Desde 2012, o produtor paulista Eduardo Matumoto aposta no cultivo de tomates sweet grape, conhecidos entre os brasileiros como tomatinho uva, um fruto com características híbridas, alongado como  tomate italiano, de sabor adocicado e baixa acidez. Na fazenda Irohy, em Biritiba-Mirim, a cerca de 100 quilômetros de São Paulo, onde cultiva dois hectares arrendados, Matumoto colheu 30 toneladas do fruto, no ano passado. Neste ano, ele já espera dobrar a produção. As cerca de 60 toneladas esperadas em 2014 serão compradas com exclusividade pelo Grupo NK, que as levará diretamente para uma fábrica, chamada de packing house, em Várzea Paulista (SP), onde o fruto é selecionado, beneficiado, embalado e depois segue para a distribuição. O Grupo NK é uma empresa varejista de hortifrúti, dono da rede de supermercados Saúde, que faturou R$ 150 milhões em 2013. Para abastecer suas sete lojas no Estado e ainda atender outros clientes, como as redes de supermercados St Marche e Zaffari, o grupo paulista também mantém contratos com outros 17 produtores de sweet grape, em São Paulo e Minas Gerais. Juntos, eles apostam numa relação ganha-ganha, em que não falta produto nem comprador. 

A proposta de organização dessa cadeia bem articulada é da Sakata Seed Sudamérica, braço da multinacional japonesa Sakata, produtora de sementes de flores e hortaliças, dona de receitas de US$ 500 milhões no ano passado. Instalada em Bragança Paulista (SP), foi a Sakata quem criou o Sistema Integrado de Produção e Comercialização de Frutas, Legumes e Verduras, em 2009, com o objetivo de promover uma melhoria global dos processos produtivos, com uma padronização da produção e da distribuição. “A ideia é fazer com que o produto chegue ao consumidor final com o sabor e a qualidade que foram idealizados por nós”, diz Marcio Jampani, coordenador de novos negócios da Sakata. “E com uma produção sustentável, prezando pela segurança alimentar.” Para Marcello Takagui, diretor de vendas da empresa, uma das vantagens é a especialização de cada elo da cadeia. “O agricultor deve ficar focado na produção”, diz. “Quando ele tem de sair da propriedade para comercializar o produto, é aí que ele se perde.” Pelo sistema, o agricultor conta com a assistência técnica da multinacional, que lhe oferece o planejamento da produção e a garantia de venda do fruto. Em contrapartida, a Sakata recebe uma taxa de administração correspondente a 2% do valor da produção, para manter o sistema funcionando. “A especialização da cadeia traz vantagens competitivas para todos”, diz Takagui. 

No entanto, segundo Nelson Shoiti Tajiri, presidente da Sakata, a gestão do projeto não é fácil. “No sistema integrado, deve existir muito comprometimento”, afirma. De acordo com ele, os participantes precisam respeitar os contratos, atuar de forma disciplinada e com dedicação, independentemente das condições do mercado. “A parte mais difícil é cumprir aquilo que se promete”, diz Tajiri. “Cada elo da cadeia tem de dar o seu melhor, sempre pensando no coletivo.” 

Atualmente, a rede liderada pela empresa possui um total de 11 integradores e 49 integrados. Por enquanto, o projeto trabalha apenas com o tomate sweet grape, uma marca registrada da Sakata, com base na comercialização das sementes SC1023. No ano passado, a iniciativa levou ao mercado 2,5 mil toneladas do tomatinho. Para Jampani, isso é só o começo. O sistema está se consolidando e, em breve, o projeto vai crescer. “Vamos trabalhar com uma variedade de miniabóbora, que estará no sistema até 2015”, diz. “Também estamos desenvolvendo uma linha gourmet, chamada de salad sensation, novas variedades de tomate, pimentão e brócolis.” 

Segundo o produtor Matumoto, o que o atraiu no projeto foi a garantia de assistência técnica. Antes, ele trabalhava no setor da construção civil e, iniciante na agricultura, queria evitar contratempos. “Eu não queria produzir de qualquer jeito e ter de me virar sozinho”, diz. “Minha ideia era fazer uma agricultura mais técnica e com foco na segurança alimentar.” Confiante na proposta da Sakata, ele arrendou os dois hectares da fazenda Irohy e, inicialmente, investiu mais de R$ 220 mil na construção de duas estufas. “O sistema caiu como uma luva para mim.” Neste ano, ele vai implantar uma terceira estufa, que deverá começar a produzir em 2015. Com a assistência técnica contínua, Matumoto conseguiu atingir uma produtividade anual de 20,4 quilos de tomate por metro quadrado, considerada elevada na atividade. A meta, agora, é alcançar 24 quilos por metro quadrado ao ano. Isso será possível porque ele vai realizar ajustes de manejo e no sistema de irrigação das estufas. 

Na outra ponta da cadeia, o integrador também se diz satisfeito com o sistema. “Sempre teremos o produto na gôndola”, afirma Julio Tadeu Aoki, diretor-comercial do Grupo NK. Para Aoki, a maior vantagem é a garantia de fornecimento da matéria-prima. “Não precisamos nos preocupar com a produção nem ficamos à mercê do mercado”, diz. “É muito importante porque não temos uma grande oscilação de preços, e isso é vantajoso para o consumidor.” Para garantir a padronização dos processos, cada lote de tomates é avaliado pela NK nos quesitos uniformidade, firmeza do fruto, cor, tamanho e grau brix, que mede a doçura do alimento. Os tomates de Matumoto, por exemplo, são considerados de excelente qualidade e ele recebeu do integrador o título “diamante”, categoria que representa uma nota entre 9 e 10. 

Enquanto o preço mínimo pago ao produtor do sistema integrado é de R$ 4,76 por quilo, Matumoto recebe uma bonificação e embolsa R$ 5,50 pelo quilo de seu produto. “O sweet grape é viável e vantajoso, mas requer um investimento alto”, diz o produtor nota 10.