Enquanto modelos de sustentabilidade ambiental são discutidos em todo o mundo, como ocorreu no mês passado em Paris, na 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-21), o Brasil segue como referência em energia renovável, com o cultivo da cana-de-açúcar. Na safra 2014/2015, o processamento de 634,7 milhões de toneladas de cana renderam 29 bilhões de litros de etanol e 37,6 milhões de toneladas de açúcar, os dois principais produtos dessa cadeia. Mas, os últimos anos, cada vez mais, o resíduo da produção tem valido ouro. Nesta safra, o bagaço e a palha, que em outros tempos eram descartados, foram transformados em bieletricidade, resultando na produção de 32,3 mil gigawatts-hora, que seria suficiente para abastecer o estado inteiro de São Paulo por cerca de três meses. Deste total, 13,2 mil gigawatts-hora foram utilizados pelas próprias usinas para suprir suas necessidades e 19,1mil gigawatts-hora abasteceram as redes de energia elétrica, o que responde por de 5,2% da matriz energética brasileira, de acordo com o Ministério de Minas e Energia. Mas, nem todas as usinas de cana-de-açúcar estão aparelhadas para a tarefa. Hoje, das 354 unidades em operação, 127 geram bioeletricidade para a rede nacional. Entre elas está o grupo Vale do Verdão, proprietário de três usinas em Goiás, que, em 2014, faturou R$ 333,5 milhões.

O grupo começou a produzir bioeletricidade no ano passado, na unidade de Itumbiara. A usina transferiu à rede elétrica 0,007 gigawatts-hora de potência líquida, de sua atual capacidade de 0,02 gigawatts-hora “A energia produzida através dos subprodutos da cana são essenciais para a nossa matriz energética”, diz Elizabeth Farina, presidente União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “Além disso, contribuem para a sustentabilidade ambiental, com qualidades reconhecidas internacionalmente.” Vencedora do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL, no setor AÇÚCAR E BIOCOMBUSTÍVEIS, a Vale do Verdão está ao lado de empresas como a Cerradinho Bioenergia, do empresário Luciano Sanches Fernandes, e a Raízen, joint venture entre as gigantescas Cosan e Shell. No caso da Cerradinho, que, em 2014, faturou R$ 526,3 milhões, saíram de sua unidade termoelétrica de Chapadão do Céu (GO) 199 gigawatts-hora de bioeletricidade. Da Raízen, dona de 24 usinas e uma receita de R$ 9,7 bilhões, foram 2,2 mil gigawatts-hora. A bioeletricidade da Raízen, por exemplo, seria suficiente para suprir a demanda anual de um município de três milhões de habitantes.

Para o diretor da consultoria Datagro, Plínio Nastari, o setor da cana-de-açúcar tem reconhecido a importância da contribuição da bioeletricidade na matriz energética brasileira e o seu potencial de expansão. A produção de bioletricidade neste ano cresceu 5%, na comparação com 2014. De acordo com a Unica, até 2020, o País poderia avançar ainda mais e cogerar 15,3 gigawatts-hora médios, o equivalente a três usinas hidrelétricas como a de Belo Monte, no Pará. “Do ponto de vista macroeconômico, é muito importante para o Brasil que as grandes companhias invistam na produção de bioeletricidade, cada vez mais”, diz Nastari.  “Muitas usinas têm a grande vantagem de estarem próximas aos centros de cargas, onde há maior consumo. Se o governo investir nas linhas de transmissão, o setor deslancha.”