O capitalismo, que revolucionou a produtividade e proporcionou o desenvolvimento econômico, também trouxe desigualdade social e desemprego. O imediatismo típico do ser humano e a busca frenética da sociedade atual por bem-estar representaram uma crescente agressão ao meio ambiente. O aumento de 40% na produção de alimentos desde o pós-guerra consumiu recursos naturais em grande escala e
levou centenas de milhares de pessoas ao flagelo da fome.

Os governos, por sua vez, têm poder e capacidade para promover a mais adequada distribuição da renda, mas optaram por gerar resultados fiscais por meio da deterioração dos serviços essenciais e da falta de investimento em infraestrutura. Essa “política” coloca em dúvida o sucesso da tão almejada economia verde e da produção de alimentos no mundo. 

É essencial um sistema de produção mais eficiente que encare o desafio de praticar a integração e implementação do desenvolvimento econômico, social e ambiental. Além disso, seu protagonismo deve prevalecer em meio ao cenário contemporâneo, ameaçado por calotes, recessão, desemprego, disputas geopolíticas, desigualdade social e pela ideologia da bio(a)diversidade. 

O fato é que em pleno século 21 prevalece a coexistência da desnutrição e da obesidade, fenômeno paradoxal capaz de sustentar a tese de um mundo contemporâneo que “come mal”. Os famintos comem de menos, obesos comem demais e o que sobra é desperdiçado. Tragédia ou ironia, a conclusão é que ninguém come bem. Dados recentes dão conta de que a fome global alcançou 900 milhões de pessoas, sendo 97% os habitantes dos países em desenvolvimento. Na África, o número tem aumentado consistentemente e, desde 2006, somaram-se outros três milhões de famintos nos países desenvolvidos.

O raciocínio permite aos elos integrantes da cadeia de produção agropecuária concluir que a fome é, de fato, um fenômeno político. Por isso, esses empreendedores encaram o grande desafio de aumentar a produtividade utilizando menos água, terra e insumos. O objetivo é permitir o ingresso de milhões de pessoas à faixa de consumo, respondendo às indagações da sociedade urbana acerca de origem, produção, composição e custo dos alimentos e das interferências deles com a natureza. 

A alimentação humana, completa e equilibrada, depende também da qualidade sanitária e do conteúdo nutricional. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e as organizações mundiais de saúde humana e animal concordam em um ponto: é a quantidade e a qualidade dos alimentos que têm sustentado o consumidor das grandes cidades. Esse suprimento tem sido garantido graças aos ganhos de produtividade na agricultura e na pecuária, pela mobilização dos organismos aperfeiçoados geneticamente e pelo emprego de agentes melhoradores de desempenho zootécnico, entre outras ferramentas tecnológicas de vanguarda.

O binômio “food security” (suprimento) e “safety food” (nutrição e inocuidade) exige sintonia fina dos agentes reguladores que formulam as políticas públicas e dos empreendedores privados que dinamizam as cadeias produtivas. É justo reconhecer que nos últimos anos os setores público e privado têm se esforçado na simplificação e no cumprimento dos processos. Os gestores da cadeia produtiva vêm tomando mais responsabilidade para si, comprovando a eficácia e a segurança de produtos e processos, enquanto os agentes reguladores vêm focando mais na supervisão e no atestado de sua viabilidade. Portanto, fica à sociedade o desafio de responder se será possível atingir os objetivos do milênio e reduzir substancialmente o número de famintos. A capacidade e a velocidade de implementação da tecnologia e da inovação é que vão ditar esse ritmo.