No mundo, a indústria de Inseminação Artificial é caracterizada pela oferta de material genético superior, com a utilização de touros provados para as características econômicas, permitindo o melhoramento animal dos rebanhos. A identificação dessas espécies superiores era obtida através dos testes de progênies, onde se avaliam os valores genéticos dos reprodutores pela produção de leite de suas filhas ou ganho de peso de seus filhos.

No processo tradicional de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), selecionavam-se 1,5 mil touros de leite para teste de progênie, em centenas de fazendas nos Estados Unidos, indo à comercialização 150 touros provados por ano. Tomando os valores da moeda americana no início deste ano, com o custo médio de US$ 150 mil por touro testado, chegava-se a um total de US$ 1,5 milhão por touro, em coleta para comercialização. Esses custos eram distribuídos principalmente entre o valor de compra do animal jovem, aproximadamente US$ 15 mil, coleta e distribuição do sêmen para o teste de progênie e manutenção do animal por cinco anos nas centrais de Inseminação Artificial.

Esses animais tinham um ciclo de vida de até dez anos e conseguiam chegar fisiologicamente a sua capacidade máxima de produção de sêmen. Ou seja, diluíam-se os custos em um grande volume de doses comercializadas durante a vida útil desse indivíduo. Nesse modelo, todo o trabalho técnico de P&D estava concentrado nas empresas de inseminação e o fluxo de caixa desta operação era distribuído em longo prazo. Com o advento da genômica na pecuária bovina; pesquisa desenvolvida pelas centrais de inseminação artificial e USDA; onde se identifica através da avaliação do DNA os indivíduos superiores, este processo foi alterado trazendo mudanças na gestão da indústria.

As avaliações genômicas são realizadas em indivíduos muito jovens e o acesso a essa técnica é disponível a todos os criadores, saindo das mãos das centrais o poder de gestão do processo. As centenas de fazendas dos Estados Unidos, que ofertavam touros para os testes de progênies de leite, se reduziram a menos de dez, com genomas de alto nível, havendo alta concentração de poder nas mãos de poucos criadores. O custo de compra pelas centrais, por touro jovem com alto valor genético, passou para valores que oscilam entre US$ 200 mil e US$ 300 mil.

Anualmente, são avaliados mais de 70 mil touros de leite nos Estados Unidos, mantendo os mesmos 150 touros colocados no mercado. Com a área de P&D tão intensificada, o ciclo de vida dos produtos caiu para intervalos entre três e quatro anos, havendo rápida substituição de touros. Outro impacto nos custos é causado pela fisiologia dos animais jovens, imaturos sexualmente, que têm sua capacidade de produção de sêmen limitada. Um touro adulto produz até 10 mil doses de sêmen por mês e um touro jovem aproximadamente quatro mil doses.

A indústria de inseminação artificial passou a ter um aumento no custo de entrada de animal em seu portfólio, menor ciclo de vida de seus produtos, maior rotatividade em seu mix de oferta, menor número de doses produzidas e comercializadas por touro, alteração no perfil de investimentos deslocado para curto prazo e perda de seu poder na área de P&D. Outro desafio em termos de tecnologia, produtos e custos é o sêmen sexado. Essa ferramenta é monopólio mundial de uma empresa e, como setor monopolizado, não há concorrência e os custos são estabelecidos de maneira singular. O pagamento deste produto é contra entrega e mediante contratação dos serviços em grande escala, mas as vendas são realizadas ao consumidor final com prazos alongados de pagamento. Assim, esta diferença traz impacto nos fluxos de caixa das empresas, para um produto de baixa rentabilidade.


Genética: o mercado da inseminação artificial é um setor que passa por mudanças no mundo todo, em busca de um novo modelo de negócio