SOJA: agricultores brasileiros punidos pelos Estados Unidos

A recessão americana virá, apenas não podemos prever quando e como será e quanto afetará o mundo, já que muitos preferirão ajudar os Estados Unidos para que suas perdas sejam minimizadas. O dólar americano, desde a era do presidente Nixon, em 1970, quando o mesmo deixou de cumprir o acordo de somente emitir papel-moeda com igual valor em reserva de ouro, começou a sua derrocada.Esse presidente desvinculou o dólar do ouro, já que sua demanda por produtos externos era grande diante do consumo interno de mercadorias.

O mundo todo sabia disso, mas o grande consumo americano e sua voracidade por comprar muito continuaram gerando demanda e conseqüentemente crescimento na economia americana para segurança do mundo. Agora com a crise imobiliária, os bancos foram obrigados a nos mostrar sua fragilidade e seus prejuízos, gerando incerteza mundial e uma queda na moeda americana nunca antes vista em relação ao euro e até ao real. O que isso tem a ver com o nosso agronegócio e nossa próxima safra agrícola que nos promete recordes de produtividade? Tem a ver com quantos reais o agricultor brasileiro vai receber, já que a taxa do dólar fechou na semana passada a níveis bem baixos. Sorte nossa que o preço em Chicago não parou de crescer, o que de certa forma recompôs as margens perdidas pela desvalorização do dólar ante a moeda brasileira.

Não é justo que o pequeno ou o grande produtor de soja, localizado nos confins do Brasil, trabalhando de 14 até 16 horas diárias para garantir seu negócio, que já passou recentemente por maus bocados, venha a pagar o valor da inadimplência do jovem bem-nascido, estudado em ótimas escolas americanas, que não conseguiu pagar em dia a prestação de sua confortável casa (aliás, três vezes mais alta que o valor que ele poderia arcar com o seu salário). Também não é justo que nosso agricultor receba menos dinheiro por seu produto vendido porque alguém decidiu, através de mecanismo de proteção ou de contas adversas a sua compreensão, determinar a nossa taxa de dólar para conversão em reais de seu produto vendido, já que todos os gastos seus de custeio foram fechados em reais, moeda nossa brasileira.

Como diz o ditado popular, “a corda corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Por isso lembro aos nossos agricultores que o mundo enfrenta uma grande crise nos estoques de grão. Necessita dessa e das próximas safras brasileiras para aplacar a fome de crescimento dos países ricos e dos em desenvolvimento e também para mover suas máquinas a um custo ambiental mais saudável, menos poluente e com menos exigência dos combustíveis fósseis. A corda, pois, dessa vez não está do nosso lado, e sim dos países que possuem mais dinheiro do que nós e que precisam alimentar suas populações e seus carros poderosos.

“Não é justo que nosso agricultor receba menos dinheiro por produto vendido”

Para 2008 prevê-se um dólar fraco, ainda em queda, mas um mundo ávido por alimentos, para novos mercados que estão se abrindo, por melhores condições de vida, como exemplo o Mercado Asiático, ou simplesmente por novas bocas que nascerão. O equilíbro e a sustentabilidade deverão permanecer sempre entre todos os habitantes do planeta e não devemos nos comportar como donos da comida do mundo, mas sim planilharmos nossos custos com bastante afinco e sermos remunerados de acordo com os critérios mundiais de negócios.

O Brasil está bem e nosso agronegócio vai muito bem também. Deveremos permanecer assim pelos próximos anos se soubermos tomar as medidas corretas e não incorrermos em situações e chavões conhecidos, que somos o celeiro do mundo, que somos os melhores, etc., pois em um mundo globalizado a ameaça a nossa eficiência é constante.

ELIZABETH CHAGAS é diretora da EC Consultoria e Assessoria em Comércio Internacional