O agronegócio tem um desempenho fundamental na economia brasileira. Não é à toa que somos apelidados de celeiro do mundo, além de sermos o segundo maior produtor de soja do mundo e um dos maiores exportadores de milho e proteína animal – esta última fortemente impulsionada pela peste suína africana assolada nos rebanhos da Ásia em 2019.

Tão forte quanto a presença do Brasil no agronegócio são os riscos ambientais que fazem parte do cotidiano do produtor rural. No último ano, o cenário interno pressionou o agronegócio em busca de mais transparência e rigidez nas questões ambientais por conta da exposição negativa do Brasil com as queimadas na Amazônia. Riscos de produção também fazem parte do dia a dia do empreendedor ruralista. O uso de defensivos agrícolas (ou agrotóxicos) é pauta altamente polêmica e que enseja argumentos inflamados por todos os lados, sem contar os efeitos das mudanças climáticas, que impactam a produção em muitas regiões.

As intempéries de mercado, decorrentes da variação dos preços das commodities, do aumento de preços por quebra de safra e do controle de preços em alguns países também são problemas recorrentes do produtor rural. Porém, ultimamente, o ruralista tem mais um risco a gerenciar devido ao aumento de sua criticidade, que são os riscos envolvidos na cadeia de fornecedores.

Uma grande preocupação na gestão dos fornecedores e produtores rurais é a utilização de trabalho análogo à escravidão na cadeia de valor. Segundo dados do Ministério do Trabalho (MT), 43% da lista do trabalho escravo encontra-se na zona rural. Dentre os produtores que foram apontados, há um caso que se tornou público e envolveu a Starbucks e a Nespresso. A fazenda Cedro II fornecia café para ambas empresas e apareceu na lista do MT. Imediatamente estas empresas abriram processos internos para investigação. Tarde demais, o estrago já estava feito.

Para mitigar este e outros riscos na cadeia de fornecedores e produtores, uma das alternativas é a exigência de selos de qualidade e integridade. Dentre eles, destaca-se o “Agro Mais Integridade”, um reconhecimento às empresas que adotam práticas de governança e de responsabilidade social e ambiental. Este tipo de atestado é importante porque demonstra o comprometimento de quem o recebeu na luta pelo combate a atos ilícitos. Selos e reconhecimentos privados são menos efetivos, haja visto a fazenda Cedro II, que possuía certificados de qualidade, tanto da Nespresso quanto da Starbucks.

Outra alternativa utilizada é o rastreamento dos produtos por meio de tecnologias como o Blockchain. Basicamente, a tecnologia permite que dados sejam registrados e avaliados de forma descentralizada, possibilitando que diferentes elos da cadeia se monitorem e não alterem as informações. Anteriormente a esta tecnologia, os dados eram armazenados em um banco de dados centralizado e, para ter confiança, era necessário um “custodiante” das informações. Natura e Carrefour são dois exemplos de empresas que utilizam o Blockchain para rastrear seus produtos desde a origem. Isto garante a ambos um acesso tempestivo e acurado das informações de tudo o que passa pelas empresas.

Os consumidores procuram cada vez mais produtos sustentáveis, no sentido mais amplo da palavra. Para isto, é fundamental que os produtores e fornecedores se integrem neste elo de controles, pois basta uma denúncia de práticas ilegais ou imorais para impactar de maneira negativa na reputação da empresa. Fique atento.

 

*Rodrigo Castro é diretor de riscos e performance na ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.