Quase dez anos depois do pedido, finalmente a comercialização do milho transgênico Liberty Link, desenvolvido pela Bayer CropScience, foi autorizada. O milho, que já está obsoleto no mercado internacional de organismos geneticamente modificados, foi a primeira liberação feita pela Comissão Técnica de Biossegurança (CTNBio) desde a aprovação da Lei de Biossegurança, em 2005. A decisão foi apenas a primeira das fases pelas quais o Liberty Link ainda terá de passar até chegar aos agricultores. A última, no entanto, depende da aprovação da Comissão Nacional de Biotecnologia, chefiada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas a liberação da CTNBio já começou a movimentar o mercado.

Até que a liberação seja ratificada, a Bayer guarda segredo sobre planos e estratégias comerciais para o Liberty Link. “A Bayer CropScience está satisfeita com a decisão, que foi baseada em dados científicos apresentados à CTNBio. Sobre as questões de negócios, precisamos aguardar todas as aprovações para desenvolver um plano para o produto no Brasil”, diz o documento com a posição oficial da empresa. Para o agrônomo Ivo Marcos Carraro, diretor-executivo da Coodetec (Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola), o fato de o Liberty Link ser o primeiro milho transgênico aprovado no Brasil terá bastante impacto. Mas isso não quer dizer que os agricultores vão aderir apenas pela promessa de diminuir os custos da lavoura. “O produtor vai avaliar o custo-benefício, a flexibilidade do manejo, se ele vai ter economia de custo real”, diz Carraro. Tampouco o apelo de ser transgênico deve ser suficiente. Segundo o agrônomo, em meio a várias opções de híbridos, o que importa é a qualidade. O apelo tecnológico já existe para que os agricultores experimentem o transgênico e avaliem se vale a pena adotá-lo na lavoura. “Agora será preciso que este milho se consolide no mercado, garantindo qualidade ao agricultor”, diz Carraro. Outro aspecto que deve influenciar as vendas do Liberty Link é a necessidade de cada produtor. O milho da Bayer é geneticamente modificado para expressar uma proteína que o torna resistente ao herbicida glufosinato de amônio, utilizado para matar ervas daninhas. O controle de plantas indesejáveis é geral na cultura do milho e independe de região, mas sua intensidade varia.

“Se o agricultor puder fazer o controle com aquilo que ele já usa, talvez experimente o Liberty Link no máximo por curiosidade”, opina Carraro.

Ainda que o Liberty Link tenha potencial para diminuir custos e melhorar a lavoura, o sucesso de sua entrada no mercado dependerá de uma eficaz estratégia comercial. “O produto passou por rigorosos testes, mas tudo vai depender de como a Bayer irá lançá-lo e comercializá-lo”, diz Carraro.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Milho (Abimilho), César Borges, considerou a decisão da CTNBio como um sinal de que existe lei no Brasil. “É muito importante que o País tenha um comportamento diferente do que houve com a soja, quando houve contrabando de sementes e pragas antes de haver a liberação”, diz. Para ele, o produtor de milho só tem a ganhar com a transparência das regras para os transgênicos. Resta saber agora quanto tempo a ministra Dilma levará para dar o desfecho final dessa novela.