Marcos Vaz: descobrir novas moléculas na floresta está nos planos da empresa

O ano era 1998 quando a Natura, uma das maiores empresas de cosméticos do País, tomou uma decisão arriscada: toda a estrutura de sua linha passaria a ter na floresta amazônica o seu principal apelo. A ideia era transferir para os produtos um pouco do apelo e da mística que envolve a maior área preservada do planeta, seus odores e nomes exóticos.

Mais de dez anos depois, a marca se tornou referência justamente pelo seu apelo ecológico e para manter a sua oferta de matéria prima, teve de iniciar um novo ciclo de relacionamento com os povos amazônicos, principalmente os extrativistas de amêndoas, raízes e sementes. “Isso aconteceu quase que por instinto porque não sabíamos que esse apelo ambiental ganharia tamanha importância”, explica Marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da Natura.

O fato é que a linha se tornou o principal ativo da companhia e até por isso se tornou necessário investir nas comunidades extrativistas. “Adotamos como filosofia que a natureza é o nosso maior patrimônio, logo temos que lutar para que ele seja mantido”, diz.

Em 2009, foram distribuídos R$ 4,9 milhões a 23 comunidades. Marcio Silva Ramos é presidente da Cooperativa Mista dos Agricultores Entre os Rios Caeté e Gurupí (Coomar) , que congrega produtores da região de Santa Luzia do Pará, a 150 km de BelémO principal produto fornecido à Natura é uma semente chamada murumuru, cujo princípio ativo produz uma espuma diferenciada nos sabonetes. “No nosso caso, somos 74 cooperados com 50 hecateres cada”, diz o produtor.

R$ 4,9 milhões é o valor que a empresa destina a 23 comunidades amazônicas

Ramos explica que até 2008, o murumuru era considerado uma praga e muitos extrativistas chegava a cortar suas árvores, espécies de palmeiras chamadas Tucumã e Inajá . “Recebemos cerca de R$ 2,53 por quilo”, diz. No ano passado, foram comercializadas cinco toneladas e a tendência, de acordo com cooperado é que o volume aumente significativamente. “Podemos até dobrar”, afirma.

O princípio da parceria está fundamentado nas boas práticas agrícolas, que nada mais são do que um conjunto de regras de manejo que garantem uma produção sustentável. Entre as “regras” existentes há a obrigatoriedade de se deixar uma quantidade de sementes no chão para garantir que as espécies continuarão se desenvolvendo, além de um controle rigoroso sobre as época de colheta. Para o futuro, a empresa aposta na descoberta de novas moléculas que podem gerar produtos diferenciados. “A Amazônia é uma fonte ilimitada de recursos e vamos descobrir onde estão as novidades”, explica Vaz.

Segundo o diretor, a sabedoria popular que é uma das fontes de pesquisa sobre possíveis utilidade de plantas ainda não usadas. “Fazemos os testes em laboratório, que é uma longa pesquisa para confirmar as propriedades e a segurança dos princípios e só depois uma nova linha começa a ser desenvolvida”, diz. Para Ramos, da Coomar explorar a floresta de uma forma sustentável é a melhor forma de se levar a vida. “Cuidamos do mundo e ainda tiramos o nosso sustento com dignidade”, diz.