A expectativa é grande para a próxima safra de tomate industrial, uma variedade de cultivo rasteiro, adocicado, de formato alongado e com pouca semente. Mais conhecido como tomate italiano nas feiras e mercados, o fruto é a principal matéria-prima da indústria de atomatados para a fabricação de molho, purê, extrato e catchup, liderada no País pela marca Elefante, da Cargill. O setor, que movimenta mais de R$ 2,6 bilhões por ano, em 2012 amargou uma queda de 25% na safra, em função de problemas climáticos. “Precisamos recuperar a produção neste ano”, diz Antonio Tadiotti, dono da marca de atomatados Predilecta, de Matão, interior paulista. Plantada até o mês de maio, e com colheita entre junho e setembro, a atual safra deverá registrar uma recuperação de pelo menos 15%. “No ano passado, o quadro só não foi pior porque tivemos uma boa colheita em 2011 e os estoques nos salvaram.”

De acordo com o World Processing Tomato Council (WPTC), organização internacional com sede na França, o Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial, com apenas 4% da produção. Em 2012, o País produziu 1,2 milhão de toneladas de tomate industrial, ante 1,6 milhão de toneladas no ano anterior. Segundo Tadiotti, a demanda por matéria-prima tem se mantido firme porque a venda de extratos e molhos cresce num ritmo aproximado de 17% ao ano. A indústria ainda importa por ano entre 60 e 70 toneladas de pasta da fruta, principalmente do Chile e da China, enquanto nutre expectativas de que o cultivo nacional evolua. No próximo mês, será oficializada a criação da Associação Brasileira da Cadeia Produtiva de Tomate Industrial (Abratop), depois de quase um ano de discussões do setor. “A meta é levar o País a ser autossuficiente em matéria-prima”, afirma Tadiotti, que vai assumir a presidência da entidade.

O grupo Vivati, fornecedor de mudas para hortaliças, em Buritama (SP), que opera mais duas unidades em Goiás e no Ceará, está otimista em relação à safra deste ano, segundo o proprietário da empresa, João Goulart. “A produção em 2013 será mais intensa, com certeza”, afirma. No ano passado, a empresa comercializou 70 milhões de mudas de tomate industrial e espera vender 90 milhões neste ano. O aumento será para cobrir a demanda da Etti, marca do grupo argentino-americano Bunge, um dos principais clientes do viveiro. “A Etti está aumentando a área cultivada de 700 hectares para mil hectares de tomate industrial”, diz Goulart. Mas não é somente ela a investir no aumento da produção. A Predilecta, que consumiu 230 mil toneladas de tomate em 2012, também vai aumentar a área de cultivo de 2,3 mil hectares para 2,8 mil hectares.

A Embrapa Hortaliça, em Gama (DF), assumiu o desafio de suprir as demandas do setor e tem investido no desenvolvimento de novas variedades da fruta. Para Flávia Clemente, supervisora da área de transferência de tecnologia da unidade, a meta é melhorar a qualidade da polpa do tomate brasileiro. “Há uma alta incidência de pragas e doenças, pela nossa condição climática de país tropical”, diz Flávia. “Isso interfere na maturação da planta e na qualidade do fruto.” O Brasil está longe de competir com o tomate produzido na Itália, por exemplo, país com um sistema de manejo cuidadoso, ou com o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que detém a maior produção mundial, de 11,4 milhões de toneladas na última safra.

Boa parte do tomate industrial cultivado no Brasil tem tecnologia trazida por multinacionais. A H. J. Heinz, de Pitts burgh, nos Estados Unidos, é uma delas. A marca detém perto de 70% dos híbridos plantados no Brasil. Mas Flávia acredita que esse cenário pode mudar. A Embrapa está realizando as últimas análises de um híbrido de tomate industrial chamado BRS Sena. “Essa variedade vai abrir portas para que as empresas do setor privado invistam em tecnologia para híbridos brasileiros”, diz Flávia. O fruto da Embrapa será testado em 300 hectares ainda neste ano. A previsão é de que a variedade seja lançada ao mercado para a safra de 2014.