Chegar ao município de Venda Nova do Imigrante, na região serrana do Espírito Santo, não é tarefa das mais fáceis. Partindo da capital Vitória são cerca de 200 quilômetros de curvas sinuosas que cortam imensos paredões de rochas e verdadeiros desfiladeiros. Uma viagem que é recompensada pela paisagem tomada pelas montanhas e uma farta mata atlântica. Ali a natureza não agrada apenas aos olhos dos visitantes, mas também ao bolso de centenas de agricultores que aproveitam a temperatura amena para o cultivo do morango. Características que fizeram o fruto produzido na serra capixaba ganhar fama em todo o País. É nesse cenário que o empresário Aguilar José Peterle criou sua empresa, a Peterfrut, voltada para a produção e distribuição da fruta. Uma empresa familiar que, depois de 13 anos de existência, já é uma das maiores do Brasil nessa área, movimentando cerca de dez mil toneladas de morango por ano e dona de um faturamento de R$ 50 milhões. Números que só não são mais comemorados devido a um grave e crescente problema: a queda do consumo do morango por causa das altas quantidades de agrotóxicos utilizados em seu cultivo. Para mudar essa lógica, Peterle está à frente de um amplo projeto que envolve tecnologia, controles e parcerias com produtores da região. Um modelo que recebeu investimentos de R$ 1,5 milhão e que pretende criar um “novo” morango capixaba, produzido com níveis baixos de produtos químicos e totalmente rastreados, desde as lavouras de quem planta até a mesa de quem consome. “Estamos desenvolvendo um novo modelo de cultivo em parceria com produtores que também enxergam a necessidade de mudanças no setor”, diz o empresário.

Aguilar Peterle: para ganhar mercado, o empresário investiu R$ 1,6 milhão em programa de rastreabilidade de seus morangos. A meta é chegar a 100% da produção certificada nos próximos anos

Assim como grande parte dos moradores da cidade, Peterle é descendente de italianos e sempre trabalhou com morango, antes como produtor e agora como distribuidor do produto. E foi nessas negociações que percebeu a crescente rejeição do produto, que, por ser altamente suscetível ao ataque de pragas e problemas climáticos, tem a fama de receber excesso de defensivos e fertilizantes. Como o cultivo do produto orgânico em alta escala ainda é inviável, ele começou a pesquisar outras formas de produzir.

“O grande diferencial desse projeto é que fomos buscar variedades importadas do Chile e Argentina. São espécies mais resistentes e, por isso, necessitam de menos aplicação de produtos”, explica. Para se adaptarem às condições da região, as plantas recebem tratamento genético desde a muda, evitando doenças e tornando-as mais resistentes. “Ainda temos uma equipe de técnicos que visitam os produtores fazendo análises de solo, testes de folhagens, dando suporte técnico e orientando quanto às práticas corretas.”

 

Plantas fortes: para reduzir o uso de fertilizantes e agrotóxicos, a empresa importou variedades mais resistentes da Argentina e do Chile e faz tratamento genético nas mudas

 

No rastro da fruta: para garantir baixo uso de defensivos agrícolas, o sistema prevê controle da produção desde a plantação até o supermercado

Com uma grande rede de produtores integrados, o desafio agora é estender esse modelo de produção e aumentar assim a oferta do produto. Segundo Parterle, a empresa conta com 880 agricultores integrados; desses, somente 120 são considerados “premium” e estão dentro do programa. Dessa forma, apenas 15% do volume produzido atende às exigências. “Até o próximo ano queremos chegar a 35% da nossa produção com esse modelo e no futuro chegaremos a 100%. Existe uma dificuldade de implementar coisas novas, devido à tradição. Mas aos poucos os produtores percebem que é vantajoso”, diz.

Quem aderiu ao programa garante que os resultados são positivos. Esse é o caso do produtor Fredolin Schulc, que há 12 anos cultiva o morango em uma área de dois hectares no município de Santa Maria do Jetibá, onde colhe cerca de 28 toneladas por ano. Em sua propriedade, ele destinou metade da área de morangos para ser cultivada dentro do programa. “A produtividade tem sido muito boa, as variedades são bem adaptadas, o que facilita o manejo. Já planejo nos próximos anos plantar 100% da área com esse sistema”, afirma. Não são apenas os resultados agronômicos que têm animado o produtor; a parte financeira também tem sido satisfatória. “Hoje recebo um prêmio de R$ 0,15 no quilo do produto, o que oferece um bom ganho. Além disso, com a aplicação reduzida de defensivos e fertilizantes, tenho um custo de produção 10% menor”, garante.

Embora invista na parceria com os produtores, Peterle também planeja ampliar sua área própria de produção, que hoje corresponde por apenas 5% do seu morango. “Nesse tipo de cultivo, se não for dono de uma parte da produção, não consegue ter controle e garantir a oferta. Pretendemos participar mais da produção”, ressalta. A ideia é fomentar o plantio em outros municípios que ainda não têm tradição no cultivo do morango. “Dessa forma, podemos moldar o modelo de produção mais facilmente.” É assim que o empresário pretende conquistar consumidores e saborear os doces lucros que o morango tem a oferecer.

Fredolin Schulc: o produtor aderiu ao novo modelo de produção e recebe R$ 0,15 de prêmio no quilo do poduto, além de registrar redução de 10% no seu custo de produção ao usar menos fertilizantes e defensivos