Maior consumidor mundial de petróleo, os Estados Unidos já buscam há vários anos um combustível ecologicamente correto que possa abastecer sua imensa frota de automóveis e caminhões. De um lado, existem as pesquisas com hidrogênio. Em paralelo, desenvolve-se o mercado de etanol produzido a partir do milho. No primeiro caso, a tecnologia ainda não atingiu a sua maturidade. No segundo, o que se obtém é apenas um complemento ao petróleo. Agora, no entanto, os cientistas norte-americanos podem estar próximos de uma solução muito mais promissora. Trata-se do ‘cellulosic ethanol’, ou álcool de celulose.

Daqui a 25 anos, a grande maioria dos automóveis será movida por combustíveis limpos, profetiza Vinod Khosla

Feito a partir de uma planta chamada switchgrass, uma gramínea de crescimento rápido comum nas grandes planícies dos Estados Unidos, este novo combustível é muito mais eficiente que o álcool de milho atualmente utilizado como alternativa à gasolina. Além de um estoque abundante de matéria-prima, álcool de celulose ainda pode gerar até 30% mais energia se comparado ao concorrente, além de ser mais barato de se produzir.

É uma das melhores relações custobenefício que se tem notícia, uma vez que a gramínea gera 80% a mais de energia do que a utilizada para seu plantio e conversão em combustível. Um ótimo negócio, ainda mais se levarmos em consideração que a switchgrass não tem qualquer utilidade atualmente, diferentemente do milho, que é uma dos principais componentes da alimentação humana e animal do mundo e cujo preço foi inflacionado em quase 100% no último ano por causa de sua utilização em larga escala na fabricação do etanol.

Além disso, seria impossível abastecer os Estados Unidos apenas com o álcool de milho. Os norteamericanos consomem nada menos que 132 bilhões de litros de gasolina por ano, mas querem substituir, até 2017, ao menos 20% deste montante por etanol. Com o milho seria totalmente inviável, mas com a switchgrass, não. De acordo com o Departamento de Agricultura e Energia dos Estados Unidos, é possível cultivar de forma organizada mais de um bilhão de toneladas de planta sem o uso de qualquer tipo de agrotóxico.

Com as reservas mundiais de petróleo próximas do fim, os investimentos para o aperfeiçoamento da nova tecnologia já começaram. E não são nada modestos. Só a gigante petrolífera BP já doou mais de US$ 500 milhões às Universidades de Illinois e Berkley para pesquisas com combustíveis alternativos. O governo norte-americano também já destinou US$ 385 milhões para outras instituições, além de outros US$ 125 milhões aos centros de bioenergia espalhados pelo País.

Outro que também entrou de cabeça no negócio foi o mega-investidor indiano Vinod Khosla. Fundador da Sun Microsystems, Khosla hoje se dedica a angariar fundos para o desenvolvimento dos biocombustíveis, principalmente o etanol. Através da Khosla Ventures, o investidor já anunciou que deve injetar alguns milhões de dólares no projeto, certo de que investimento é garantido. De acordo com Khosla, em 25 anos a grande maioria dos automóveis será movida por combustíveis limpos.

No entanto, mesmo com todos estes recursos à disposição, ainda não foi possível produzir energia a partir da switchgrass a um preço competitivo, e por isso ainda não existem carros circulando com o novo combustível. Mas, segundo os especialistas, isso é apenas questão de tempo.

A SOLUÇÃO PARA A ÁFRICA

Se, nos Estados Unidos, a bola da vez em termos de biocombustíveis é a switchgrass, na África as apostas são todas na jatropha, uma planta venenosa disseminada mundo afora pelos navegantes portugueses no século XVI. Além de se adaptarem perfeitamente ao clima africano, as sementes da jatropha geram mais de 40% de seu peso em óleo, contra 18% da soja, por exemplo. Confiante na nova tecnologia, a BP já investiu mais de US$ 160 milhões para se tornar a maior produtora de óleo de jatropha do mundo até 2011. Para isso, a empresa espera ter aproximadamente 1,2 milhão de hectares plantados nos próximos quatro anos, suficientes para produzir 2 milhões de toneladas de biodiesel, ou 18% da demanda européia. A produção do biodiesel a partir da jatropha já começou, mas ainda corresponde a menos de 1% da produção mundial de biodiesel, o que deve mudar em breve. Na Índia já existe uma área de mais de 100 mil hectares cultivados.