Do Polo Ao Álcool Ricardo Mansur, empresário com passado polêmico e paixão pelo polo, aposta no setor de açúcar e álcool (fotomontagem)

Um forte sol brilhava em Ribeirão Preto no último dia 16 de agosto quando o lendário empresário Ricardo Mansur, ex-dono do banco Crefisul e das lojas Mappin e Mesbla, assistia à missa que marcava o início da colheita da safra de cana na Usina Galo Bravo. Cerca de 300 trabalhadores contratados às pressas para começar o corte manual da cultura assistiam ao renascimento de mais uma usina que sai do buraco. Até um mês atrás, a mesma unidade respondia pelo nome de Cerp, Central Energética de Ribeirão Preto, e pertencia ao usineiro Ademar Balbo, primo do bem-sucedido usineiro Leontino Balbo Jr, dono da marca de açúcar orgânico Native. Durante dez anos, porém, ela esteve arrendada a terceiros, mas não decolou. Com a saúde debilitada e uma montanha de dívidas para pagar, Ademar Balbo decidiu passar o negócio adiante. Com salários atrasados desde novembro do ano passado e sem depositar o fundo de garantia dos funcionários desde maio de 2007, a empresa não havia moído sequer um pé de cana este ano. Segundo fontes de mercado, as negociações incluíram as dívidas e o patrimônio e os valores chegam a R$ 250 milhões. Procurado por DINHEIRO RURAL, Mansur não quis se manifestar. Por meio de um interlocutor deu a seguinte resposta: “Não tenho nada a declarar, escrevam o que quiserem.” Dessa forma, sem entrar em detalhes sobre de onde vieram seus investimentos ou o que pretende na nova vida de usineiro, ele fez a sua estreia como “homem do campo”.

Pelo que se sabe, ao menos por enquanto, há notícias positivas. De acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Preto, a nova diretoria da Galo Bravo chamou a entidade para acertar as pendências e colocar a casa em ordem. A chegada do ex-rei do varejo, porém, é vista com ressalva. Na década de 1970 ele quebrou a fábrica de chapéus Ramenzzoni e, nos anos de 1990, levou à bancarrota as lojas de departamento Mesbla e Mappin, além da quebra do banco Crefisul, num rombo de mais de R$ 400 milhões. “Estamos felizes porque a usina voltou a funcionar, mas temos um certo receio de como será a gestão dos negócios”, explica o diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Preto, Silvio Ribeiro. “Além disso, nos preocupa o fato de ele não ser do ramo”, avalia.

Segundo apurou DINHEIRO RURAL, o novo negócio de Mansur ainda não tem um time completo, seja na parte administrativa, seja no gerenciamento agronômico. Afora os 300 trabalhadores contratados, serão necessárias outras três centenas de homens para colher a safra. Contudo, não há pessoal disponível neste momento e o prazo para colher a cana está perto do fim. “Não será possível colher tudo este ano, mas para 2010 teremos um bom ano”, avalia uma fonte da usina. Ao contrário do que aconteceu com muitas usinas cujos problemas aconteceram por dificuldades de mercado, a Galo Bravo vem recebendo investimento nos últimos anos e é considerada uma das plantas mais modernas do Estado. No entanto, de acordo com funcionários da usina, problemas com outras empresas dos antigos controladores minaram os lucros do negócio rural, arrastando todos para tempos de dificuldades.

Mesmo com a nova injeção de dinheiro, a Galo Bravo não dará lucro no primeiro momento. Há várias liminares obtidas por credores para o confisco de açúcar e álcool. “Os representantes da Cerp venderam antecipadamente, receberam o dinheiro e não pagaram os credores, o que os levou a obter liminares na Justiça”, disse Carlos Chiappa, advogado de um grupo de credores. Até o fechamento desta reportagem, segundo ele, os credores por ele representados não foram procurados para negociações. Só a dívida com credores de produtos que a usina recebeu antecipadamente, varia de R$ 70 milhões a R$ 80 milhões, de acordo com administradores da usina.

Um Empresário de altos e baixos

Disputa judicial com banco chega a R$ 40 bilhões

Conhecido como ex-rei do varejo, Ricardo Mansur é lembrado pelas polêmicas em que se envolveu, principalmente na década de 1990. Segundo declarações recentes, o empresário espera em silêncio o desfecho de uma história de números astronômicos. Em síntese, ele culpa o Banco Bradesco por sua ruína financeira e, por isso, pede uma indenização de mais de R$ 40 bilhões em nome das redes de varejo Mappin e Mesbla. Para sua pessoa física, pelos danos sofridos, pede pouco mais de R$ 2 bilhões. Tanto Mansur quanto o Bradesco receberam uma condenação por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pelo lançamento de pouco mais de R$ 400 milhões em debêntures, que, segundo a CVM, aconteceu de forma irregular.

No entanto, ambas as partes estão com recursos em andamento. A saída de cena de Mansur dos negócios coincidiu com uma série de perdas para o empresário, que teve imóveis penhorados e vendidos pela Justiça. Contudo, segundo fontes de mercado, ele ainda possui recursos suficientes para dar fôlego ao seu novo negócio rural.