O setor sucroalcooleiro está prestes a dar um grande passo para recuperar parte da sua margem de lucro, comprometida pela logística ineficiente do País. Depois de sete meses aguardando acertos burocráticos, os primeiros 206 quilômetros do etanolduto construído pela empresa lógum, ligando os municípios paulistas de Paulínia e Ribeirão Preto, deve entrar em operação comercial até o final deste mês. Esse projeto faz parte dos R$ 10 bilhões que o setor está investindo para obter uma melhor eficiência logística e, assim, reduzir os custos de produção. “A Lógum nasceu para estruturar, construir e operar projetos logísticos para o setor da cana-de-açúcar”, diz Roberto Gonçalves, presidente da companhia. “Esse é apenas um pequeno exemplo de tudo o que queremos fazer.”

O projeto da Lógum, consórcio formado por Petrobras, Raízen, Copersucar, Odebrecht e Uniduto Camargo Corrêa foi orçado em?R$ 7 bilhões e contará com 1,3 mil quilômetros de extensão, ligando o estado de Goiás a São Paulo, com capacidade de transportar até 20 bilhões de litros do combustível. O primeiro trecho, de 206 quilômetros, teve suas obras concluídas em janeiro deste ano. Em junho, os dutos foram abastecidos com etanol. No dia 18 de julho, a autorização para a operação comercial foi dada pela agência nacional do Petróleo, e a atividade deverá iniciar tão logo a transpetro, empresa logística da Petrobras responsável pela operação do etanolduto, finalize os termos contratuais sobre a venda de serviços a terceiros.

A obra custou R$ 1 bilhão e é considerada um dos principais trechos do projeto, pois interliga Ribeirão Preto, grande região produtora de etanol, a Paulínia, onde a Lógum construiu um hub de armazenamento interligado ao sistema de dutos já existente da Petrobras. “No início, vamos dis­tribuir etanol para o município de Barueri”, diz Gonçalves. “No final do ano para o Rio de Janeiro e, em 2014, para Guarulhos.” O pre­sidente da Lógum contou que o terminal em Ribeirão Preto tam­bém está em operação e terá a capacidade de receber, de uma só vez, 18 caminhões que podem descarregar para o sistema até 110 mil litros de etanol por hora.

Quando todo o sistema dutoviá­rio for concluído, em 2017, a expec­tativa é que os custos de transporte sejam reduzidos em 20%. Na safra 2012/2013, a receita total do setor chegou a R$ 73 bilhões, segundo informações da União das Indústrias de Cana-de-açúcar (Unica). Mas os investimen­tos do setor não se resu­mem ao transporte do etanol. Antes mesmo de a Lógum ser criada, gru­pos como Copersucar, Guarani e São Martinho já estavam investindo em projetos que vão desde a construção de terminais portuários e ferroviá­rios, passando pela implantação de centros de distribuição, até arma­zéns açucareiros. A Copersucar, por exemplo, está construindo um ter­minal em Paulínia. Na primeira fase, programada para ser entregue em abril do ano que vem, ao custo de R$ 150 milhões, a companhia terá uma capacidade de tancagem de 180 milhões de litros de etanol e poderá movimentar 2,5 bilhões de litros por ano. Inicialmente, o terminal atenderá a Coper­sucar, mas se sobrar capacida­de a companhia não descarta atender tercei­ros. “Se a deman­da aumentar muito, podemos dobrar a capaci­dade rapidamen­te”, diz Luís Roberto Pogetti, presidente do conselho de administração da Copersucar.

Até hoje a companhia já investiu mais de R$ 1 bilhão em seus projetos logísticos, a exemplo de um terminal portuário em Santos (SP), que permitirá à companhia, em um futuro próximo, transportar 70% das suas exporta­ções, de quase oito milhões de tone­ladas de açúcar, por ferrovias, con­tra os 50% atuais. Não está descar­tada a criação de uma empresa de operação ferroviária. “Podemos investir em material rodante e operar nossos trens, pois temos carga em escala, origem e desti­no”, diz Pogetti. De acordo com ele, um dos bene­fícios do investi­ mento em logís­tica da Coper­sucar foi uma redução de 30% nos custos.

Outra empre­sa que também resolveu apostar em um terminal portuário foi a Guarani, com sede no municí­pio de Olímpia (SP). Ao todo, a companhia controlada pelo grupo francês Tereos Internacional, em sociedade com a Petrobras, investiu R$ 20 milhões na compra de 35% do capital social do Terminal Portuário de Paranaguá (Teapar). Para Jacir da Costa Filho, presidente da Guarani, esse aporte foi uma estra­tégia para garantir um espaço em portos cada vez mais disputados. “Se não tivéssemos participação no terminal, teríamos de embarcar nosso açúcar nas datas estipula­das, pagando um valor muito eleva­ do”, diz Costa Filho. Neste ano, a Guarani espera moer 21 milhões de toneladas de cana, que resultarão numa produção de 1,5 milhão de toneladas de açúcar e mais de 530 milhões de litros de etanol.

Na contramão da Copersucar e da Guarani, o grupo São Martinho, da família Ometto, sediado em São Paulo, embora não tenha planos de fazer investimentos diretos em por­ tos ou ferrovias como as demais, pretende firmar parcerias duradouras com prestadores des­ses serviços. Fábio Venturelli, presidente do grupo, conta que o maior investimento foi em um terminal rodoferroviário No município de Pra­dópolis (SP), concluído no ano passado. Esse termi­nal, que é interligado a um ramal ferroviário existente dentro da principal usina do grupo, garantiu à empresa movimentar três milhões de toneladas de açúcar por ano, o triplo da produção da usina, que chega a 700 mil toneladas anuais. O restante é ocupado pelas usinas da região, que ajudam a aproveitar ao máximo a capacidade instalada do terminal. Segundo Venturelli, o grupo fechou uma parceria com a Rumo Logística, controlada pela Cosan, para fazer o transporte ferroviário do açúcar. “Com isso, nosso fluxo não para, vira­ mos clientes cativos e barateamos o frete.” Na usina também foi construí­ do um armazém capaz de estocar 300 mil toneladas da commodity.

Após a construção do terminal, a expectativa do São Martinho era transportar 1,2 milhão de tonela­das de açúcar neste ano. Mas, em junho, o volume já ultrapassava 1,5 milhão de toneladas. Antes de sua inauguração, a usina conseguia carregar seis mil toneladas por dia, em 150 caminhões. Agora, os embarques dobraram. “Olha quan­to dinheiro e tempo eco­nomizamos mandando nosso açúcar em vagões”, afirma Venturelli. “No­ tas fiscais, balanças, motoristas, caminhões e entrada no porto, não temos que nos preocupar mais com nada disso.”

O conjunto das medi­ das do setor para melho­rar sua logística deve reti­rar das estradas brasilei­ras, até 2015, aproximada­ mente 100 mil caminhões, ao transportar mais açú­car por ferrovias e etanol pordutos. Atualmente, a estimativa é de que 50% das 35 milhões de tonela­das de açúcar produzidas na região Centro­Sul do País são transportadas por ferrovias.