileira deve contribuir com 10% da receita anual do grupo.”

Cheio de planos e metas, Peixoto é o tipo de profissional que vem ganhando destaque no agronegócio, um setor que não conhece crise e cresce mesmo em tempos de economia turbulenta, como tem ocorrido nos últimos anos. Por isso, muitas empresas do agronegócio precisam de executivos preparados e experientes. Esses profissionais não têm receio em trocar de posição, saindo de grandes corporações para fazendas ou empresas de menor porte, em fase de implantação, em reformulações estratégicas ou mesmo nos projetos de sucessão familiar. Jeffrey Abrahams, sócio-gerente da consultoria Fesa para agronegócio, diz que essas empresas em busca de profissionais qualificados não possuem perfis semelhantes em sua governança. “A troca, em geral, se dá porque há quase uma certeza de que nas empresas de menor porte existe uma maior liberdade e agilidade de empreender, e participar diretamente das decisões de forma mais rápida”, diz Abrahams. “Nem sempre os executivos visualizam uma oportunidade nas empresas globais, até porque, às vezes, a fila é muito grande.”

Foi justamente o desafio de liderar o mercado de sementes forrageiras que levou Peixoto para a Barenbrug. A empresa, criada há 114 anos e que atua em 16 países, era dirigida no Brasil pelo holandês Rudi den Hartog, que a trouxe para o País em 2012. Peixoto, há 20 anos no mercado, era a peça perfeita para a companhia. Além da Cargill, ele já passou pela Seminis, empresa de sementes de hortaliças da americana Monsanto, depois na própria Monsanto, em cargos de desenvolvimento de produto, venda, marketing e gestão. Para o executivo, o desafio do novo cargo era trabalhar de modo descentralizado e com autonomia. “A maior autonomia resulta em confiança e segurança”, diz Peixoto. “Nas grandes empresas, muitos funcionários esperam que a decisão venha do topo, já nas menores, eles tratam o negócio como se fossem deles.”

A demanda por talentos qualificados tem feito com que a troca de posições ocorra não apenas dentro do setor. Profissionais das mais diversas áreas de engenharia, de administração, de marketing e de direito estão migrando para liderar as agrárias. O engenheiro metalúrgico Paulo Oliveira Motta Junior, 58 anos, tem 30 anos de experiência em empresas dos setores de mineração e metais. Desde 2004, ele estava no grupo Votorantim. Em junho de 2016, em vez de se preparar para a aposentadoria, Motta Junior aceitou ser o presidente da Cerradinho Bioenergia, no município de Chapadão do Céu (GO), que pertence à família paulista Sanches Fernandes. Motta Junior assumiu a usina sucroenergética, que faturou R$ 883 milhões na safra passada, um setor com o qual ele não tinha nenhuma intimidade. “A mudança me permitiu o novo, que é o lado da atividade agrícola. Mas também o conforto da companhia, que tem uma presença forte na área industrial e de gestão”, afirma ele. “As minhas experiências na Votorantim e também na Alcan Alumínio, duas grandes escolas, me ajudaram no processo de profissionalização da Cerradinho, sem turbulência.” Para o executivo, que lidera uma equipe de dois mil funcionários diretos, um dos atrativos do cargo é a posição dos acionistas, que estão abertos a compartilhar a gestão do crescimento e a direção da empresa. “Tenho a oportunidade de aprender e empreender, além de ajudar no crescimento de outras pessoas e da companhia”, diz ele. “Precisa mais?”

As consultorias também têm sido um celeiro de oportunidades. Nas duas últimas décadas, elas passaram de um perfil essencialmente técnico, para uma atuação diversificada. As consultorias de grande sucesso atraem profissionais com amplos interesses, mas que em geral convergem para uma gestão mais refinada dos negócios. É isso que chama a atenção dos caçadores de talentos. Em 2016, depois de 17 anos em cargos de direção na multinacional Syngenta, o engenheiro agrônomo Renato Guimarães, 53 anos, montou uma consultoria. E foi prestar serviços para o grupo Sinagro, fundado por Marco Antonio Vimercati em 2001, em Primavera do Leste (MT). A Sinagro atua na distribuição de defensivos, fertilizantes, sementes e na originação de grãos. Em 2015, a indiana UPL, do setor de agroquímicos, comprou 45% da empresa. Neste ano, o fundo Global Private Equity adquiriu outros 46%, ficando os 9% restante com Vimercati. Foi nessa transição de comando que o consultor Guimarães surgiu para dirigir a empresa, presente também nos Estados de Goiás e da Bahia. A missão do executivo, nos próximos cinco anos, é aumentar o número de lojas de 12 pontos para 22 pontos, o que vai exigir contratações para aumentar a equipe de 450 funcionários. “É desafiador gerenciar pessoas concentradas em ambientes diferentes”, afirma ele. “É preciso ser muito assertivo na gestão e na comunicação.” A meta do grupo, que faturou R$ 1 bilhão em 2016, é dobrar a receita até 2023.