Quem produz soja não precisa mais desembolsar milhões de dólares para ir às compras. Atualmente, o grão serve de moeda de troca até para comprar um avião no Brasil. Esse tipo de transação, inédito no País, está sendo proposto pela Algar Aviation, uma divisão do Grupo Algar, com sede em Uberlândia, Minas Gerais, que faturou no ano passado R$ 3,7 bilhões com o agronegócio, aviação, turismo, telecomunicações e segurança. A soja pode ser usada como moeda no pagamento de uma das aeronaves da fabricante francesa Daher-Socata, no caso o modelo TBM 850, que atualmente custa US$ 3,9 milhões. “A melhor moeda para o agricultor é aquilo que ele produz”, diz o presidente da holding, Luiz Alexandre Garcia. “Por isso, decidimos simplificar o comércio de aeronaves para torná-las acessíveis ao produtor.” Com a cotação do grão na Bolsa de Chicago a US$ 25 a saca de 60 quilos, em meados do mês passado, o pagamento à vista do modelo oferecido pela Algar seria equivalente a 156 mil sacas.

Segundo Garcia, a ideia de trocar soja por avião nasceu no início deste ano. Entre o plano e a ação foram necessários apenas alguns meses. Em agosto, a empresa fez o primeiro contrato que funcionou como um projeto piloto. Com a novidade, a Algar Aviation, que faturou R$ 50 milhões no ano passado, espera quadruplicar suas receitas em 2018.

O modelo de venda de aeronaves vem atender a uma demanda crescente de mercado. “O avião particular deixou de ser um artigo de luxo e cada vez mais é visto como um instrumento de trabalho para fazer deslocamentos entre uma fazenda e outra”, diz Garcia. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), órgão que regula e fiscaliza a aviação executiva no País, mostram que nos últimos cinco anos o mercado formado por jatos, helicópteros e turboélices de uso particular vem crescendo a taxas superiores à do Produto Interno Bruto do País, entre 3,5% e 8% ao ano. A frota que era de 7,2 mil aeronaves, em 2009, passou a 9,3 mil em setembro deste ano.

Não é por acaso que outras empresas estão de olho nesse nicho. Na TAM Aviação Executiva, uma das líderes de mercado, o público rural já responde por cerca de 20% das compras. No ano passado, a empresa vendeu oito aeronaves a clientes do agro, de um total de 50 unidades comercializadas por US$ 230 milhões. Segundo a TAM, um dos modelos preferidos no campo é o monomotor turboélice Grand Caravan, capaz de pousar em pista de terra. O da Algar, também um monomotor turboélice, pode fazer o mesmo. Para o diretor-superintendente da Algar Aviation, Paulo César Olenscki, é essa a característica que mais atrai o produtor. “A aeronave pode pousar em pista curta e não pavimentada e esse é o perfil ideal para o agronegócio”, diz Olenscki. Além disso, a aeronave da Daher-Socata é uma das mais rápidas do mundo em sua categoria, podendo atingir quase 600 quilômetros por hora e até 11 mil metros de altitude, a mesma dos voos de cruzeiro das aeronaves das companhias aéreas comerciais.

Para facilitar a vida do produtor rural, as duas divisões da Algar, a agro e a aviação, vão trabalhar em sintonia para que o produtor possa parcelar a compra em até três anos. A cada safra, o valor residual é convertido em sacas de acordo com a cotação internacional da oleaginosa. Segundo o consultor de negócios Luciano Cruz, da Algar, a troca é vantajosa. “A compra de um avião é um investimento alto e o produtor rural não gosta de se sentir descapitalizado”, afirma Cruz. “Por isso, vamos dar a ele total liberdade para quitar a dívida como preferir.” No caso, o produtor pode escolher a data da cotação mais favorável para entregar a soja. O grão recebido como pagamento será destinado às operações da divisão agro da Algar. O grupo atua, da originação até a produção de óleo e farelo de soja, nos Estados de Minas Gerais e Maranhão, além da exportação do grão bruto.