A TODO VAPOR: obras do eixo leste já foram iniciadas no Estado de Pernambuco

Depois de muita polêmica, tiveram início as obras de transposição do rio São Francisco. Orçado em R$ 4,5 bilhões, o projeto é visto pelo governo federal como a saída para a crise de abastecimento hídrico do Nordeste Setentrional, que engloba os Estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, parte de Pernambuco (agreste e sertão) e parte de Alagoas. O objetivo é assegurar a oferta de água para cerca de 12 milhões de pessoas em 2025. Para isso, o governo irá integrar o rio São Francisco às bacias de rios temporários do Semi-Árido. Como? Com a retirada de 26,4 metros cúbicos de água do rio São Francisco no local da vazão da barragem de Sobradinho. Este montante equivale a 1,4% da vazão e se destinará ao consumo da população urbana de 390 municípios. Em períodos de chuva, a quantidade de água que pode ser retirada sobe para 127 metros cúbicos “Além de garantir água para o consumo humano e dessedentação animal, o projeto garantirá a sobrevivência da agricultura familiar, já que oferece segurança hídrica, o que assegura investimentos de micros, médios e grandes empresários”, diz Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional.

Ao contrário do que muitos pensam, a retirada de 26,4 metros cúbicos de água não desviará o curso do rio. Apenas uma parte da água será bombeada para as regiões em questão.

R$ 4,5 BILHÕES é o orçamento da transposição do rio São Franscisco

Os eixos de integração leste e oeste – que nada mais são do que canais de terra revestidos internamente por membrana plástica impermeável, com recobrimento de concreto – levarão a água do agreste pernambucano até a Paraíba e para o Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará, respectivamente. No canal do sertão, eixo leste, está previsto o aproveitamento para a irrigação. “Se houver um planejamento adequado, um estudo de quais culturas são mais apropriadas e uma logística eficiente, a região tem tudo para ter uma exploração viável”, diz Maria Auxiliadora Coelho de Lima, chefe de pesquisa da Embrapa Semi-Árido. Segundo a pesquisadora, não há trabalhos dirigidos especificamente a estas áreas de transposição, o que há são estudos para recomendação de culturas alternativas. Motivo: evitar conflitos de mercado como superoferta de um único produto. Entre as sugestões da Embrapa, estão: citros, laranja e limão, em um primeiro momento, e pomelo e tangerina, num segundo; frutas, como caqui, pêra asiática e maçãs; e oleagionosas, como dendê e oliveiras, o que viabilizaria a instalação de um parque industrial.

Por vocação, as culturas tradicionais da região são: uva de mesa e manga, ambas voltadas à exportação; frutas, como goiaba, coco, acerola e atemóia; e ainda culturas de ciclo curto, como melão cebola e melancia. Com a transposição, cogita-se que possa haver um aumento do preço das terras. No entanto, o coronel João Ferreira Filho, assessor da Secretaria de Agricultura do Estado da Paraíba, discorda: “haverá uma valorização do homem, não da terra. As margens do rio serão transformadas em avenidas de reforma agrária e todos serão beneficiados com esse projeto”.

GEDDEL VIEIRA LIMA, ministro da Integração Nacional

DINHEIRO RURAL – Dá para mencionar o impacto da transposição na agricultura do Nordeste?

Geddel Vieira Lima – O impacto é oferecer um modelo de desenvolvimento que se sustenta na garantia de suficiência hídrica.

DR – Quantos agricultores serão beneficiados?

Vieira Lima – Não tenho o número, mas o projeto garantirá a sobrevivência da agricultura familiar.. Com segurança hídrica, você garante investimentos de micros, médios e grandes empresários.

DR – Quais culturas serão contempladas?

Vieira Lima – Nesta fase é cedo dizer, mas as culturas características da região evidentemente serão beneficiadas.

DR – Há previsão de novos projetos agrícolas?

Vieira Lima – Há vários projetos na região. Mas à medida que você garanta segurança hídrica, novos investimentos surgirão.

DR – Quando deve ser finalizada a obra?

Vieira Lima – O eixo leste vai estar pronto até o fim do mandato do presidente Lula. Já o eixo norte queremos entregar em uma fase de tal forma avançada que o próximo governo não tenha como não terminar.