A Austrália já é uma das regiões mais secas do planeta, mas a situação vem se agravando ano após ano. Muitos culpam o aquecimento global pelo problema, mas o fato é que a situação está realmente preocupante, principalmente para os produtores rurais, que dependem das chuvas para sobreviver. Sem chuvas, sem grãos. Sem grãos, sem dinheiro. Este é o drama vivido pelos agricultores, que se vêem num beco sem saída. Muitos já quebraram. Outros estão à beira do precipício. Literalmente.

Nos últimos anos, quando a situação climática começou a atormentar a vida dos produtores, o índice de suicídios nas zonas rurais explodiu. Hoje, este número já é 20% maior que nas cidades. O governo australiano não fornece números, mas a situação é mais do que preocupante. Os que não sucumbiram ainda mantêm as esperanças, mas a cada dia a situação fica mais complicada. Para se ter uma idéia do problema, os cerca de dois mil rizicultores australianos costumavam colher mais de 1,2 milhão de toneladas por safra. Neste ano, mal conseguiram chegar à marca de 18 mil toneladas, pior desempenho desde 1927.

“A frustração é um sentimento comum a todos”, afirma Les Gordon, presidente da Associação Australiana dos Produtores de Arroz. “Temos certeza de que somos ótimos produtores, mas neste momento a falta de chuva não nos deixa produzir absolutamente nada”, continua.

A situação preocupa até quem não tira seu sustento do campo. Isso porque o país deve deixar de ganhar grande parte dos US$ 30 bilhões gerados anualmente pelo agronegócio. A falta de chuvas na Austrália também vem contribuindo para a alta dos preços dos alimentos. O arroz, por exemplo, já dobrou de preço nos últimos dois anos. O milho também passa por situação parecida, o que está afetando diretamente as reservas mundiais do grão.

DRAMA: produtores observam animal penalizado pela seca, sem perspectiva de melhora

Para agravar ainda mais o problema, um estudo recente realizado pela Australia’s Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization afirma que as temperaturas devem aumentar em média seis graus nos próximos 60 anos, ampliando a evaporação e a escassez de água. Mesmo que o clima volte ao normal – um cenário extremamente otimista –, os produtores ainda vão depender da irrigação artificial, já usada em mais de 70% das propriedades australianas. A próxima safra, que deveria ser plantada na última primavera, já está perdida. Sinal de mais problemas. Nas fazendas, o que mais se vê são pilhas e mais pilhas de areia. Por onde andam, os tratores levantam nuvens de poeira. A esperança de salvação da lavoura, de acordo com os produtores australianos, responde pelo nome de La Niña. O fenômeno, em curso este ano, pode trazer grandes chuvas no início do próximo inverno e é tido por todos como a única chance de sobrevivência. “Não precisa nem chover muito. Um pouco de água já será suficiente para voltar a produzir. Estamos acostumados à esta situação adversa”, completa Les Gordon, confiante em retomar os negócios a partir da safra 2008-09. Agora, só falta São Pedro colaborar.